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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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existência de processos psíquicos em si faz mais justiça à reali<strong>da</strong>de dos fatos. Não quero perder tempo em<br />

mostrar este ponto, mas me contento em lembrar que nunca uma pessoa que raciocina ain<strong>da</strong> duvidou <strong>da</strong><br />

existência de processos psíquicos em um cachorro, embora um cachorro jamais se tenha expresso sobre a<br />

consciência de seus conteúdos psíquicos 45 .<br />

C. A DISSOCIABILIDADE DA PSIQUE<br />

[365] A priori, não há motivo para admitir que os processos inconscientes tenham<br />

obrigatoriamente um sujeito, nem tampouco para duvi<strong>da</strong>rmos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de dos processos psíquicos.<br />

Entretanto, como se admite, o problema torna-se difícil, quando li<strong>da</strong>mos com supostos atos <strong>da</strong> vontade.<br />

Se não se trata de simples "impulsos" ou "inclinações" mas de "escolha" e de "decisão" aparentemente de<br />

ordem superior, próprias <strong>da</strong> vontade, certamente não se pode deixar de admitir a existência necessária de<br />

um sujeito que as controle e para o qual alguma coisa foi "representa<strong>da</strong>". Por definição, isto seria colocar<br />

uma consciência no inconsciente, seria uma operação não muito difícil para o psicopatologista. Com<br />

efeito, ele conhece um fenômeno psíquico que a psicologia "acadêmica" quase sempre desconhece: o<br />

fenômeno <strong>da</strong> dissociação ou dissociabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de. Esta peculiari<strong>da</strong>de se deve ao fato de que<br />

a ligação dos processos psíquicos entre si é uma ligação bastante condiciona<strong>da</strong>. Não somente os processos<br />

inconscientes dependem notavelmente <strong>da</strong>s experiências <strong>da</strong> consciência, mas os próprios processos<br />

conscientes revelam uma frouxidão muito clara ou uma separação entre uns e outros. Limito-me apenas a<br />

recor<strong>da</strong>r aqueles absurdos ocasionados pelos complexos e que podemos observar com a máxima precisão<br />

deseja<strong>da</strong> nas experiências de associação. Da mesma forma que existem realmente os casos de double<br />

conscience [dupla consciência], cuja existência foi posta em dúvi<strong>da</strong> por Wundt, assim também os casos<br />

em que a personali<strong>da</strong>de não se acha inteiramente fundi<strong>da</strong>, mas apenas com alguns fragmentos menores<br />

destacados, são muito mais prováveis ain<strong>da</strong> e, de fato, mais comuns. Trata-se inclusive de experiências<br />

antiqüíssimas <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, que se refletem na suposição generaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong> existência lógica de várias<br />

almas em um só e mesmo indivíduo. Como no-lo mostra a plurali<strong>da</strong>de de componentes psíquicas no nível<br />

primitivo, o estado original se deve ao fato de os processos psíquicos se acharem debilmente ligados entre<br />

si, e de maneira alguma a uma uni<strong>da</strong>de perfeita entre eles. Além do mais, basta um na<strong>da</strong>, como no-lo<br />

mostra a experiência psiquiátrica, para despe<strong>da</strong>çar a uni<strong>da</strong>de penosamente consegui<strong>da</strong> no curso do<br />

desenvolvimento, e reduzi-la de volta a seus elementos originais.<br />

[366] O fato <strong>da</strong> dissociabili<strong>da</strong>de nos permite como<strong>da</strong>mente superar as dificul<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s à<br />

suposição logicamente necessária de um limiar <strong>da</strong> consciência. Se é, em tudo e por tudo, correto dizer que<br />

os conteúdos conscientes, se tornam subliminares e, por isto mesmo, inconscientes, em decorrência <strong>da</strong><br />

per<strong>da</strong> de energia, e que, inversamente, os processos inconscientes se tornam conscientes devido a um<br />

aumento de energia, então, para que os atos inconscientes de vontade, por exemplo, sejam possíveis, é<br />

necessário que esses processos possuam um potencial de energia capaz de os levar ao estado de<br />

consciência, mas um estado de consciência secundária que consiste no fato de o processo inconsciente ser<br />

"representado" para um sujeito subliminar que escolhe e decide. Este deve necessariamente possuir<br />

inclusive uma quanti<strong>da</strong>de de energia exigi<strong>da</strong> para conduzi-lo ao estado de consciência. Quer dizer, ele<br />

deve alcançar, em um certo momento, seu bursting point [ponto de ruptura] 46 . Mas, se assim é, então<br />

surge a questão por que o processo inconsciente não cruza realmente o limiar <strong>da</strong> consciência e não se<br />

torna perceptível ao ego. Como, evidentemente, ele não o faz, mas aparentemente permanece suspenso no<br />

domínio do sujeito subliminar secundário, precisamos então de explicar por que este sujeito que, por<br />

hipótese, possui a quanti<strong>da</strong>de de energia necessária para conduzi-lo ao estado de consciência, não se alça,<br />

por sua vez, acima do limiar e não se incorpora à consciência primária do ego. A Psicologia tem o<br />

material necessário para responder a esta pergunta. Esta consciência secundária representa, com efeito,<br />

uma componente <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de, que se separou <strong>da</strong> consciência do ego, por mero acaso, mas deve sua<br />

separação a determinados motivos. Uma dissociação desta espécie apresenta dois aspectos distintos: no<br />

primeiro caso, trata-se de um conteúdo originariamente consciente que se tornou subliminar ao ser<br />

reprimido por causa de sua natureza incompatível; no segundo caso, o sujeito secundário consiste em um<br />

processo que jamais pode penetrar na consciência, porque nesta não há a mínima possibili<strong>da</strong>de de que se<br />

efetue a apercepção deste processo, isto é, a consciência do ego não pode recebê-lo, por falta de<br />

45 Não incluo aqui o "Hans Inteligente", nem o cachorro que fala <strong>da</strong> "alma primordial".<br />

46 James, Varieties, p. 232.

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