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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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Será absolutamente necessário trazer à tona conteúdos inconscientes? Não basta que eles próprios se<br />

manifestem por si mesmos, de maneira geralmente desagradável? Para que forçar o inconsciente a vir à<br />

tona? Uma <strong>da</strong>s finali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> análise não é, pelo contrário, esvaziar o inconsciente de suas fantasias e,<br />

deste modo, torná-lo ineficaz?<br />

[157] Não me parece descabido considerar estas dúvi<strong>da</strong>s um pouco mais detalha<strong>da</strong>mente, pois os<br />

métodos utilizados para trazer os conteúdos inconscientes à luz <strong>da</strong> consciência podem parecer novos,<br />

insólitos e talvez mesmo estranhos. Por isso, precisamos primeiramente discutir estas objeções naturais, a<br />

fim de que elas não nos venham perturbar, quando começarmos a demonstrar os métodos em questão.<br />

[158] Como dissemos anteriormente, precisamos dos conteúdos inconscientes para complementar<br />

os <strong>da</strong> consciência. Se a atitude consciente fosse "dirigi<strong>da</strong>" um mínimo que fosse, o inconsciente poderia<br />

fluir de maneira completamente espontânea. É isto o que acontece, de fato, com to<strong>da</strong>s aquelas pessoas que<br />

parecem ter um nível pouco elevado de tensão <strong>da</strong> consciência, como, por ex., os primitivos. Entre os<br />

primitivos não são necessárias medi<strong>da</strong>s especiais para se alcançar o inconsciente. Em parte alguma são<br />

necessárias medi<strong>da</strong>s especiais para isto, pois as pessoas que menos conhecem o seu lado inconsciente são<br />

as que mais influência recebem dele, sem tomarem consciência disto. A participação secreta do<br />

inconsciente no processo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> está presente sempre e em to<strong>da</strong> parte, sem que seja preciso procurá-la. O<br />

que se procura aqui é a maneira de tornar conscientes os conteúdos do inconsciente que estão sempre<br />

prestes a interferir em nossas ações, e, com isto, evitar justamente a intromissão secreta do inconsciente,<br />

com suas conseqüências desagradáveis.<br />

[159] Neste ponto, o leitor certamente perguntará: Por que não se pode deixar o inconsciente agir<br />

como bem entender? Aqueles que ain<strong>da</strong> não tiveram algumas experiências desagradáveis neste sentido,<br />

naturalmente não encontrarão motivos para controlar o inconsciente. Mas aqueles que as tiveram em<br />

quanti<strong>da</strong>de suficiente, acolherão com alegria a mera possibili<strong>da</strong>de de o fazer. É absolutamente necessário<br />

para o processo consciente que a atitude seja dirigi<strong>da</strong>, mas isto, como vimos, acarreta inevitavelmente<br />

uma certa unilaterali<strong>da</strong>de. Visto que a psique é um sistema auto-regulador, como o corpo vivo, é no<br />

inconsciente que se desenvolve a contra-reação reguladora. Se a função consciente não fosse dirigi<strong>da</strong>, as<br />

influências opostas do inconsciente poderiam manifestar-se desimpedi<strong>da</strong>mente. Mas é precisamente o<br />

fato de ser dirigi<strong>da</strong> que as elimina. Isto, naturalmente, não inibe a contra-reação que se verifica, apesar de<br />

tudo. Mas sua influência reguladora é elimina<strong>da</strong> pela atenção crítica e pela vontade orienta<strong>da</strong> para um<br />

determinado fim, porque a contra-reação como tal parece incompatível com a direção <strong>da</strong> atitude. Por isso,<br />

a psique do homem civilizado não é mais um sistema auto-regulador, mas pode ser comparado a um<br />

aparelho cujo processo de regulagem automático <strong>da</strong> própria veloci<strong>da</strong>de é tão imperceptível, que pode<br />

desenvolver sua ativi<strong>da</strong>de a ponto de <strong>da</strong>nificar-se a si mesma, enquanto, por outro lado, está sujeita às<br />

interferências arbitrárias de uma vontade orienta<strong>da</strong> unilateralmente.<br />

[160] Quando a reação é reprimi<strong>da</strong>, ela perde sua influência reguladora. Começa, então, a ter<br />

efeito acelerador e intensificador no sentido do processo consciente. É como se a reação consciente<br />

perdesse sua influência reguladora e como conseqüência, to<strong>da</strong> a sua energia, pois se cria uma situação na<br />

qual não somente não há uma reação inibidora, mas sua energia parece acrescentar-se à energia <strong>da</strong> direção<br />

consciente. Inicialmente, isto aju<strong>da</strong> a levar a efeito as intenções conscientes, mas, como estas não são<br />

controla<strong>da</strong>s, podem impor-se demasia<strong>da</strong>mente, à custa do todo. Se uma pessoa, por ex., faz uma<br />

afirmação um tanto ousa<strong>da</strong> e reprime a reação, isto é, uma dúvi<strong>da</strong> oportuna, ela insistirá tanto mais sobre<br />

sua própria afirmação, em detrimento de si própria.<br />

[161] A facili<strong>da</strong>de com que se reprime a reação é proporcional à grande dissociabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> psique<br />

e conduz à per<strong>da</strong> dos instintos que caracteriza o homem civilizado, e lhe é também necessária, pois, com<br />

sua força original, os instintos dificultam consideravelmente a a<strong>da</strong>ptação social. Seja como for, não se<br />

trata de uma ver<strong>da</strong>deira atrofia dos instintos, mas, na maioria dos casos, apenas de um produto mais ou<br />

menos duradouro que jamais poderia radicar-se tão profun<strong>da</strong>mente, se não servisse aos interesses vitais<br />

do indivíduo.<br />

[162] Excluindo os casos ordinários <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que a prática nos oferece, menciono o exemplo de<br />

Nietzsche, tal qual se apresenta na sua obra Also sprach Zarathustra {Assim Falou Zaratustra]. A<br />

descoberta do homem "superior" e do homem "mais hediondo" reflete o processo regulador do<br />

inconsciente, pois os homens "superiores" querem obrigar Zaratustra a descer para a esfera coletiva <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de média, tal como ela sempre tem sido, enquanto o "mais hediondo" é a própria personificação<br />

<strong>da</strong> reação. Mas o "leão <strong>da</strong> moral" de Zaratustra, com seus "rugidos", obriga to<strong>da</strong>s estas influências, e,

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