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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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espírito, em geral, é o espírito de um morto, este espírito deve ter sido a alma de uma pessoa viva. Isto<br />

acontece sobretudo onde prevalece a crença de que o homem nó possui uma alma. Mas esta crença não é<br />

universal, e freqüentemente se pensa que o indivíduo tem duas ou mais almas, uma <strong>da</strong>s quais sobrevive à<br />

morte e goza de relativa imortali<strong>da</strong>de. Neste caso, o espírito do morto é apenas uma <strong>da</strong>s várias almas que<br />

o indivíduo tinha quando em vi<strong>da</strong>. É, portanto, apenas uma parte <strong>da</strong> alma total, por assim dizer apenas um<br />

fragmento psíquico.<br />

[578] A crença nas almas é, por conseguinte, uma premissa necessária <strong>da</strong> crença nos espíritos,<br />

quando se trata <strong>da</strong> crença nos espíritos dos mortos. Mas o primitivo não acredita apenas nos espíritos dos<br />

mortos. Para ele, existem também demônios elementares que nunca foram almas humanas ou partes<br />

dessas almas. Este grupo de espíritos teria, portanto, uma origem diferente.<br />

[579] Antes de analisarmos mais detalha<strong>da</strong>mente os fun<strong>da</strong>mentos psicológicos <strong>da</strong> crença nas<br />

almas, eu gostaria de recor<strong>da</strong>r brevemente os fatos acima mencionados. Destaquei particularmente três<br />

fontes que constituem, por assim dizer, a ver<strong>da</strong>deira base <strong>da</strong> crença nos espíritos: a aparição de espíritos,<br />

os sonhos e os distúrbios patológicos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> psíquica. O exemplo mais comum e mais normal é o sonho,<br />

e sua grande importância para a psicologia do primitivo é amplamente reconheci<strong>da</strong>. Afinal, em que<br />

consiste o sonho?<br />

[580] O sonho é um produto psíquico, que surge, sem motivação consciente, no estado hípnico.<br />

Mas a consciência não se apaga inteiramente durante o sono; uma pequena parcela <strong>da</strong> mesma fica ativa.<br />

Assim, na maioria dos sonhos a pessoa ain<strong>da</strong> conserva uma consciência relativa de seu eu, embora seja<br />

um eu muito limitado e estranhamente modificado, conhecido como eu onírico. É apenas um fragmento<br />

ou a sombra do eu quando em estado de vigília. Só existe consciência quando há um conteúdo psíquico<br />

associado ao eu. O eu constitui um complexo psíquico soli<strong>da</strong>mente constituído. Como quase nunca há<br />

sono sem sonhos, podemos admitir que a ativi<strong>da</strong>de do complexo do eu raras vezes cessa por completo.<br />

Via de regra, esta ativi<strong>da</strong>de é apenas limita<strong>da</strong> pelo sono. Neste estado, o eu vê os conteúdos psíquicos a<br />

ele associados, como se estivesse, por ex., diante dos fatos <strong>da</strong>s circunstâncias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real. Por isto,<br />

durante o sonho geralmente nos encontramos em situações que não têm nenhuma semelhança com o<br />

estado de vigília, mas se parecem com situações <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real. Da mesma forma como pessoas e coisas<br />

reais entram em nosso campo de visão durante o estado de vigília, assim também as imagens oníricas<br />

entram no campo <strong>da</strong> consciência do eu onírico como uma outra espécie de reali<strong>da</strong>de. Temos a sensação<br />

não de que produzimos os sonhos, mas de que os sonhos vêm até nós. Não dependem de nosso arbítrio,<br />

mas obedecem às suas próprias leis. Constituem, manifestamente, complexos psíquicos autônomos<br />

formados com seus próprios materiais. Não conhecemos as fontes de seus motivos, por isso afirmamos<br />

que os sonhos provêm do inconsciente. Dizendo isto, admitimos a existência de complexos psíquicos<br />

autônomos que escapam ao controle de nossa consciência e surgem e desaparecem segundo suas próprias<br />

leis. Baseados em nossa vi<strong>da</strong> em estado de vigília, acreditamos que somos nós que formamos nossos<br />

próprios pensamentos e dispomos deles sempre que o quisermos. Acreditamos conhecer a sua origem,<br />

bem como a razão e o fim pelos quais os possuímos. To<strong>da</strong>s as vezes que um pensamento se apodera de<br />

nós contra nossa vontade ou desaparece subitamente, independentemente de nossa vontade, sentimos que<br />

nos aconteceu algo de excepcional ou mesmo patológico. Por isto, parece-me que a diferença existente<br />

entre a ativi<strong>da</strong>de no estado de vigília e a ativi<strong>da</strong>de no estado hípnico é muito importante. No estado de<br />

vigília, a psique se acha aparentemente sob o controle <strong>da</strong> vontade consciente, mas no estado hípnico<br />

produzem conteúdos que irrompem, quais seres estranhos e incompreensíveis, na consciência, como se<br />

viessem de um outro mundo.<br />

[581] O mesmo acontece com a visão ou aparição. Esta se assemelha ao sonho, só que ocorre no<br />

estado de vigília. Brota do inconsciente, juntamente com as percepções conscientes, e na<strong>da</strong> mais é do que<br />

uma irrupção momentânea de um conteúdo inconsciente na continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> consciência. O mesmo<br />

fenômeno se verifica nos distúrbios mentais. Aparentemente sem qualquer intermediário, o ouvido escuta<br />

não só os ruídos que lhe chegam do seu meio ambiente, as on<strong>da</strong>s sonoras vin<strong>da</strong>s do interior; mas,<br />

estimulado por eles, escuta também a voz de determinados conteúdos psíquicos que na<strong>da</strong> têm a ver com<br />

os conteúdos imediatos <strong>da</strong> consciência. 190 Além dos julgamentos que o intelecto e o sentimento formulam<br />

com base em premissas defini<strong>da</strong>s, surgem também opiniões e convicções que se impõem ao paciente,<br />

aparentemente oriun<strong>da</strong>s de percepções reais, mas que, na ver<strong>da</strong>de, derivam de fatores internos<br />

inconscientes. São as idéias delirantes.<br />

190 Existem também casos em que as vozes repetem audivelmente os pensamentos conscientes do paciente. Mas estes casos são muito raros.

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