05.11.2012 Views

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

101<br />

na proclamação cristã no Apocalipse. Seus testemunhos estão imitando a experiência do próprio Jesus, que<br />

testemunhou até a morte. A tribulação, neste c<strong>as</strong>o, seria um elemento central na experiência cristã. Sofrer é<br />

imitar a Cristo, o rei crucificado. Uma vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> tribulação e opressão social expressa como cristãos reinam com<br />

seu rei sofredor e como eles participam no po<strong>de</strong>r e glória <strong>de</strong> Deus. Descobrir esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong> constitui um<br />

ingrediente central no ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro conhecimento. Alguns elementos fun<strong>da</strong>mentais contribuem para a reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> tribulação e opressão no mundo visionário <strong>de</strong> João: o evangelho do rei crucificado, o comportamento do<br />

crente como imitação <strong>de</strong> Cristo, <strong>as</strong> relações sócio-polític<strong>as</strong> n<strong>as</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Ásia, e a afirmação do<br />

separatismo dos cristãos do mundo romano. Cf. THOMPSON, Leonard. A sociological analysis of tribulation<br />

in the Apocalypse of John, p. 148.<br />

(19) PAGELS, Elaine. As origens <strong>de</strong> satanás, p. 15. Sobre a forma como essa leitura <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> foi usa<strong>da</strong><br />

na história do cristianismo, cf. WRIGHT, Rosemary Muir. Satanás e Anticristo – símbolos necessários. In:<br />

Concilium 274, 1998, p. 70-80.<br />

(20) PAGELS, Elaine. As origens <strong>de</strong> satanás, p. 18.<br />

(21) SCHREINER, J.; DAUTZENBERG, G. Forma e exigênci<strong>as</strong> do Novo Testamento. São Paulo: Paulin<strong>as</strong>,<br />

1977, p. 494.<br />

(22) BARR, David L. The Apocalypse <strong>as</strong> a symbolic transformation of the World, p. 45.<br />

(23) Pagels acredita que a forma como o autor <strong>de</strong> Apocalipse utiliza o instrumental dualista <strong>de</strong> <strong>de</strong>monização<br />

seja reflexo <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> auto-<strong>de</strong>finicao dos grupos cristãos. Antes eles se i<strong>de</strong>ntificavam com os grupos<br />

ju<strong>da</strong>icos; ao serem expulsos <strong>de</strong>sses grupos, eles criam sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> em oposição àqueles que antes eram<br />

seus irmãos. Entretanto, quando <strong>as</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s crist<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sam a ser formad<strong>as</strong> predominantemente <strong>de</strong><br />

cristãos não-ju<strong>da</strong>icos, entre os anos 70-100, agora eram excluídos não mais <strong>de</strong> círculos ju<strong>da</strong>icos, m<strong>as</strong> dos<br />

círculos sociais que antes conviviam. Era <strong>de</strong>sses círculos que <strong>as</strong> ameaç<strong>as</strong> agora partiam, <strong>de</strong> “oficiais<br />

romanos e turb<strong>as</strong> urban<strong>as</strong> que os odiavam por seu ‘ateísmo’, que temiam que pu<strong>de</strong>ssem atrair a ira dos<br />

<strong>de</strong>uses para comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s inteir<strong>as</strong>”. Cf. PAGELS, E. As origens <strong>de</strong> satanás, p. 134.<br />

(24) PAGELS, E. As origens <strong>de</strong> satanás, p. 152. Nogueira aponta o grupo cristão subjacente às Epístol<strong>as</strong><br />

P<strong>as</strong>torais como um dos que tentavam se aproximar <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> romana. Ele argumenta que “a postura<br />

<strong>de</strong>sses cristãos diante <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> era <strong>de</strong> busca por compreensão e tolerância, com um certo toque <strong>de</strong><br />

<strong>as</strong>similação. [...] É possível, no entanto, que eles estivessem propondo à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> uma substituição<br />

simbólica <strong>da</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> leal<strong>da</strong><strong>de</strong> no culto imperial (no qual não po<strong>de</strong>riam tomar parte como cristãos)<br />

pel<strong>as</strong> orações públic<strong>as</strong> em favor dos governantes”. Cf. NOGUEIRA, Paulo Augusto <strong>de</strong> Souza. Experiência<br />

religiosa e crítica social no cristianismo primitivo, p. 152. Um outra comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que tenta se aproximar é a<br />

que aparece refleti<strong>da</strong> na carta <strong>de</strong> 1Clemente aos Coríntios. Nesta obra, isso se torna ain<strong>da</strong> mais evi<strong>de</strong>nte<br />

quando Clemente a estrutura imperial romana como exemplo positivo para a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e organização d<strong>as</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s cristãs: “Irmãos, militemos com to<strong>da</strong> nossa prontidão sob <strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns irrepreensíveis <strong>de</strong>le.<br />

Consi<strong>de</strong>remos os sol<strong>da</strong>dos que servem sob <strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> nossos governantes: com que disciplina, docili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e submissão eles executam <strong>as</strong> funções que lhes são <strong>de</strong>signad<strong>as</strong>!” (1Clem 37.1-2). Clemente apresenta uma<br />

admiração pela estrutura militar <strong>de</strong> <strong>Roma</strong>. Ao chamar os governantes romanos <strong>de</strong> “nossos governantes” ele<br />

indica que sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> não possui uma crise explícita com o Império, já que seria estranho um lí<strong>de</strong>r<br />

cristão elogiar a docili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um sol<strong>da</strong>do se sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> fosse alvo <strong>de</strong> perseguição imperial. Cf.<br />

LAWSON, John. A theological and historical introduction to the apostolic fathers. New York: The Macmillan<br />

Company, 1961, p. 46.<br />

(25) Para Pagels, isso po<strong>de</strong>ria ser provocado, em parte, porque os gentios convertidos se tornavam odiados<br />

por outros gentios, muit<strong>as</strong> vezes membros <strong>da</strong> própria família e vizinhos <strong>da</strong> mesma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isso os levava a<br />

entendê-los como adoradores <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses pagãos, impelidos por Satanás, a ameaçar o povo <strong>de</strong> Deus. Cf.<br />

PAGELS, E. As origens <strong>de</strong> satanás, p. 153-154.<br />

(26) Barr fala <strong>de</strong> “uma completa inversão <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> certos símbolos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e conquista, transformados<br />

então em imagens <strong>de</strong> sofrimento e fraqueza”. Cf. BARR, David L. The Apocalypse <strong>as</strong> a symbolic<br />

transformation of the World, p. 41.<br />

(27) COLLINS, A<strong>de</strong>la Yarbro. The combat myth in the Book of Revelation, p. 186. A própria Collins resume<br />

su<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> no seguinte esquema: A narrativa do ataque do dragão contra a mulher e a criança é uma<br />

a<strong>da</strong>ptação ju<strong>da</strong>ica do mito do ataque <strong>de</strong> Píton a Leto para matar seu filho Apolo; o mito <strong>de</strong> Leto e Píton foi<br />

adotado primeiro num contexto ju<strong>da</strong>ico, em meados do primeiro século na Ásia menor, e tinha funcionava

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!