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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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objeto. Quando a complexi<strong>da</strong>de alcança a extensão <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de do homem empírico, ela se funde<br />

inevitavelmente com o próprio processo psíquico. Não pode mais se distinguir deste último, mas se<br />

transforma nele próprio. O resultado disto é que o processo alcança a consciência. Com isto, a Psicologia<br />

realiza a tendência do inconsciente em direção à consciência. Ela nos torna conscientes do processo<br />

psíquico, mas não nos oferece nenhuma explicação deste processo, em sentido mais profundo, porque não<br />

há outra explicação do psíquico senão o processo vital <strong>da</strong> própria psique. A Psicologia é força<strong>da</strong> a<br />

suprimir-se, e é justamente nesta situação que ela alcança o seu objetivo científico. Qualquer outra ciência<br />

tem, por assim dizer, um objeto exterior a si mesma, o que não acontece com a Psicologia cujo objeto é o<br />

sujeito de to<strong>da</strong>s as ciências.<br />

[430] A Psicologia culmina necessariamente no processo de desenvolvimento que é peculiar à<br />

psique e consiste na integração dos conteúdos capazes de se tornarem conscientes. Isto significa que o ser<br />

humano psíquico se torna um todo, e este fato traz conseqüências notáveis para a consciência do ego, que<br />

são extremamente difíceis de descrever. Duvido <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de expor adequa<strong>da</strong>mente as mu<strong>da</strong>nças<br />

que se verificam no sujeito sob o influxo do processo de individuação, pois se trata de uma ocorrência<br />

mais ou menos rara, só experimenta<strong>da</strong> por aqueles que passaram pelo confronto — fastidioso, mas<br />

indispensável para a integração do inconsciente — com as componentes inconscientes <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de.<br />

Quando as partes inconscientes <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de se tornam conscientes, produz-se não só uma<br />

assimilação delas à personali<strong>da</strong>de do ego, anteriormente existente, como sobretudo uma transformação<br />

desta última. A grande dificul<strong>da</strong>de está justamente em descrever a maneira como se dá esta<br />

transformação. De modo geral, o ego é um complexo fortemente estruturado que, por estar fortemente<br />

ligado à consciência e à sua continui<strong>da</strong>de, não pode nem deve ser facilmente alterado, sob pena de<br />

enfrentar sérias perturbações patológicas. As analogias mais próximas de uma alteração do ego se<br />

encontram, com efeito, no campo <strong>da</strong> psicopatologia, onde nos deparamos não somente com dissociações<br />

neuróticas mas também com a fragmentação esquizofrênica e até mesmo com a dissolução do ego. Neste<br />

domínio também observamos tentativas de integração patológica — se me permitem esta expressão. Esta<br />

integração consiste em irrupções mais ou menos violentas de conteúdos inconscientes na consciência,<br />

mostrando-se o ego incapaz de assimilar os intrusos. Se, porém, a estrutura do complexo do ego é<br />

bastante forte para resistir ao assalto dos conteúdos inconscientes, sem que se afrouxe desastrosamente<br />

sua contextura, a assimilação pode ocorrer. Mas, neste caso, há uma alteração não só dos conteúdos<br />

inconscientes, mas também do ego. Embora ele se mostre capaz de preservar sua estrutura, o ego é como<br />

que arrancado de sua posição central e dominante, passando, assim, ao papel de um observador passivo a<br />

quem faltam os meios necessários para impor sua vontade em qualquer circunstância, o que acontece não<br />

tanto porque a vontade se acha enfraqueci<strong>da</strong> em si mesma, quanto, sobretudo, porque certas<br />

considerações a paralisam. Quer dizer, o ego não pode deixar de descobrir que o afluxo dos conteúdos<br />

inconscientes vitaliza e enriquece a personali<strong>da</strong>de e cria uma figura que ultrapassa de algum modo o ego<br />

em extensão e em intensi<strong>da</strong>de. Esta experiência paralisa uma vontade por demais egocêntrica e convence<br />

o ego de que, apesar de to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des, é sempre melhor recuar para um segundo lugar, do que se<br />

empenhar em combate sem esperança, o qual termina invariavelmente em derrota. Deste modo a vontade<br />

enquanto energia disponível se submete paulatinamente ao fator mais forte, isto é, à nova figura <strong>da</strong><br />

totali<strong>da</strong>de que eu chamei de self. Naturalmente, nestas circunstâncias existe a máxima tentação de seguir<br />

simplesmente o instinto de poder e identificar o ego, sem mais nem menos, com o self, para alimentar<br />

assim a ilusão de um domínio do ego. Em outros casos o ego se revela fraco demais para opor a<br />

necessária resistência ao afluxo dos conteúdos inconscientes e é, conseqüentemente, assimilado pelo<br />

inconsciente, o que dá origem a um enfraquecimento e obscurecimento <strong>da</strong> consciência do ego, a uma<br />

identificação deste com uma totali<strong>da</strong>de inconsciente 147 . Tanto um como outro destes dois<br />

desenvolvimentos impossibilitam a realização do ego e ao mesmo tempo são <strong>da</strong>nosos à continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

consciência do ego. Por isto eles resultam em efeitos patológicos. Os fenômenos psíquicos observados<br />

recentemente na Alemanha recaíam nesta categoria. Viu-se, então, com extrema clareza, que um tal<br />

abaissement du niveau mental, ou seja, o esmagamento do ego por conteúdos inconscientes e a<br />

conseqüente identificação com a totali<strong>da</strong>de pré-consciente, possui uma prodigiosa virulência psíquica ou<br />

um poder de contágio e, por isto, é capaz dos mais desastrosos resultados. Desenvolvimentos desta<br />

147 Esta totali<strong>da</strong>de consciente consiste em uma união feliz entre o ego e o self, em que os dois preservam suas quali<strong>da</strong>des essenciais. Se, em<br />

vez <strong>da</strong> união, o ego é subjugado pelo self, então o self também não alcança aquela forma que ele deveria ter, mas permanece fixo em um<br />

nível mais primitivo e neste estado só pode ser expresso por símbolos arcaicos.

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