Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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diferença substancial é a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> argumentos probabilist<strong>as</strong> pela Nova Aca<strong>de</strong>mia e uso <strong>de</strong>les nos ca<strong>da</strong> vez<br />
mais freqüentes ataques aos estóicos. A aproximação <strong>da</strong> Nova Aca<strong>de</strong>mia e do ceticismo se <strong>de</strong>ve à dialética.<br />
Os acadêmicos acreditavam, remetendo-se principalmente aos diálogos platônicos aporéticos, que se a<br />
dialética é a tarefa mais importante do filósofo, esta por sua vez seria o método por excelência <strong>de</strong> tratar o pró<br />
e contra <strong>de</strong> qualquer <strong>as</strong>sunto com igual<strong>da</strong><strong>de</strong> (eqüipolência d<strong>as</strong> teses). Logo no primeiro capítulo do livro I <strong>de</strong><br />
su<strong>as</strong> Hipotiposes, Sexto Empírico cl<strong>as</strong>sificará os filósofos em três tipos. Dogmáticos são os que afirmam que<br />
conhecem a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> ou uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> qualquer, céticos são os que persistem na busca não porque querem a<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, m<strong>as</strong> porque preten<strong>de</strong>m encontrar a ataraxia através <strong>da</strong> visão <strong>da</strong> eqüipolência d<strong>as</strong> teses. Há ain<strong>da</strong><br />
os que afirmam num dogmatismo negativo, semelhante ao <strong>as</strong>sumido pelo cirenaísmo por conta do<br />
radicalismo do seu sensualismo, que não há ver<strong>da</strong><strong>de</strong> além, estes são os acadêmicos e esta é a principal<br />
diferença entre o ceticismo pirrônico e acadêmico.<br />
(tékhne toû bíon).<br />
(2) “(...) A razão mais séria, parece-me, pela qual o lugar ocupado por este princípio durante qu<strong>as</strong>e um<br />
milênio na cultura antiga foi sendo apagado, pois bem, eu chamaria-- com uma expressão que reconheço ser<br />
ruim, aparecendo aqui a título puramente convencional—<strong>de</strong> “momento cartesiano” (...) Primeiro, o momento<br />
cartesiano requalificou filosoficamente o gnôthi seautón (conhece-te a ti mesmo). Com efeito, e nisto <strong>as</strong><br />
cois<strong>as</strong> são mais simples, o procedimento cartesiano, que muito explicitamente se lê n<strong>as</strong> Meditações,<br />
instaurou a evidência na origem, no ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> do procedimento filosófico (...)”. FOUCAULT, Michel. A<br />
Hermenêutica do Sujeito, pág. 18. São Paulo: Martins Fontes, 2004.<br />
(3) Pierre Hadot discor<strong>da</strong>rá <strong>de</strong>sta hipótese. Para ele o esquecimento em torno do preceito do cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> si se<br />
<strong>da</strong>rá na I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média, ele alegará que os escolásticos <strong>de</strong>preciaram a filosofia em favor <strong>da</strong> teologia, fazendo<br />
com que a primeira fosse uma ferramenta para <strong>de</strong>monstrar e provar <strong>as</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> moral cristã. Daí a<br />
supervalorização <strong>da</strong> lógica e <strong>da</strong> epistemologia. Para mais ver: HADOT, Pierre. Exercices Spirituels et<br />
Philosophie Antique. Éditions Albin Michel, Paris: 1993. Ten<strong>de</strong>-se a aproximar a idéia <strong>de</strong> Hadot <strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
Foucault, <strong>da</strong>í que o obscurantismo ao qual foi relegado o cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> si teria se <strong>de</strong>vido à crescente<br />
preocupação, começa<strong>da</strong> na I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média e culminando na Mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, com a fun<strong>da</strong>mentação do homem<br />
interno. Ou seja, mesmo sendo evi<strong>de</strong>nte que a atenção <strong>da</strong><strong>da</strong> pela filosofia à alma e às facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s intern<strong>as</strong> do<br />
ser <strong>de</strong>ve sua origem à Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> Clássica, este homem internalizado que se buscava fun<strong>da</strong>mentar nesta<br />
época era um homem para a pólis, um ci<strong>da</strong>dão. Sendo mais específico, na Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> os esforços para se<br />
enten<strong>de</strong>r <strong>as</strong> facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s intern<strong>as</strong> do ser visavam à harmonia dos ci<strong>da</strong>dãos que tem n<strong>as</strong> relações polític<strong>as</strong> o<br />
cume <strong>de</strong> sua existência. Na I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média percebe-se uma tendência que se consoli<strong>da</strong>rá <strong>de</strong> diferentes<br />
maneir<strong>as</strong> na Mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> Leibniz a Descartes, <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentar um indivíduo, não mais um ci<strong>da</strong>dão, para<br />
si e por si, para <strong>de</strong>ntro e não para fora, às vezes para além, para Deus, m<strong>as</strong> nunca para fora.<br />
(4) Esta hipótese já é por si só b<strong>as</strong>tante controversa, não cabendo a esta monografia analisar com<br />
profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> a idéia por ela sugeri<strong>da</strong>.<br />
(5) No capítulo I <strong>de</strong> seu livro “Ética Prática”, Peter Singer explicará o que enten<strong>de</strong> por ética e <strong>da</strong>rá seu ponto<br />
<strong>de</strong> vista sobre o que ela não <strong>de</strong>ve ser, cito: “A segun<strong>da</strong> coisa que a ética não é: um sistema i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
nobreza na teoria, m<strong>as</strong> inaproveitável na prática. O contrário <strong>de</strong>ssa afirmação está mais próximo <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />
um juízo ético que não é bom na prática <strong>de</strong>ve ressentir-se também <strong>de</strong> um <strong>de</strong>feito teórico, pois a questão<br />
fun<strong>da</strong>mental dos juízos éticos é orientar a prática.” (SINGER, Peter. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes,<br />
1994). Nota-se nesta p<strong>as</strong>sagem o <strong>de</strong>scrédito que Singer dá a ética meramente teórica.<br />
(6) Os gran<strong>de</strong>s sofist<strong>as</strong> não eram atenienses, eram estrangeiros sem direito a voto ou opinião que, talvez por<br />
isso, por conservarem a imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>sinteresse com relação às <strong>de</strong>cisões <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, podiam ensinar<br />
como argumentar tanto contra como a favor <strong>de</strong> qualquer causa. O termo sofista não p<strong>as</strong>sa <strong>de</strong> uma<br />
generalização grosseira para estrangeiros nôma<strong>de</strong>s que viajavam <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia em <strong>de</strong>mocracia ensinando<br />
todo tipo <strong>de</strong> sophia nota<strong>da</strong>mente a eloqüência e a oratória. A generalização que se faz em torno <strong>de</strong> “sofist<strong>as</strong>”<br />
se <strong>de</strong>ve especialmente à Platão que não via neles na<strong>da</strong> além <strong>de</strong> charlatões. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que boa parte <strong>de</strong>les<br />
tinha concepções filosófic<strong>as</strong> fix<strong>as</strong> apesar <strong>da</strong> volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus ensinamentos.<br />
(7) Para conhecer melhor <strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> Erístic<strong>as</strong> recomendo a leitura <strong>de</strong> “A Arte <strong>de</strong> Ter Razão” <strong>de</strong><br />
Schopenhauer (SCHOPENHAUER, Arthur. A Arte <strong>de</strong> Ter Razão, traduzido por Krug, Alexandre e Brandão,<br />
Eduardo. São Paulo: Martins Fontes, 2001). Os métodos erísticos objetivam criar armadilh<strong>as</strong> argumentativ<strong>as</strong><br />
que induzem o contra-argumentador ao erro performativo. Estratégi<strong>as</strong> clássic<strong>as</strong> <strong>de</strong> Erística são, por exemplo,<br />
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