05.11.2012 Views

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

uma guerra entre os indivíduos e <strong>de</strong> enca<strong>de</strong>ar os atos <strong>de</strong> vingança. O direito é, pois, uma maneira<br />

regulamenta<strong>da</strong> <strong>de</strong> fazer a guerra, [...] a forma ritual <strong>da</strong> guerra."( FOUCAULT, M. 1996, p. 56-57.)<br />

Os gigantes foram subjugados por Wotan e a paz foi instituí<strong>da</strong> através <strong>de</strong> um acordo. Foucault diz o<br />

seguinte sobre isso: "[...] se é ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que não há oposição entre direito e guerra, não é menos ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que<br />

é possível chegar a um acordo, isto é, interromper ess<strong>as</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s regulamentad<strong>as</strong>. O antigo direito<br />

germânico oferece sempre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao longo <strong>de</strong>ssa série <strong>de</strong> vinganç<strong>as</strong> recíproc<strong>as</strong> e rituais, <strong>de</strong> se<br />

chegar a um acordo, a uma transação. Po<strong>de</strong>-se interromper a série <strong>de</strong> vinganç<strong>as</strong> com um pacto."( I<strong>de</strong>m.)<br />

O pacto foi o já visto acima, ou seja, a construção do Valhalla em troca <strong>da</strong> <strong>de</strong>usa Freia, e estaria<br />

vinculado ao subjugo dos gigantes por Wotan <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma sangrenta guerra. Esse pacto foi autenticado<br />

pel<strong>as</strong> run<strong>as</strong>, inscrit<strong>as</strong> na lança do rei dos <strong>de</strong>uses, o que, conforme falou F<strong>as</strong>olt, <strong>as</strong>segura o seu po<strong>de</strong>r sobre<br />

eles. Foucault diz ain<strong>da</strong> que no momento do acordo, "os dois adversários recorrem a um árbitro que, <strong>de</strong><br />

acordo com eles e com seu consentimento mútuo, vai estabelecer uma soma em dinheiro, que constitui o<br />

resgate. [...] Nesse procedimento do Direito Germânico um dos dois adversários resgata o direito <strong>de</strong> ter a paz,<br />

<strong>de</strong> escapar à possível vingança <strong>de</strong> seu adversário. Ele resgata a própria vi<strong>da</strong> e não o sangue que <strong>de</strong>rramou,<br />

pondo <strong>as</strong>sim fim à guerra."( I<strong>de</strong>m. )<br />

O árbitro neste c<strong>as</strong>o foi o semi<strong>de</strong>us Loge, encarregado <strong>de</strong> inspecionar a fortaleza para verificar se<br />

não houve falh<strong>as</strong> na construção, o que po<strong>de</strong>ria anular o pacto: "C<strong>as</strong>a e pátio, entra<strong>da</strong> e c<strong>as</strong>telo, a nobre<br />

fortaleza já está construí<strong>da</strong> e é forte. Eu mesmo comprovei o radiante muro, e examinei com cui<strong>da</strong>do se to<strong>da</strong><br />

ela era firme e segura. Encontrei F<strong>as</strong>olt e Fafner dignos <strong>de</strong> confiança: nem uma só pedra se move."(<br />

WAGNER, R. Op. Cit., p. 25.)<br />

O teônimo Odin <strong>de</strong>riva do termo od, cujo significado é an<strong>da</strong>r, hábito que pratica to<strong>da</strong> vez que vai à<br />

Terra, tomando a forma <strong>de</strong> um viajante. Nest<strong>as</strong> oc<strong>as</strong>iões usa um chapéu <strong>de</strong> ab<strong>as</strong> larg<strong>as</strong>, sendo que uma<br />

<strong>de</strong>l<strong>as</strong> cobre o seu olho esquerdo, <strong>da</strong>do a Mímir em troca <strong>de</strong> um gole <strong>da</strong> água <strong>da</strong> fonte <strong>da</strong> sabedoria. Veste<br />

um manto <strong>de</strong> vári<strong>as</strong> cores, no qual predomina o azul, a cor do céu. De acordo com Niedner, “o chapéu <strong>de</strong><br />

Odin representa a abóba<strong>da</strong> arredon<strong>da</strong><strong>da</strong> do céu; seu manto azul ou <strong>de</strong> vári<strong>as</strong> cores é a atmosfera ou o céu<br />

azul; um e outro simbolizam a proteção.”( NIEDNER, H. 1997, p. 55.)<br />

Odin era cultuado também como um <strong>de</strong>us <strong>da</strong> guerra, apesar <strong>de</strong> Týr ser a divin<strong>da</strong><strong>de</strong> dos combates.<br />

Era o rei dos <strong>de</strong>uses quem escolhia os guerreiros que tombavam no campo <strong>de</strong> batalha com honra, os<br />

chamados einherjar, enviando <strong>as</strong> Valquíri<strong>as</strong> para resgatá-los. Tal procedimento tinha como objetivo engor<strong>da</strong>r<br />

<strong>as</strong> fileir<strong>as</strong> dos <strong>de</strong>uses, que <strong>de</strong>veriam estar bem preparados para o conflito final, o Ragnarök, no qual se<br />

bateriam contra seus inimigos mortais, os gigantes do gelo e <strong>da</strong> montanha. O ato <strong>de</strong> escolher guerreiros<br />

mortos em combate e conduzi-los através d<strong>as</strong> Valquíri<strong>as</strong> para o Valhalla, o faz um <strong>de</strong>us psicopompo, ou seja,<br />

uma divin<strong>da</strong><strong>de</strong> condutora <strong>de</strong> alm<strong>as</strong>. Essa característica, além <strong>da</strong> criação d<strong>as</strong> run<strong>as</strong>, que surgiram à sua frente<br />

após ter perdido o olho esquerdo e ter se ferido e <strong>de</strong>pendurado na árvore <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, fez com que Tácito o<br />

compar<strong>as</strong>se ao <strong>de</strong>us romano Mercúrio: ”<strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>uses, Mercúrio é o que mais veneram, e, em di<strong>as</strong><br />

<strong>de</strong>terminados, consi<strong>de</strong>ram um <strong>de</strong>ver piedoso sacrificar-lhe mesmo vítim<strong>as</strong> human<strong>as</strong>.”( TÁCITO. A Germânia.<br />

p. 18.) O fato é que Mercúrio, além <strong>de</strong> ser um <strong>de</strong>us ligado à palavra, já que é o mensageiro dos olímpicos,<br />

especialmente <strong>de</strong> Júpiter, é o responsável pela condução d<strong>as</strong> alm<strong>as</strong> dos mortos. Assim como o grego<br />

Hermes, Mercúrio “tornou-se o <strong>de</strong>us psicopompo, quer dizer, condutor <strong>de</strong> alm<strong>as</strong>, sem o que est<strong>as</strong> não<br />

po<strong>de</strong>riam alcançar a eterni<strong>da</strong><strong>de</strong> e felici<strong>da</strong><strong>de</strong>. [...] Deus indo-europeu dos p<strong>as</strong>tores, cuja len<strong>da</strong> estava liga<strong>da</strong> ao<br />

carneiro <strong>de</strong> velocino <strong>de</strong> ouro [...], transformou-se no mensageiro dos imortais do Olimpo, em <strong>de</strong>us<br />

psicopompo e em <strong>de</strong>us d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> ocult<strong>as</strong>.” (BRANDÃO, Op. Cit., p. 72-73.)<br />

Outra característica que o faz <strong>as</strong>semelhar-se a Mercúrio é o fato <strong>de</strong> Odin ser um <strong>de</strong>us embusteiro:<br />

“era consi<strong>de</strong>rado inconstante e pensava-se que às vezes se voltava contra seus fiéis <strong>da</strong>ndo a vitória <strong>da</strong><br />

batalha ao bando oposto. Por esta razão, um <strong>de</strong> seus numerosos nomes era o <strong>de</strong> Deus Trapaceiro.”(<br />

BARRETT, C. 1991,p. 21.)<br />

A façanha que escreveu com letr<strong>as</strong> garrafais o nome dos germanos como gran<strong>de</strong>s guerreiros e<br />

conquistadores foi, sem sombra <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong>, a que<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>Roma</strong>. Foram somente <strong>as</strong> tribos germânic<strong>as</strong>, <strong>as</strong><br />

responsáveis pela que<strong>da</strong> <strong>da</strong> então ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mais importante do planeta? Segundo Foucault, “esse absolutismo<br />

romano que foi implantado por certo número <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> dominação, foi finalmente <strong>de</strong>rrubado, varrido,<br />

vencido, pelos germanos — menos, aliás pelos ac<strong>as</strong>os <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>rrota militar do que pela necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção interna.”( FOUCAULT, M. 2000, p.173.) Os germanos, ou especificamente os francos (uma<br />

62

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!