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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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em última análise, na estrutura do cérebro e do sistema nervoso simpático, ele constitui, em sua<br />

totali<strong>da</strong>de, uma espécie de imagem intemporal e como que eterna do mundo que se contrapõe à nossa<br />

visão consciente e momentânea do mundo. Em outras palavras: ele significa na<strong>da</strong> menos do que um outro<br />

mundo, um mundo especular, se assim o quisermos. Mas, ao contrário <strong>da</strong> imagem especular, a imagem<br />

inconsciente possui uma energia própria, independente <strong>da</strong> consciência, energia graças à qual pode<br />

produzir efeitos psíquicos poderosos que não aparecem na superfície do mundo, mas influenciam-no tanto<br />

mais poderosamente a partir de dentro, a partir de nossas profundezas obscuras. Estes efeitos são<br />

invisíveis para aquele que não submete sua imagem momentânea do mundo a uma crítica adequa<strong>da</strong>, e,<br />

deste modo, permanece oculto também a seus próprios olhos. Eu considero o fato de o mundo ter não<br />

somente um exterior, mas também um interior, e de ser não apenas visível exteriormente mas agir<br />

soberanamente sobre nós em um presente intemporal a partir dos recessos mais profundos e<br />

aparentemente mais subjetivos <strong>da</strong> alma, como um conhecimento que, apesar de ser uma sabedoria antiga,<br />

merece ser considerado, sob esta forma, como um fator novo no desenvolvimento de uma cosmovisão.<br />

[730] A Psicologia analítica não é uma cosmovisão, mas uma ciência, e, como tal, ela nos<br />

proporciona o material de construção ou os instrumentos com os quais podemos construir, demolir ou<br />

mesmo reconstruir nossa cosmovisão. Hoje em dia há muitos que acreditam enxergar uma cosmovisão na<br />

Psicologia analítica. Eu gostaria muito que ela fosse uma cosmovisão, porque isto me pouparia <strong>da</strong> fadiga<br />

<strong>da</strong> pesquisa e <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong>, e eu poderia também dizer-vos clara e simplesmente qual é o caminho que<br />

conduz ao paraíso. Infelizmente ain<strong>da</strong> estamos muito longe disto. Apenas faço minhas experiências em<br />

cosmovisão, quando procuro ver com clareza qual é o significado e o alcance dos novos acontecimentos.<br />

E esta experimentação é, em certo sentido, um caminho, pois, no final <strong>da</strong>s contas, nossa própria existência<br />

é um experimento <strong>da</strong> natureza, uma tentativa de realizar uma nova síntese.<br />

[731] Uma ciência não é jamais uma cosmovisão, mas apenas o instrumento com que podemos<br />

construir-nos uma. A questão se utilizaremos ou não este instrumento depende, por sua vez, também de<br />

saber que espécie de cosmovisão já possuímos, porque não existe indivíduo sem cosmovisão. E mesmo<br />

em algum caso extremo, ele tem pelo menos aquela cosmovisão que a educação e o seu meio ambiente<br />

lhe incutiram. Se esta cosmovisão lhe diz, por exemplo, que a "suprema felici<strong>da</strong>de dos homens neste<br />

mundo é a personali<strong>da</strong>de" (Goethe), ele se apoderará, sem hesitação, <strong>da</strong> Ciência e de suas conclusões, e as<br />

usará como um instrumento para construir uma cosmovisão para si mesmo — para sua própria edificação.<br />

Mas, se suas convicções her<strong>da</strong><strong>da</strong>s lhe disserem que a Ciência não é um instrumento mas um fim em si, ele<br />

seguirá a referi<strong>da</strong> divisa que vem se impondo ca<strong>da</strong> vez mais e se tem mostrado decisiva na prática,<br />

durante estes últimos cento e cinqüenta anos. Alguns indivíduos têm resistido desespera<strong>da</strong>mente a esta<br />

atitude, porque sua maneira de conceber o sentido e o desenvolvimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> culmina na idéia <strong>da</strong><br />

perfeição <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de humana, e não na diferenciação dos meios técnicos a qual conduz<br />

inevitavelmente a uma diferenciação extremamente unilateral de um único instinto, como, por exemplo,<br />

do instinto do conhecimento. Se a Ciência constitui um fim em si mesmo, a raison d’être [razão de ser]<br />

do homem está em ser ele um mero intelecto. Se a arte constitui um fim em si, o único valor do homem<br />

está na sua capaci<strong>da</strong>de criativa, e o intelecto é relegado ao arsenal <strong>da</strong>s coisas inúteis. Se a busca do<br />

dinheiro constitui um fim em si, a Ciência e a Arte podem tranqüilamente recolher sua bagagem e partir.<br />

Ninguém pode negar que a consciência moderna se fragmentou quase irremediavelmente, na busca desses<br />

fins unilaterais e exclusivos. A conseqüência disto, porém, é que os indivíduos são educados para<br />

privilegiar apenas uma quali<strong>da</strong>de, em detrimento <strong>da</strong>s outras, e eles próprios se tornam meros<br />

instrumentos.<br />

[732] Nos últimos cento e cinqüenta anos assistimos ao aparecimento de uma multiplici<strong>da</strong>de de<br />

cosmovisões — uma prova de que a idéia de cosmo visão perdeu o crédito, porque, quanto mais uma<br />

doença é difícil de tratar, tanto maior é o número dos remédios indicados, e quanto maior é o número dos<br />

remédios indicados, tanto maior é o descrédito que sobre todos eles recai. A impressão que se tem é de<br />

que a cosmovisão se tornou um fenômeno obsoleto.<br />

[733] Dificilmente podemos imaginar que este desenvolvimento seja um mero acidente, uma<br />

aberração lamentável e sem sentido, porque uma coisa boa e váli<strong>da</strong> em si mesma não pode desaparecer <strong>da</strong><br />

vista, assim, de maneira lastimável e supeitosa. Ela deve conter algo de inútil e reprovável. Por isto<br />

devemos nos perguntar: O que há de errado em to<strong>da</strong>s as cosmovisões?<br />

[734] A mim me parece que o erro fatal de ca<strong>da</strong> cosmovisão até agora foi pretender se constituir<br />

em ver<strong>da</strong>de objetivamente váli<strong>da</strong> e, no fundo, numa espécie de evidência científica. Isto nos levaria à

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