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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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um plágio consciente, parece-me que uma reprodução criptomnésica é de todo improvável. Creio que se<br />

trata, realmente, de uma reprodução genuína e espontânea. Em si na<strong>da</strong> existe de extraordinário em tudo<br />

isto, porque é possível encontrar o arquétipo do Si-mesmo por to<strong>da</strong> parte, tanto na mitologia como nos<br />

produtos <strong>da</strong> fantasia individual. A toma<strong>da</strong> de consciência espontânea dos conteúdos coletivos, cuja<br />

existência a Psicologia descobriu, desde há muito tempo, no inconsciente, constitui parte <strong>da</strong> tendência<br />

geral <strong>da</strong>s comunicações mediúnicas no sentido de fazer passar os conteúdos do inconsciente para a<br />

consciência. Estudei uma parte imensa <strong>da</strong> literatura espírita, justamente tendo em vista as tendências que<br />

se manifestam nessas comunicações, e cheguei à conclusão de que no espiritismo há uma propensão<br />

espontânea do inconsciente no sentido de se tornar inconsciente sob uma forma coletiva. Os esforços dos<br />

"espíritos" têm por escopo fazer diretamente com que os vivos se tornem conscientes, ou levar o recémfalecido<br />

— e indiretamente também os vivos — a desenvolver seus esforços psicoterapêuticos. O<br />

espiritismo enquanto fenômeno coletivo persegue, portanto, os mesmos fins que a Psicologia médica, e,<br />

deste modo, produz, como bem nos indicam suas manifestações mais recentes, as mesmas idéias básicas<br />

— ain<strong>da</strong> que sob o rótulo de "ensinamentos dos espíritos" — que são características <strong>da</strong> natureza do<br />

inconsciente. Por mais desconcertantes que sejam tais fatos, eles na<strong>da</strong> provam, nem a favor nem contra a<br />

teoria dos espíritos. Mas a coisa mu<strong>da</strong> inteiramente de aspecto quando se consegue provar casos de<br />

identi<strong>da</strong>de. Não vou cometer a estupidez <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> que considera como embuste tudo aquilo que não<br />

consegue explicar. Provavelmente, pouquíssimas são as provas deste gênero que resistem ao critério <strong>da</strong><br />

criptomnésia e, sobretudo, <strong>da</strong> extrasensory perception [percepção extra-sensorial]. A Ciência não pode<br />

<strong>da</strong>r-se ao luxo <strong>da</strong> ingenui<strong>da</strong>de em tais assuntos. Estas questões ain<strong>da</strong> estão por responder. Contudo, aos<br />

que se interessam pela Psicologia do inconsciente recomen<strong>da</strong>ríamos que leiam os livros de Stewart E.<br />

White. 200 O mais interessante dentre eles é, a meu ver, The Unobstructed Universe. Também The Road I<br />

Know é digno de nota, porque nos oferece excelente introdução ao método <strong>da</strong> imaginação ativa que<br />

venho utilizando há mais de 30 anos no tratamento <strong>da</strong> neurose, como forma de levar os conteúdos<br />

inconscientes até ao nível <strong>da</strong> consciência. 201 Nestes livros encontramos também a equação: região dos<br />

espíritos = região dos sonhos (inconsciente).<br />

[600] Quanto aos fenômenos parapsicológicos, parece-me que, via de regra, se acham ligados à<br />

presença de um médium. 202 Eles são, pelo menos até onde minha experiência alcança, efeitos<br />

exteriorizados de complexos inconscientes. Estou, realmente, convencido de que se trata de<br />

exteriorizações. Observei, repeti<strong>da</strong>mente, os efeitos telepáticos de complexos inconscientes, e também<br />

uma série de fenômenos parapsicológicos. Mas não posso ver em tudo isto uma prova <strong>da</strong> existência de<br />

espíritos reais; e até que surja uma prova irrefutável, devemos considerar o domínio destes fenômenos<br />

como um capítulo à parte <strong>da</strong> Psicologia. 203 Creio que a Ciência deve impor esta restrição a si mesma.<br />

Contudo, não devemos jamais esquecer que a Ciência é um assunto que interessa somente ao intelecto, e<br />

que este é apenas um dentre várias funções psíquicas fun<strong>da</strong>mentais e, por isto, não é suficiente para nos<br />

proporcionar uma imagem global do mundo. Para isto é necessário pelo menos uma outra função, o<br />

sentimento. O sentimento chega muitas vezes a convicções diferentes <strong>da</strong>quelas do intelecto, e nem<br />

sempre podemos provar que as convicções do sentimento são inferiores às do intelecto. Além disto, temos<br />

as percepções subliminares do inconsciente, de que o intelecto consciente não dispõe, e por isto são<br />

excluí<strong>da</strong>s de uma visão geral do mundo. Deste modo temos to<strong>da</strong> a razão em atribuir apenas uma vali<strong>da</strong>de<br />

limita<strong>da</strong> ao nosso intelecto. Mas quando trabalhamos com o intelecto, devemos proceder cientificamente<br />

e permanecer fiéis a um princípio empírico, até que surjam provas irrefutáveis contra sua vali<strong>da</strong>de.<br />

200 Agradeço ao Dr. Künkel de Los Angeles a gentileza de ter chamado a minha atenção para os escritos de Stewart E. White.<br />

201 Uma descrição sucinta deste método se encontra em "A função transcendente" [Tratado II deste volume] e também em O Eu e o<br />

Inconsciente, 2ª parte/III [Obras Completas, VII, Petrópolis, Vozes, 1978].<br />

202 Mas existem também exceções notáveis a esta regra. (Cf., p. ex., os fantasmas e assombrações associados a um determinado lugar).<br />

203 Após haver recolhido experiências psicológicas de muitas pessoas e de muitos países, durante meio século, já não me sinto tão seguro<br />

como no ano de 1919, quando escrevi esta afirmação. Muitas vezes não me acanho de confessar que duvido de que uma abor<strong>da</strong>gem e análise<br />

exclusivamente psicológicas façam justiça aos fenômenos em questão. Não somente as descobertas <strong>da</strong> Parapsicologia, como também as<br />

minhas reflexões teóricas, esboça<strong>da</strong>s em meu estudo publicado no Eranos-Jahrbuch XIV (1946), p. 485s [cf. Tratado VIII deste volume], me<br />

conduziram a certos postulados que muito se aproximam do domínio <strong>da</strong>s concepções <strong>da</strong> Física nuclear, isto é, do contínuo espaço-tempo.<br />

Isto levanta a questão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de transpsíquica imediatamente subjacente à psique.

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