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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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eligiosa do homem medieval correspondem mais ou menos à atitude induzi<strong>da</strong> no ego pela integração dos<br />

conteúdos conscientes, com a diferença, porém, de que, no último caso, as sugestões do meio ambiente e<br />

a inconsciência são substituí<strong>da</strong>s pela objetivi<strong>da</strong>de e consciência científicas. Mas, na medi<strong>da</strong> em que a<br />

religião para a consciência contemporânea significa essencialmente ain<strong>da</strong> uma confissão ou credo e,<br />

conseqüentemente, também um sistema coletivamente aceito de proposições religiosas codifica<strong>da</strong>s e<br />

cristaliza<strong>da</strong>s em fórmulas dogmáticas tem mais a ver com o domínio <strong>da</strong> consciência coletiva, embora seus<br />

símbolos exprimam os arquétipos primitivamente ativos. Enquanto houver uma consciência comunitária<br />

governa<strong>da</strong> pela Igreja, a psique gozará — como já foi explicado — de um certo equilíbrio. Em qualquer<br />

caso há uma defesa bastante eficaz contra a inflação do ego. Mas quando falta a Igreja e seu eros<br />

maternal, o indivíduo se torna vítima impotente de qualquer "ismo" coletivo e <strong>da</strong> psique de massa <strong>da</strong>í<br />

decorrente. Ele sucumbe a uma inflação social ou nacional, e o trágico é que isto se faz com a mesma<br />

atitude psíquica que o ligava anteriormente a uma Igreja.<br />

[427] Se o indivíduo é, porém, suficientemente autônomo para reconhecer a estupidez do "ismo"<br />

social, ele se acha sob a ameaça de uma inflação subjetiva, porque, em geral, não é capaz de ver que as<br />

idéias religiosas na reali<strong>da</strong>de psicológica não se apóiam unicamente na tradição e na fé, mas se originam<br />

também dos arquétipos, cuja "cui<strong>da</strong>dosa consideração" (religere!) constitui a natureza <strong>da</strong> religião. Os<br />

arquétipos estão continuamente presentes e ativos; em si não precisam ser acreditados, mas de um certo<br />

conhecimento de seu próprio significado e de um sábio receio, de uma certa<br />

, que jamais perde de vista a sua importância. Uma consciência aguça<strong>da</strong> pela<br />

experiência conhece as conseqüências catastróficas que uma não consideração neste sentido acarreta,<br />

tanto para o indivíduo quanto para a socie<strong>da</strong>de. Da mesma forma como o arquétipo é, sob certos aspectos,<br />

um fator espiritual e, sob outros aspectos, como que um sentido oculto, imanente ao instinto, também o<br />

espírito é, como mostrei, bipolar e paradoxal: uma grande aju<strong>da</strong> e, ao mesmo tempo, um grande perigo 146 .<br />

É como se o homem fosse destinado a desempenhar um papel decisivo na solução deste problema e a<br />

resolvê-lo em virtude de sua consciência que é como um foco de luz que se projeta sobre o abismo<br />

tenebroso. Entretanto, na<strong>da</strong> sabemos, por assim dizer, com certeza acerca desta matéria, sobretudo ali<br />

onde florescem os "ismos" que não passam de substitutivos sofisticados do elo perdido de ligação com a<br />

reali<strong>da</strong>de psíquica. A massificação <strong>da</strong> psique <strong>da</strong>í resultante infalivelmente destrói o sentido do indivíduo<br />

e, conseqüentemente, também a cultura em geral.<br />

[428] Daqui se infere que a psique, quando perde o equilíbrio, não somente perturba a ordem<br />

natural, mas destrói a própria criação. Por isto, a cui<strong>da</strong>dosa consideração dos fatores psíquicos é de<br />

imensa importância para o restabelecimento de equilíbrio, não só dentro do próprio indivíduo, mas<br />

também na socie<strong>da</strong>de, porque, do contrário, facilmente predominariam as tendências destruidoras. Da<br />

mesma forma que a bomba atômica é um instrumento de destruição física em massa, como nunca houve<br />

até agora assim também uma evolução mal conduzi<strong>da</strong> <strong>da</strong> psique conduzirá forçosamente a um processo<br />

de destruição psíquica em massa. A situação atual é de tal modo sombria, que não podemos reprimir a<br />

suspeita de que o Criador do mundo está planejando, de novo, um dilúvio para aniquilar de uma vez por<br />

to<strong>da</strong>s a raça humana presente. Se alguém pensa que uma crença sadia na existência dos arquétipos pode<br />

ser inculca<strong>da</strong> a partir de fora, é tão ingênuo quanto aqueles que querem proscrever a guerra ou a bomba<br />

atômica por meios legais. Essas medi<strong>da</strong>s nos lembram aquele bispo que excomungou os besouros de sua<br />

diocese porque se haviam multiplicado inconvenientemente. A mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> consciência deve começar<br />

dentro de ca<strong>da</strong> um e é um problema que <strong>da</strong>ta de séculos e depende, em primeiro lugar, de saber até onde<br />

alcança a capaci<strong>da</strong>de de evolução <strong>da</strong> psique. Tudo o que sabemos hoje é que há indivíduos capazes de se<br />

desenvolver. Contudo, o seu número total escapa ao nosso conhecimento, <strong>da</strong> mesma forma como não<br />

sabemos qual seja a força sugestiva de uma consciência amplia<strong>da</strong>, isto é, não sabemos a influência que ela<br />

pode exercer sobre um círculo mais vasto. Efeitos desta espécie jamais dependem <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong>de de<br />

uma idéia, mas bem mais <strong>da</strong> questão (que só podemos responder ex effectu — depois dos fatos): Uma<br />

época está madura ou não para uma mu<strong>da</strong>nça?<br />

[429] Como já mostrei, a Psicologia se acha em uma situação incômo<strong>da</strong>, se compara<strong>da</strong> com outras<br />

Ciências naturais, porque lhe falta uma base fora de seu objeto. Ela pode traduzir-se apenas em sua<br />

própria linguagem ou copiar sua própria imagem. Quanto mais ela amplia o seu campo de investigação, e<br />

quanto mais complexo este último se torna, tanto mais lhe faz falta um ponto de vista distinto de seu<br />

146 Fato este excelentemente expresso no lógion de Jesus, citado por Orígenes (In Jerem. hom., XX, 3): "Quem está perto de mim, está perto<br />

do fogo. Quem está longe de mim, está longe do reino". Esta "palavra avulsa do Senhor" se refere a IS 33,14.

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