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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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entre algum<strong>as</strong> hetaírai, como nos mostra uma p<strong>as</strong>sagem em que uma cortesã se põe a <strong>da</strong>nçar em um<br />

banquete e provoca outra, que teria pern<strong>as</strong> <strong>de</strong>m<strong>as</strong>ia<strong>da</strong>mente fin<strong>as</strong> para mostrá-l<strong>as</strong> em público, m<strong>as</strong> que<br />

prontamente aceita o <strong>de</strong>safio, unicamente para não per<strong>de</strong>r a atenção dos conviv<strong>as</strong> (LUCIANO. Diálogo d<strong>as</strong><br />

Cortesãs, v.3).<br />

Defen<strong>de</strong>mos que essa postura mais individualista <strong>as</strong>sumi<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> hetaírai influiu para que o<br />

processo <strong>de</strong> construção e auto-reconhecimento <strong>de</strong> su<strong>as</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, tanto grupal como individual, se<br />

constituísse <strong>de</strong> maneira divergente aos dos ci<strong>da</strong>dãos e d<strong>as</strong> espos<strong>as</strong> legítim<strong>as</strong> atenienses, por exemplo.<br />

Como já foi visto em recentes trabalhos <strong>da</strong> historiografia, os ci<strong>da</strong>dãos e <strong>as</strong> espos<strong>as</strong> legítim<strong>as</strong><br />

atenienses se reconhecem como indivíduos, e, mais que isso, como integrantes <strong>de</strong> um grupo(7). Tais grupos<br />

exercem um tipo <strong>de</strong> coesão social que se mantém através <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> integração, interações sociais,<br />

exclusões e conflitos(8).<br />

A documentação evi<strong>de</strong>ncia tamanha gama <strong>de</strong> condut<strong>as</strong> e <strong>de</strong>stinos, que nos parece muito mais<br />

palpável acreditar que <strong>as</strong> cortesãs atenienses se i<strong>de</strong>ntificavam através dos outros como indivíduos, m<strong>as</strong> não<br />

conseguiam dispor <strong>de</strong> ferrament<strong>as</strong> suficientes para se reconhecerem como grupo. Assim, consi<strong>de</strong>ramos que<br />

o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> d<strong>as</strong> hetaírai se <strong>da</strong>va apen<strong>as</strong> <strong>de</strong> forma parcial ou incompleta, pois, em<br />

certa medi<strong>da</strong>, po<strong>de</strong>-se dizer que: el<strong>as</strong> sabiam o que não eram, pois reconheciam os outros; sabiam o que<br />

gostariam <strong>de</strong> ser; m<strong>as</strong>, ironicamente, não sabiam o que eram, ou melhor dizendo, a que grupo pertenciam.<br />

Indo um pouco além, nos parece que essa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> pel<strong>as</strong> hetaírai em se<br />

enten<strong>de</strong>rem e, portanto, agirem como grupo resultava <strong>de</strong> forma negativa sobre seu <strong>de</strong>sempenho n<strong>as</strong> relações<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r em que estavam inserid<strong>as</strong>. Consi<strong>de</strong>ramos que, como indivíduos isolados e que competiam entre si,<br />

sua força, influência e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha se tornavam muito mais insipientes do que po<strong>de</strong>riam ser c<strong>as</strong>o<br />

atu<strong>as</strong>sem como um grupo coeso.<br />

Ao longo <strong>de</strong>ste trabalho, vimos que, normalmente, <strong>as</strong> hetaírai não gozavam <strong>de</strong> uma situação<br />

privilegia<strong>da</strong>, m<strong>as</strong> com isso não queremos dizer que eram vítim<strong>as</strong> <strong>da</strong> exploração m<strong>as</strong>culina, pois enten<strong>de</strong>mos<br />

que to<strong>da</strong> a sua preparação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seus caminhos no mundo dos prazeres começavam a serem traçados,<br />

el<strong>as</strong> aprendiam a tirar o maior proveito possível d<strong>as</strong> situações em que se encontravam, se utilizando d<strong>as</strong><br />

arm<strong>as</strong> <strong>de</strong> que dispunham para se inserirem na dinâmica <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> pólis.<br />

Os resultados <strong>de</strong> sua atuação não ficam muito claros através <strong>da</strong> leitura <strong>da</strong> documentação, contudo<br />

esta nos mostra que longe <strong>de</strong> serem elementos p<strong>as</strong>sivos n<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> do seu dia-a-dia e nos contatos sociais<br />

que estabeleciam com os ci<strong>da</strong>dãos sempre agiram na intenção <strong>de</strong> garantirem para si um melhor presente e<br />

futuro.<br />

NOTAS:<br />

(1) Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comportamento i<strong>de</strong>al d<strong>as</strong> espos<strong>as</strong> bem-n<strong>as</strong>cid<strong>as</strong> atenienses (LESSA, 2004, p. 12).<br />

(2) Figur<strong>as</strong> 1 e 2: Localização: Malibu, J. Paul Getty Museum 80A.E.31. Temática: Sympósion/ Prostituição.<br />

Proveniência: Não Forneci<strong>da</strong>. Forma: Kýlix. Estilo: Figur<strong>as</strong> Vermelh<strong>as</strong>. Pintor: Phinti<strong>as</strong>. Data: ce. 500 a.C.<br />

Indicações Bibliográfic<strong>as</strong>: KEULS, 1997, p.408, fig.65 e 66.<br />

(3) Figura 3: Localização: Athens, Kerameikos Museum 1063. Temática: Prostituição. Proveniência: Athens,<br />

Ceramicus. Forma: Askós. Estilo: Figur<strong>as</strong> Vermelh<strong>as</strong> em Terracota. Pintor: Não Fornecido. Data: ce. 450 a.C.<br />

Indicações Bibliográfic<strong>as</strong>: KEULS, 1993, p.178, fig.160; VRISSIMTZIS, 2002, p.68, fig.27.<br />

(4) Figur<strong>as</strong> 4 e 5: Localização: Toledo, Ohio, 72.55. Temática: Negociação. Proveniência: Não Forneci<strong>da</strong>.<br />

Forma: Kýlix. Estilo: Figur<strong>as</strong> Vermelh<strong>as</strong>. Pintor: Makron. Data: 500-450 a.C. Indicações Bibliográfic<strong>as</strong>:<br />

KEULS, 1993, p.167, fig.141 e 142; p.227, fig.204; 1997, p.392, fig.33 e 34, p.393, fig.35.<br />

(5) A presença do aulós evi<strong>de</strong>ncia que aquel<strong>as</strong> <strong>de</strong>veriam ser cortesãs do mais alto nível, posto que <strong>as</strong><br />

auletrí<strong>de</strong>s (tocador<strong>as</strong> <strong>de</strong> aulós) eram <strong>as</strong> mais car<strong>as</strong> e mais disputad<strong>as</strong> profissionais do prazer em Aten<strong>as</strong><br />

(CERQUEIRA, 2005, pp.40-1).<br />

(6) Figura 6: Localização: Berlin, Antikensammlung 2269. Temática: Prostituiçã/ Philía. Proveniência: Italy,<br />

Chiusi. Forma: Kýlix. Estilo: Figur<strong>as</strong> Vermelh<strong>as</strong>. Pintor: Kiss Painter. Data: 525-475 a.C. Indicações<br />

Bibliográfic<strong>as</strong>: KEULS, 1993, p.192, fig.174; LEWIS, 2002, p.124, fig.3.25.<br />

(7) Para a questão dos ci<strong>da</strong>dãos, ver: THEML, 1997. Para a questão d<strong>as</strong> espos<strong>as</strong>, ver: LESSA, 2001 e 2004.<br />

(8) Segundo Tomaz Ta<strong>de</strong>u <strong>da</strong> Silva, a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> só po<strong>de</strong> ser construí<strong>da</strong> em um <strong>as</strong>pecto relacional com os<br />

outros, ou seja, quando o indivíduo reconhece o que ele é, automaticamente também conclui o que não é e<br />

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