19.05.2013 Views

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

paciente formam uma symptosis (συμπτωσιζ) ou um sintoma (σιμπτωμα), uma confluência e — ao<br />

mesmo tempo — um indicador de certos processos em curso. O que estou descrevendo outra coisa não é,<br />

basicamente, senão uma apresentação de acontecimentos psíquicos que apresentam uma certa freqüência<br />

estatística. Não nos colocamos — cientificamente falando — em um plano situado, de qualquer modo que<br />

seja, acima ou ao lado do processo psíquico, nem o traduzimos para um outro meio. A Física, pelo<br />

contrário, está em condições de fazer explodir fórmulas matemáticas — produtos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de puramente<br />

psíquica — matar setenta e oito mil pessoas de uma só vez.<br />

[422] Acreditar-se-ia que este argumento ver<strong>da</strong>deiramente contundente e devassador reduziria a<br />

Psicologia ao silêncio. Entretanto, a Psicologia pode lembrar, com to<strong>da</strong> humil<strong>da</strong>de, que o pensamento<br />

matemático é também uma função psíquica graças à qual a matéria pode ser organiza<strong>da</strong> de tal maneira<br />

que os átomos ligados por tremen<strong>da</strong>s forças explodem, o que jamais lhes aconteceria segundo a sua<br />

ordem natural, pelo menos na forma em que se apresentam. A psique é um fator de perturbação <strong>da</strong>s leis<br />

do cosmos, e se algum dia conseguíssemos causar algum <strong>da</strong>no à Lua, através <strong>da</strong> fissão atômica, isto seria<br />

obra <strong>da</strong> psique.<br />

[423] A psique é o eixo do mundo; e não é só uma <strong>da</strong>s grandes condições para a existência do<br />

mundo, em geral, mas constitui uma interferência na ordem natural existente, e ninguém saberia dizer<br />

com certeza onde esta interferência terminaria afinal. É quase desnecessário acentuar a digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> alma<br />

como objeto de uma ciência. Em vez disto, devemos ressaltar, com tanto maior ênfase, que uma alteração,<br />

por menor que seja, em um fator psíquico, se é uma alteração de princípio, é <strong>da</strong> maior importância para o<br />

conhecimento do mundo <strong>da</strong> imagem que temos dele. A integração de conteúdos inconscientes na<br />

consciência, que é a operação principal <strong>da</strong> Psicologia complexa, é justamente uma dessas alterações de<br />

princípio, porque elimina a supremacia <strong>da</strong> consciência subjetiva do ego, confrontando-a com os<br />

conteúdos coletivos inconscientes. A consciência do ego parece depender de dois fatores: primeiramente,<br />

depende <strong>da</strong>s condições <strong>da</strong> consciência coletiva, isto é, social, e em segundo lugar, depende dos arquétipos<br />

ou dominantes do inconsciente coletivo. Os arquétipos se dividem fenomenologicamente em duas<br />

categorias: uma instintiva e outra arquetípica. A primeira é constituí<strong>da</strong> pelos impulsos naturais, e a<br />

segun<strong>da</strong> pelas dominantes que irrompem na consciência como idéias universais. Entre os conteúdos do<br />

consciente coletivo que se apresentam como ver<strong>da</strong>des universalmente aceitas, e os conteúdos do<br />

inconsciente coletivo há um contraste tão pronunciado, que os últimos são rejeitados como inteiramente<br />

irracionais, para não dizer sem sentido, e excluídos, injustifica<strong>da</strong>mente, <strong>da</strong> pesquisa e do estudo científico,<br />

justamente como se não existissem. Entretanto, existem fenômenos psíquicos desta espécie, e se nos<br />

parecem absurdos, isto prova-nos unicamente que não os entendemos. Uma vez reconheci<strong>da</strong> sua<br />

existência, torna-se impossível bani-los de nossa visão do mundo, mesmo quando a concepção do mundo,<br />

predominante no plano consciente, se mostre incapaz de compreender os fenômenos em questão. Um<br />

estudo consciencioso destes fenômenos nos mostraria sua imensa importância e dificilmente podemos<br />

evitar a conclusão de que entre a consciência coletiva e o inconsciente coletivo há um contraste quase<br />

intransponível no qual o próprio sujeito se acha envolvido.<br />

[424] Via de regra, é a consciência coletiva que prevalece com suas generali<strong>da</strong>des "razoáveis" que<br />

não causam nenhuma dificul<strong>da</strong>de à compreensão mediana. Ele continua a acreditar na conexão necessária<br />

entre causa e efeito e quase não tomou conhecimento do fato de que a causali<strong>da</strong>de foi relativiza<strong>da</strong>. A<br />

distância mais curta entre dois pontos continua sendo a linha reta, ao passo que a Física conta com<br />

inúmeras distâncias mais curtas que parecem sumamente absur<strong>da</strong>s para o filisteu culto de nossos dias.<br />

Seja como for, o resultado impressionante <strong>da</strong> explosão de Hiroshima incutiu um respeito quase medroso<br />

às constatações mais abstrusas <strong>da</strong> Física moderna. A explosão que tivemos ocasião de presenciar na<br />

Europa de nossos dias, embora muito mais terrível em suas repercussões, foi considera<strong>da</strong> como uma mera<br />

catástrofe psíquica apenas por um pequeno número de pessoas. Em vez disto, preferem-se as mais<br />

disparata<strong>da</strong>s teorias políticas e econômicas que são tão apropria<strong>da</strong>s, como se alguém pretendesse explicar<br />

a explosão de Hiroshima como o impacto casual de um grande meteorito.<br />

[425] Quando a consciência subjetiva prefere as idéias e opiniões <strong>da</strong> consciência coletiva e se<br />

identifica com elas, os conteúdos do inconsciente coletivo são reprimidos. A repressão tem conseqüências<br />

típicas: a carga energética dos conteúdos se adiciona, até certo ponto 144 , à carga do fator repressivo cuja<br />

144 É muito provável que os arquétipos enquanto instintos possuam uma energia específica que não lhe pode ser tira<strong>da</strong> com o decorrer do<br />

tempo. A energia peculiar do arquétipo normalmente não é suficiente para elevá-lo até a consciência. Para isto, é necessário uma determina<strong>da</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!