Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste
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"mais ampla", a fim de não <strong>da</strong>r margem ao preconceito de que ela é necessariamente superior em sentido<br />
intelectual ou moral. Há muitos espíritos luminosos e tenebrosos. Por isto deveríamos estar preparados<br />
para aceitar a concepção de que o espírito não é algo de absoluto, mas relativo, que precisa de ser<br />
completado e aperfeiçoado pela vi<strong>da</strong>. São inúmeros os casos de pessoas de tal modo possuí<strong>da</strong>s pelo<br />
espírito, que o indivíduo já não vive, mas somente o seu espírito, e isto de maneira tal, que prejudica sua<br />
vi<strong>da</strong>, em vez de torná-la mais rica e mais plena. Não quero absolutamente dizer com isto que a morte dos<br />
mártires cristãos foram atos de destruição sem objetivo e sem sentido; pelo contrário, tais mortes podem<br />
significar também uma vi<strong>da</strong> mais plena do que qualquer outra; refiro-me, antes, ao espírito de certas<br />
seitas que negam totalmente a vi<strong>da</strong>. Mas o que teria acontecido com o espírito, se ele tivesse exterminado<br />
os homens? Naturalmente, a concepção montanista rigorosa estava de acordo com as exigências morais<br />
mais eleva<strong>da</strong>s <strong>da</strong> época, mas destruía a vi<strong>da</strong>. Por isto, creio que um espírito que esteja de acordo com<br />
nossos mais altos ideais, encontra seus limites na própria vi<strong>da</strong>. Por certo, ele é necessário à vi<strong>da</strong>, porque,<br />
como sabemos muito bem, a pura vi<strong>da</strong> do eu é sumamente inadequa<strong>da</strong> e insatisfatória. Só uma vi<strong>da</strong> vivi<strong>da</strong><br />
dentro de um determinado espírito é digna de ser vivi<strong>da</strong>. É um fato estranho que uma vi<strong>da</strong> vivi<strong>da</strong> apenas<br />
pelo ego em geral é uma vi<strong>da</strong> sombria, não só para a pessoa em si, como para aquelas que a cercam. A<br />
plenitude de vi<strong>da</strong> exige muito mais do que apenas um eu; ela tem necessi<strong>da</strong>de de um espírito, isto é, de<br />
um complexo independente e superior, porque é manifestamente o único que se acha em condições de <strong>da</strong>r<br />
uma expressão vital a to<strong>da</strong>s aquelas virtua-li<strong>da</strong>des psíquicas que estão fora do alcance <strong>da</strong> consciência do<br />
eu.<br />
[646] Da mesma forma que existe uma paixão que almeja a uma vi<strong>da</strong> cega e sem barreiras, existe<br />
também uma paixão que gostaria de sacrificar tudo ao espírito, justamente por causa de sua superiori<strong>da</strong>de<br />
criadora. Esta paixão transforma o espírito em um tumor maligno que destrói absur<strong>da</strong>mente a vi<strong>da</strong><br />
humana.<br />
[647] A vi<strong>da</strong> é um dos critérios <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de do espírito. Um espírito que priva o homem de<br />
qualquer possibili<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e só procura a satisfação em si mesma, é um espírito do erro, embora isto<br />
não aconteça sem a culpa do homem, que pode entregar-se ou não aos impulsos do espírito.<br />
[648] A vi<strong>da</strong> e o espírito são duas forças ou necessi<strong>da</strong>des entre as quais o homem está colocado. É<br />
o espírito que confere um sentido à vi<strong>da</strong> humana, criando-lhe a possibili<strong>da</strong>de de se desenvolver ao<br />
máximo. Mas a vi<strong>da</strong> é indispensável ao espírito, porque sua ver<strong>da</strong>de não é na<strong>da</strong>, se não pode viver.