Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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principalmente retórica, ou a arte <strong>de</strong> argumentar a favor ou contra o que quer que seja ou arte <strong>da</strong> eloqüência<br />
sobre o que não se sabe, e erística, ou a arte <strong>de</strong> induzir o contra-argumentador ao erro, ao frac<strong>as</strong>so<br />
argumentativo(7). M<strong>as</strong> para ser ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente sábio era preciso haver conversão, <strong>as</strong>sim era para Sócrates<br />
e Platão e outros pensadores mais antigos como Pitágor<strong>as</strong>, e talvez por isso Platão con<strong>de</strong>ne a sofística, por<br />
ser um ensino/ aprendizado que não <strong>de</strong>man<strong>da</strong>va conversão.<br />
Percebe-se no diálogo platônico Alcibía<strong>de</strong>s(8) a relevância que o cui<strong>da</strong>do consigo, o aprimoramento<br />
<strong>da</strong> alma, tem quando se <strong>as</strong>pira a uma participação política mais engaja<strong>da</strong>, não é possível cui<strong>da</strong>r dos outros e<br />
elevá-los à boa vi<strong>da</strong> sem que antes se apren<strong>da</strong> como cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> si em busca do próprio bem estar. Quero<br />
dizer com isso que em Platão o cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> si, que envolve divers<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> como, entre outr<strong>as</strong>, a ginástica e a<br />
música quando se é jovem. Mais tar<strong>de</strong> a arte <strong>da</strong> luta e do equilíbrio. Finalmente geometria e dialética.e o<br />
auto- conhecimento(9) , tem como causa final a pólis, é para o bem viver na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que se <strong>de</strong>ve aprimorar a<br />
si mesmo.<br />
Na época clássica era o bem viver <strong>da</strong> pólis que realmente importava (ao ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>r esforço<br />
e disciplina dos ci<strong>da</strong>dãos para se aprimorarem se quisessem se envolver realmente em questões polític<strong>as</strong>)<br />
então o que acontecerá agora no helenismo se não há mais pólis?<br />
Quando se pesquisa o Helenismo, é lugar b<strong>as</strong>tante comum encontrar a idéia <strong>de</strong> que a nova<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> cosmopolita imposta pelo imperialismo macedônio, por diminuir a participação n<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, cria um <strong>de</strong>slocamento na boa vi<strong>da</strong>. O bem viver per<strong>de</strong> sua finali<strong>da</strong><strong>de</strong> política, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um bem<br />
viver para a pólis, e p<strong>as</strong>saria a ser para o sujeito. Esta é a idéia presente, por exemplo, no volume um <strong>da</strong><br />
História <strong>da</strong> Filosofia, a Filosofia Pagã organiza<strong>da</strong> por Châtelet, (1973: 167): “No momento em que o quadro<br />
tradicional <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> grega se extingue diante <strong>de</strong> um império cuj<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões escapam à crítica como à<br />
<strong>de</strong>liberação <strong>de</strong> seus súditos, o filósofo se acha confinado seja à teoria pura, seja à predicação simplesmente<br />
moral (...) é o momento em que a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> do homem livre, que até então se confundia com o exercício dos<br />
direitos cívicos, se transmuta, por falta <strong>de</strong> melhor, em liber<strong>da</strong><strong>de</strong> interior; em que os i<strong>de</strong>ais gregos <strong>de</strong> autarquia<br />
e <strong>de</strong> autonomia, que procuravam até então se satisfazer na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, se encontram confiados unicamente aos<br />
recursos espirituais do homem individual.”.<br />
Po<strong>de</strong>-se facilmente discor<strong>da</strong>r <strong>de</strong>sta hipótese, contra-argumentando que o que se tem no Helenismo<br />
são recorrentes e diferentes prátic<strong>as</strong> <strong>de</strong> si, <strong>de</strong> auto aprimoramento em direção à boa vi<strong>da</strong>, com certeza não<br />
mais para a pólis m<strong>as</strong> também não para o sujeito, para a cosmópolis.<br />
Talvez venha <strong>da</strong>í a importância <strong>da</strong><strong>da</strong> pel<strong>as</strong> principais correntes helenist<strong>as</strong> ao conceito originalmente<br />
epicurista <strong>de</strong> megalopsichía que é a noção <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> todos, <strong>da</strong> afini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> alma <strong>de</strong> todos ci<strong>da</strong>dãos(10).<br />
Como se os “helenist<strong>as</strong>” estivessem dizendo: “apesar <strong>de</strong> não mais participarmos diretamente n<strong>as</strong><br />
<strong>de</strong>liberações que visam ao bem viver coletivo na pólis, compreen<strong>de</strong>mos que através <strong>da</strong> megalopsichía<br />
po<strong>de</strong>remos, se nos preocuparmos com o nosso bem viver, não importa sob qual escola nem sob quais<br />
condições(11), levar a boa vi<strong>da</strong>, a ataraxia e eu<strong>da</strong>imonia a todos os ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> cosmópolis.”<br />
É claro que quando digo “helenist<strong>as</strong>” cometo o <strong>de</strong>slize <strong>de</strong> generalizar escol<strong>as</strong> e tendênci<strong>as</strong> bem<br />
particulares. Contudo quanto às prátic<strong>as</strong> <strong>de</strong> si el<strong>as</strong> são bem similares: fun<strong>da</strong>mentam uma ética enquanto<br />
prática <strong>da</strong> boa vi<strong>da</strong> numa série <strong>de</strong> noções originad<strong>as</strong> em su<strong>as</strong> teori<strong>as</strong> do conhecimento que são instrumentais<br />
para garantir quietu<strong>de</strong> à alma.<br />
A gran<strong>de</strong> exceção talvez seja o Ceticismo Pirrônico que apesar <strong>de</strong> buscar a ataraxia através <strong>da</strong><br />
suspensão do juízo, duvi<strong>da</strong> ou não tem certeza se há ou não uma alma que não <strong>de</strong>va ser perturba<strong>da</strong>. Sendo<br />
<strong>as</strong>sim, a quietu<strong>de</strong> pirrônica se refere na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> à imperturbabili<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> razão que límpid<strong>as</strong><br />
<strong>de</strong> dogmatismos levariam o filósofo a uma boa vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> ação segundo a natureza(12). Outra questão b<strong>as</strong>tante<br />
controversa seria que, por se preocupar com a razão e conceber <strong>de</strong> certa forma razão e apreensão sensível<br />
como respectivamente interno e externo, haveria em gérmen uma filosofia <strong>da</strong> mente <strong>de</strong> origem pirrônica(13).<br />
NOTAS:<br />
(1) O período pós-aristotélico (cerca <strong>de</strong> 320 a.C.) vê florescerem du<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> <strong>de</strong> origem socrática, a<br />
Megárica e a Cirenaica. Est<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> influenciarão <strong>de</strong>cisivamente o <strong>de</strong>senvolvimento do Epicurismo,<br />
Estoicismo, Cinismo e Pirronismo. A Média ou Segun<strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia também vê, com Arcesilao, um antidogmatismo<br />
e ceticismo mo<strong>de</strong>rado em teoria do conhecimento. A Nova ou Terceira Aca<strong>de</strong>mia é representa<strong>da</strong><br />
principalmente por Carnéa<strong>de</strong>s e Clitômaco, não há gran<strong>de</strong> cesura entre esta f<strong>as</strong>e e a prece<strong>de</strong>nte, a única<br />
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