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Carl Gustav Jung - A Natureza da Psique.pdf - Agricultura Celeste

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<strong>da</strong> depressão. Como esta não é produzi<strong>da</strong> pela consciência, mas constitui uma intromissão indeseja<strong>da</strong> do<br />

inconsciente, a expressão assim elabora<strong>da</strong> do estado de ânimo é como uma imagem dos conteúdos e <strong>da</strong>s<br />

tendências do inconsciente que se congregaram na depressão. O procedimento em questão é uma forma<br />

de enriquecimento e ilustração do afeto e é por isso que o afeto se aproxima, com seus conteúdos, <strong>da</strong><br />

consciência, tornando-se, ao mesmo tempo, mais perceptível e, conseqüentemente, também mais<br />

inteligível. Basta esta ativi<strong>da</strong>de para exercer uma influência benéfica e vitalizadora. De qualquer modo,<br />

ela ocasiona uma situação, porque o afeto, anteriormente não relacionado, converte-se em uma idéia mais<br />

ou menos clara e articula<strong>da</strong>, graças precisamente ao apoio e à cooperação <strong>da</strong> consciência. Isto representa<br />

um começo <strong>da</strong> função transcendente, vale dizer <strong>da</strong> colaboração de fatores inconscientes e conscientes.<br />

[168] Pode-se expressar o distúrbio emocional, não intelectualmente, mas conferindo-lhe uma<br />

forma visível. Os pacientes que tenham talento para a pintura ou o desenho podem expressar seus afetos<br />

por meio de imagens. Importa menos uma descrição tecnicamente ou esteticamente satisfatória, do que<br />

deixar campo livre à fantasia, e que tudo se faça ao melhor modo possível. Em princípio, este<br />

procedimento concor<strong>da</strong> com o descrito anteriormente. Aqui também se tem um produto que foi<br />

influenciado tanto pela consciência como pelo inconsciente, produto que corporifica o anseio de luz, por<br />

parte do inconsciente, e de substância, por parte <strong>da</strong> consciência.<br />

[169] Entretanto, deparamo-nos freqüentemente com casos em que não há depressão afetiva<br />

palpável, mas apenas um mal-estar genérico surdo, incompreensível, uma sensação de resistência contra<br />

tudo e contra todos, uma espécie de tédio ou de vaga repugnância, ou um vazio indefinível mas pertinaz.<br />

Nestes casos não se tem um ponto de parti<strong>da</strong> definido; este precisaria primeiramente ser criado. Aqui se<br />

torna necessária uma introversão <strong>da</strong> libido, alimenta<strong>da</strong> talvez inclusive por condições externas favoráveis<br />

como, por ex., uma calma absoluta, especialmente se a libido manifesta, em qualquer dos casos, uma<br />

tendência à introversão: "É noite — e agora to<strong>da</strong>s as fontes borbulhantes falam mais alto. E a minha<br />

alma é também uma fonte borbulhante" — segundo a palavra de Nietzsche.<br />

[170] A atenção crítica deve ser reprimi<strong>da</strong>. Os tipos visualmente dotados devem concentrar-se na<br />

expectativa de que se produza uma imagem interior. De modo geral, aparece uma imagem <strong>da</strong> fantasia —<br />

talvez de natureza hipnagógica — que deve ser cui<strong>da</strong>dosamente observa<strong>da</strong> e fixa<strong>da</strong> por escrito. Os tipos<br />

audio-verbais em geral ouvem palavras interiores. De início, talvez sejam apenas fragmentos de<br />

sentenças, aparentemente sem sentido, mas que devem ser também fixados de qualquer modo. Outros,<br />

porém, nestes momentos escutam sua "outra" voz. De fato, não poucas pessoas têm uma espécie de crítico<br />

ou de juiz dentro de si, que julgam de imediato suas palavras e ações. Os doentes mentais ouvem esta voz<br />

como alucinações acústicas. Mas as pessoas normais, que têm uma vi<strong>da</strong> interior mais ou menos<br />

desenvolvi<strong>da</strong>, podem reproduzir estas vozes inaudíveis, sem dificul<strong>da</strong>des. Como, porém, esta voz é<br />

notoriamente incômo<strong>da</strong> e refratária, ela é reprimi<strong>da</strong> quase to<strong>da</strong>s as vezes. Essas pessoas, naturalmente,<br />

têm muita dificul<strong>da</strong>de em estabelecer uma ligação como o material inconsciente, e deste modo criam as<br />

condições necessárias para a função transcendente.<br />

[171] Há pessoas, porém, que na<strong>da</strong> vêem ou escutam dentro de si, mas suas mãos são capazes de<br />

<strong>da</strong>r expressão concreta aos conteúdos do inconsciente. Esses pacientes podem utilizar-se vantajosamente<br />

de materiais plásticos. Aqueles, porém, que são capazes de expressar seu consciente através de<br />

movimentos do corpo, como a <strong>da</strong>nça, são bastante raros. Deve-se paliar o inconveniente de não se poder<br />

fixar mentalmente os movimentos, desenhando-os cui<strong>da</strong>dosamente, em segui<strong>da</strong>, para que não se apaguem<br />

<strong>da</strong> memória. Um pouco menos freqüente, mas não menos valiosa, é a escritura automática, feita<br />

diretamente em prancheta. Este procedimento nos proporciona igualmente resultados muito úteis.<br />

[172] Chegamos agora à questão seguinte: Que se obteve com o material conseguido pela maneira<br />

acima descrita? Não existe resposta apriorística para esta questão, porque somente quando a consciência é<br />

confronta<strong>da</strong> com os produtos do inconsciente é que se produz uma reação provisória a qual, entretanto,<br />

determina todo o processo subseqüente. Só a experiência prática é capaz de dizer alguma coisa sobre o<br />

que aconteceu. Até onde alcança minha experiência, parece-me que são duas as principais tendências<br />

neste campo. Uma delas vai na direção <strong>da</strong> formulação criativa e a outra na direção <strong>da</strong> compreensão.<br />

[173] Onde predomina o princípio <strong>da</strong> formulação criativa, os materiais obtidos aumentam e<br />

variam, resultando numa espécie de condensação dos motivos em símbolos estereotipados, onde<br />

predominam os motivos estéticos. Esta tendência leva ao problema estético <strong>da</strong> formulação artística.

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