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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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Estas imagens são míticas e, portanto, simbólicas, porque expressam a harmonia do sujeito que<br />

experimenta, com o objeto experimentado. Evidentemente, to<strong>da</strong> mitologia e to<strong>da</strong> revelação provêm desta<br />

matriz <strong>da</strong> experiência, e to<strong>da</strong>s as nossas idéias futuras a respeito do mundo e do homem provirão<br />

igualmente dela. Mas seria um equívoco acreditar que as imagens fantasiosas do inconsciente podem ser<br />

utiliza<strong>da</strong>s diretamente, como uma espécie de revelação. São apenas o material bruto que, para adquirir um<br />

sentido, precisa ain<strong>da</strong> de ser traduzido na linguagem do presente. Se esta tradução for bem sucedi<strong>da</strong>, o<br />

mundo tal qual o concebemos será unido de novo à experiência primordial <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, através do<br />

símbolo de uma cosmovisão; o homem histórico e universal estenderá a mão ao homem individual recémnascido.<br />

Será uma experiência que se aproximará <strong>da</strong>quela do primitivo que se une ao seu ancestral-totem<br />

por meio de uma refeição ritual.<br />

[739] Sob esta luz, a Psicologia analítica é uma reação contra uma racionalização exagera<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

consciência que, na preocupação de produzir processos orientados, se isola <strong>da</strong> natureza e, assim, priva o<br />

homem de sua história natural e o transpõe para um presente limitado racionalmente que consiste em um<br />

curto espaço de tempo situado entre o nascimento e a morte. Esta limitação gera no indivíduo o<br />

sentimento de que é uma criatura aleatória e sem sentido, e esta sensação nos impede de viver a vi<strong>da</strong> com<br />

aquela intensi<strong>da</strong>de que ela exige para poder ser vivi<strong>da</strong> em plenitude. A vi<strong>da</strong> se torna então insípi<strong>da</strong> e já<br />

não representa o homem em sua totali<strong>da</strong>de. É por isto que tantas vi<strong>da</strong>s não vivi<strong>da</strong>s caem sob o domínio do<br />

inconsciente. Os indivíduos vivem como se caminhassem com sapatos muito apertados. A quali<strong>da</strong>de de<br />

eterni<strong>da</strong>de, que é tão característica <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do primitivo, falta inteiramente em nossas vi<strong>da</strong>s. Vivemos<br />

protegidos por nossas muralhas racionalistas contra a eterni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> natureza. A Psicologia analítica<br />

procura justamente romper estas muralhas, ao desencavar de novo as imagens fantasiosas do inconsciente<br />

que a nossa mente racionalista havia rejeitado. Estas imagens situam-se para além <strong>da</strong>s muralhas; fazem<br />

parte ãa natureza que há em nós e que aparentemente jaz sepulta<strong>da</strong> em nosso passado, e contra a qual nos<br />

entrincheiramos por trás dos muros <strong>da</strong> ratio [razão]. A Psicologia procura solucionar os conflitos <strong>da</strong>í<br />

resultantes, não voltando à natureza, numa linha rousseauneana, mas conservando-nos ao nível <strong>da</strong> razão<br />

que alcançamos com sucesso e enriquecendo nossa consciência com o conhecimento <strong>da</strong> psique primitiva.<br />

[740] Todo aquele que conseguiu esta visão descreve-a como uma impressão avassaladora, mas<br />

não é capaz de gozar desta impressão por muito tempo, porque imediatamente surge a questão como<br />

assimilar este novo conhecimento. A primeira constatação é a de que aquilo que se situa do lado de lá <strong>da</strong>s<br />

muralhas é inconciliável com o que existe do lado de cá. Aqui se manifesta plenamente o problema <strong>da</strong><br />

tradução em linguagem atual, ou talvez mesmo <strong>da</strong> criação de uma nova linguagem em geral. E isto já<br />

coloca o problema de uma cosmovisão — de uma cosmovisão que nos ajude a entrar em harmonia com o<br />

homem histórico que há em nós, de tal sorte que seus acordes profundos não sejam abafados pelos<br />

sons estridentes <strong>da</strong> consciência racional, ou a luz preciosa <strong>da</strong> consciência individual não se apague sob o<br />

peso <strong>da</strong>s trevas espessas e infinitas <strong>da</strong> psique natural. Tão logo abor<strong>da</strong>mos esta questão, devemos<br />

abandonar o terreno <strong>da</strong> Ciência, porque agora precisamos <strong>da</strong> decisão criadora de confiar nossa vi<strong>da</strong> a esta<br />

ou àquela hipótese. Em outras palavras: é aqui que começa o problema ético sem o qual é inconcebível<br />

qualquer cosmovisão..<br />

[741] Creio ter exposto com suficiente clareza minha afirmação de que a Psicologia analítica não é<br />

uma cosmovisão, mas pode oferecer uma contribuição importante para a formação de uma.

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