Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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sempre curvilíne<strong>as</strong> facead<strong>as</strong> por platiband<strong>as</strong>, o que favorecia a ostentação <strong>da</strong> engenhosi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong><br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> construtiva, posto que os prédios têm aparência semelhante àqueles anteriores, que jamais se<br />
sustentariam com <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> dimensões. Esta simulação era uma d<strong>as</strong> <strong>de</strong>monstrações emblemátic<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />
hegemonia e <strong>da</strong> supremacia <strong>da</strong> inteligência sobre a or<strong>de</strong>m temporal e material que se instituía sob a égi<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
sacrali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
No que concerne aos ambientes <strong>de</strong> influência mais direta na arquitetura romana, a planta circular<br />
aparece também nos Tholoí, os edifícios gregos relacionados aos oráculos e às artes divinatóri<strong>as</strong>,<br />
representantes do contato do ser humano com o universal cósmico, que dilui o hiato espaço-temporal entre o<br />
espiritual e o material, resgatando a mítica uni<strong>da</strong><strong>de</strong> primordial e presentificando o conhecimento e a<br />
sabedoria. Todo círculo se <strong>de</strong>senvolve a partir <strong>de</strong> um eixo central, e a sua compreensão mais marcante é a<br />
<strong>de</strong> ser uma espécie <strong>de</strong> vórtice pelo do qual flui a comunicação entre os dois mundos. Nesse sentido, <strong>as</strong><br />
celebrações religios<strong>as</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> um tempo ou <strong>de</strong> um lugar, têm sido realizad<strong>as</strong> em espaços<br />
circulares, sejam clareir<strong>as</strong>, traçados no chão ou cromleches(8), e diante dos templos edificados. A linha curva<br />
ten<strong>de</strong> a se fechar sobre si mesma, ao p<strong>as</strong>so que a linha reta se disten<strong>de</strong>. A planta circular, então, reitera o<br />
sentido <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois circunscreve <strong>as</strong> polarizações e contradições na idéia <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong>. A circulari<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
unifica, induz à soli<strong>da</strong>rização dos participantes ao redor <strong>de</strong> um significado axial <strong>de</strong> reverência, reconduzível<br />
às referênci<strong>as</strong> <strong>as</strong>tronômic<strong>as</strong> e à idéia cosmológica <strong>de</strong> um núcleo primordial e originário <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cois<strong>as</strong>. O<br />
núcleo é também o centro do mundo, equivalendo ao centro do templo, como vemos no c<strong>as</strong>o do ae<strong>de</strong>s<br />
Vestae.<br />
Planta, elevação e corte do templo <strong>de</strong> Vesta no Forum <strong>Roma</strong>num<br />
No Templo <strong>de</strong> Vesta, foi manti<strong>da</strong> a colunata no exterior, <strong>de</strong> tal forma que, aberto para fora, o<br />
edifício é receptivo a tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> forç<strong>as</strong> e influênci<strong>as</strong> cósmic<strong>as</strong>. Note-se que uma d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>da</strong><br />
arquitetura romana, e que a diferencia <strong>da</strong> grega, cujos arquitetos importara, é a transposição <strong>da</strong> colunata para<br />
<strong>de</strong>ntro dos limites do espaço arquitetônico fechado, funcionando como suporte adicional para o<br />
ma<strong>de</strong>iramento que sustenta a cobertura, em substituição às vig<strong>as</strong> <strong>de</strong> pedra, o que foi uma d<strong>as</strong> “pratici<strong>da</strong><strong>de</strong>s”<br />
roman<strong>as</strong>. Cabe dizer que, se a circunferência simboliza o topos <strong>da</strong> manifestação e o seu centro simboliza a<br />
origem, o ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, então, todos os raios e os pontos <strong>da</strong> circunvolução só são possíveis com a<br />
referência implícita ao centro. Assim também, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> figur<strong>as</strong> geométric<strong>as</strong> poligonais regulares têm um<br />
centro gerador. No c<strong>as</strong>o do templo <strong>de</strong> Vesta, consi<strong>de</strong>rando-se a geratriz, é nítido o movimento <strong>de</strong> abertura<br />
para o exterior. A estrutura fun<strong>da</strong>mental do prédio é permeável, <strong>as</strong>sim como <strong>Roma</strong> o era, com um mo<strong>de</strong>lo<br />
bipolar, nem rígido, nem homogêneo, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal, social e nacional.<br />
O culto <strong>de</strong> Vesta, segundo a tradição, foi instituído em <strong>Roma</strong> por Numa Pompílio, que teria<br />
escolhido <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> Vestais, sacerdotis<strong>as</strong> <strong>de</strong>dicad<strong>as</strong> ao culto <strong>da</strong> <strong>de</strong>usa, e teria construído seu primeiro<br />
templo que, no âmbito <strong>da</strong> arquitetura religiosa, por sua planta circular, como vimos, representa o típico lugar<br />
<strong>da</strong> hierofania. As sacerdotis<strong>as</strong> Vestais faziam parte do Colégio dos Pontífices, também instituído por Numa,<br />
junto aos quinze sacerdotes que regulamentavam os cultos em <strong>Roma</strong> e controlavam os cultos tidos como<br />
“estrangeiros”. El<strong>as</strong> tinham lugar reservado no Circo Máximo, em eventos comemorativos e outr<strong>as</strong><br />
manifestações cívic<strong>as</strong> roman<strong>as</strong>, dispunham livremente dos seus bens e podiam ser enterrad<strong>as</strong> na<br />
circunscrição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o pomerium(9). Escolhid<strong>as</strong> entre menin<strong>as</strong> patríci<strong>as</strong> para exercerem sua função por<br />
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