19.05.2013 Views

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

dos temas mitológicos. 193 Naturalmente, não é fácil provar, sem mais, a existência de um inconsciente<br />

coletivo em um indivíduo normal, mas de tempos em tempos aparecem representações mitológicas em<br />

seus sonhos. É nos casos de perturbações mentais, e especialmente na esquizofrenia, em que mais<br />

niti<strong>da</strong>mente se destacam esses conteúdos. É nesses casos em que as imagens mitológicas freqüentemente<br />

apresentam uma varie<strong>da</strong>de surpreendente. Os doentes mentais muitas vezes produzem combinações de<br />

idéias e símbolos que não se pode atribuir às experiências de sua existência individual, mas unicamente à<br />

história do espírito humano. É o pensamento mitológico primitivo que reproduz suas imagens<br />

primordiais, e não a reprodução de experiências inconscientes. 194<br />

[590] O inconsciente pessoal contém, portanto, complexos que pertencem ao indivíduo e formam<br />

parte essencial <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> psíquica. Quando qualquer complexo que devia achar-se associado ao eu se<br />

torna inconsciente, por ter sido reprimido ou por ter mergulhado nos subterrâneos <strong>da</strong> psique, o indivíduo<br />

experimenta uma sensação de per<strong>da</strong>. E quando um complexo perdido se torna, de novo, consciente, por<br />

exemplo, através do tratamento psicoterapêutico, o indivíduo sente que houve um aumento de força. 195<br />

Muitas neuroses são cura<strong>da</strong>s desta maneira. Mas quando, pelo contrário, um complexo do inconsciente<br />

coletivo se associa ao eu, isto é, se torna consciente, o indivíduo sente este conteúdo como algo de<br />

estranho, de misterioso e, ao mesmo tempo, fascinante. Em qualquer caso, a consciência sofre<br />

profun<strong>da</strong>mente sua influência, seja sentindo o complexo como qualquer coisa de patológico, seja<br />

alheando-se <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> normal. A associação de um conteúdo do coletivo ao eu produz sempre um estado de<br />

"alienação" porque alguma coisa que deveria propriamente permanecer inconsciente, isto é, separa<strong>da</strong> do<br />

eu, se intromete na consciência individual. Se consegue remover este conteúdo <strong>da</strong> consciência, o<br />

indivíduo se sente aliviado e mais normal. A irrupção destes conteúdos é um sintoma característico que<br />

marca o início de muitas doenças mentais. Os doentes são assaltados por pensamentos estranhos e<br />

inauditos, o mundo parece mu<strong>da</strong>do e as pessoas apresentam feições desfigura<strong>da</strong>s, etc. 196<br />

[591] Enquanto os conteúdos do inconsciente pessoal são sentidos como fazendo parte <strong>da</strong> própria<br />

alma do indivíduo, os conteúdos do inconsciente coletivo parecem estranhos e como que vindos de fora.<br />

A reintegração de um complexo pessoal produz um efeito de alívio ou, freqüentemente, até mesmo a cura,<br />

ao passo que a irrupção de um complexo do inconsciente coletivo é um fenômeno profun<strong>da</strong>mente<br />

desagradável e mesmo perigoso. O paralelo com a crença primitiva nas almas e nos espíritos é manifesto.<br />

As almas dos primitivos correspondem aos complexos autônomos do inconsciente pessoal e os espíritos<br />

aos complexos do inconsciente coletivo. Em linguagem científica diríamos prosaicamente que aquilo que<br />

o primeiro considera como almas ou espíritos são complexos psíquicos. Em vista do papel extraordinário<br />

que a crença nas almas e nos espíritos tem desempenhado na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de e também na<br />

atuali<strong>da</strong>de, não podemos contentar-nos apenas em constatar a existência de tais complexos, mas devemos<br />

penetrar um pouco mais profun<strong>da</strong>mente em sua natureza.<br />

[592] É fácil demonstrar experimentalmente a existência destes complexos, através do<br />

experimento <strong>da</strong>s associações. 197 Como se sabe, este experimento consiste no seguinte: o experimentador<br />

propõe uma palavra ao sujeito <strong>da</strong> experiência, e este deve reagir o mais depressa possível com a primeira<br />

palavra que lhe passe pela mente. O experimentador mede o tempo de reação com um cronômetro. De<br />

modo geral se esperaria que to<strong>da</strong>s as palavras isola<strong>da</strong>s fossem respondi<strong>da</strong>s mais ou menos com a mesma<br />

veloci<strong>da</strong>de e que só as palavras difíceis determinassem um tempo de reação mais prolongado. Na<br />

reali<strong>da</strong>de, porém, as coisas se passam de modo diferente. Há inespera<strong>da</strong>mente tempos de reação<br />

prolongados após palavras muito simples, ao passo que palavras mais difíceis são respondi<strong>da</strong>s mais<br />

rapi<strong>da</strong>mente. Uma investigação mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> nos mostrará que os tempos de reação mais<br />

prolongados geralmente ocorrem quando a palavra indutora atinge um conteúdo fortemente emocional.<br />

193 Refiro-me aqui, não às formas existentes do tema, mas à sua estrutura fun<strong>da</strong>mental pré-consciente (e, portanto, não diretamente<br />

observável). Esta estrutura pode ser compara<strong>da</strong> ao reticulado cristalino que existe em estado potencial na água-mãe mas não deve ser<br />

confundido com o sistema axial, diversamente estruturado, do cristal individual.<br />

194 Cf. Wandlungen und Symbolen der Libido [Transformações e Símbolos <strong>da</strong> Libido] (nova edição: Symbole der Wandlungen) [Símbolos <strong>da</strong><br />

Transformação, Obras Completas, V]; e ain<strong>da</strong> Spielrein, über den psychologischen Inhalt eines Falles von Schizophrenie, p. 329s; Nelken,<br />

Analytische Beobachtungen über Phantasien eines Schizophrenen, p. 504s; Meier, Spontanmanifestationen des kollektiven Unbewussten.<br />

195 Esta sensação nem sempre é desagradável, pois o paciente fica até mesmo contente com a per<strong>da</strong> do complexo, até o momento em que ele<br />

começa a sentir as conseqüências desagradáveis desta per<strong>da</strong>.<br />

196 Aqueles que conhecem esta matéria possivelmente objetarão que minha descrição é unilateral, porque sabem que o arquétipo, ou conteúdo<br />

coletivo autônomo, não possui apenas um aspecto negativo, como o aqui descrito. Aqui, porém, me limitei simplesmente à sintomatologia<br />

corrente que se pode encontrar em qualquer manual de Psiquiatria, e à atitude defensiva, igualmente comum, contra tudo o que é<br />

extraordinário. Evidentemente, o arquétipo tem também uma numinosi<strong>da</strong>de positiva, que menciono abun<strong>da</strong>ntemente em meus escritos.<br />

197 Cf. minha obra: Diagnostische Assoziationsstudien [Obras Completas, II].

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!