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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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acessível por uma esca<strong>da</strong>. Com exceção do Templo <strong>de</strong> Vesta, o espaço interno do edifício não era um local<br />

<strong>de</strong> culto. Cultos e rituais ocorriam do lado <strong>de</strong> fora.<br />

A posição i<strong>de</strong>al para um templo era o espaço amplo, que servia <strong>de</strong> cenário para manifestaçoes<br />

religios<strong>as</strong> a céu aberto. A concepção romana <strong>de</strong> templum liga-se ao solo consagrado e ao espaço que lhe<br />

correspon<strong>de</strong> no céu, e não propriamente ao edifício. O templo, no período clássico, compreendia o edifício e<br />

a praça <strong>de</strong> acesso, on<strong>de</strong> estava o altar em que se praticava os rituais. O Templo <strong>de</strong> Vesta era uma exceção.<br />

Nele os ritos eram realizados pel<strong>as</strong> Vestais no seu interior, sua disposição circular constituía o altar. Nos<br />

templos <strong>de</strong> partido arquitetônico retangular, a circulação se fazia ao redor <strong>de</strong> altares externos, cuja forma<br />

comum era a circular. Em todos os c<strong>as</strong>os os rituais obe<strong>de</strong>ciam à circulari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Os primeiros templos romanos foram mo<strong>de</strong>st<strong>as</strong> apropriações <strong>da</strong> arquitetura dos etruscos e latinos<br />

que os prece<strong>de</strong>ram, e <strong>da</strong> arquitetura d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> que dominaram e, a princípio, foram ensaios <strong>de</strong> engenharia<br />

que buscavam maior pratici<strong>da</strong><strong>de</strong> quanto aos sistem<strong>as</strong> estruturais e melhores aplicações dos materiais<br />

disponíveis. Ao longo do período republicano, a tendência a glorificar <strong>as</strong> conquist<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> e a tendência a<br />

divulgar e disseminar entre os romanos o sentimento <strong>de</strong> orgulho pela sua magnitu<strong>de</strong> e força, trouxe a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções estruturais mais eficientes, que suport<strong>as</strong>sem <strong>as</strong> dimensões <strong>da</strong> gran<strong>de</strong>za e <strong>da</strong><br />

riqueza <strong>de</strong> <strong>Roma</strong>, e que <strong>de</strong>ssem conta <strong>da</strong> escala ciclópica dos novos prédios, que <strong>as</strong>seguravam, diante d<strong>as</strong><br />

divin<strong>da</strong><strong>de</strong>s, o reconhecimento pelo apoio <strong>da</strong>do. Depois d<strong>as</strong> inovador<strong>as</strong> soluções <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> argam<strong>as</strong>sa<br />

<strong>de</strong> concreção e <strong>da</strong> experiência com a utilização d<strong>as</strong> arcad<strong>as</strong>, que possibilitaram a construção <strong>de</strong> v<strong>as</strong>tos<br />

espaços interiores, a arquitetura romana pô<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>r <strong>as</strong> dimensões d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> edificações, atingindo uma<br />

escala volumétrica contun<strong>de</strong>nte, com prevalência do paralelismo e <strong>da</strong> simetria. As or<strong>de</strong>ns clássic<strong>as</strong>(3)<br />

permaneceram como elementos ornamentais. As pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sustentação se abriram em janel<strong>as</strong> e óculos(4),<br />

<strong>as</strong> arquitraves irromperam em tímpanos(5) e curv<strong>as</strong> inclinad<strong>as</strong> para a frente <strong>da</strong> facha<strong>da</strong> ou apoiad<strong>as</strong> em<br />

arcad<strong>as</strong>, com uma dramatici<strong>da</strong><strong>de</strong> teatral. A arquitetura e a arte <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> apresentam o elemento subjetivo<br />

que fun<strong>da</strong>menta a idéia do que, séculos <strong>de</strong>pois, foi <strong>de</strong>nominado Cl<strong>as</strong>sicismo. A arquitetura pública é<br />

ostensiva, monumental e grandiloqüente, reiterando a altivez do Estado universalizado no qual os indivíduos<br />

se diluem. O equilíbrio dos partidos(6) e a soli<strong>de</strong>z dos edifícios inspiram serie<strong>da</strong><strong>de</strong> e imponência, <strong>de</strong>notando a<br />

duradoura soberania romana sobre o mundo conhecido.<br />

Aqueles que criam, os artist<strong>as</strong>, artífices, construtores, preten<strong>de</strong>m <strong>da</strong>r forma à idéia, eidós,<br />

projetando uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> na qual os meios empírico-técnicos <strong>de</strong> representação se transformam em imagens<br />

materiais <strong>da</strong> praxis humana, os pragmata, imagens ôntic<strong>as</strong> que atuam como ícones <strong>de</strong> remetimento às<br />

cognições simbólic<strong>as</strong>. Esta tentativa <strong>de</strong> largo alcance para imprimir or<strong>de</strong>m ao caos, hipost<strong>as</strong>iando os<br />

símbolos afixados nos objetos para o universo ontológico é sempre uma micro-cosmogonia. É por se realizar<br />

na esfera ontológica que o sagrado se diferencia do profano e <strong>as</strong>cen<strong>de</strong> à esfera do simbólico e, neste<br />

sentido, <strong>as</strong> construções são sempre criações <strong>de</strong> mundo; e <strong>as</strong> construções religios<strong>as</strong>, concretizador<strong>as</strong> do<br />

espaço sagrado, são representações simétric<strong>as</strong> <strong>da</strong> cosmogonia. Des<strong>de</strong> os prolegômenos <strong>da</strong> geometria<br />

<strong>de</strong>scritiva, <strong>as</strong> construções <strong>de</strong> partido circular, tais como <strong>as</strong> cúpul<strong>as</strong> e <strong>as</strong> abóbad<strong>as</strong> - cúpul<strong>as</strong> imperfeit<strong>as</strong> -,<br />

foram sempre imaginad<strong>as</strong> pelos arquitetos como representação <strong>da</strong> abóba<strong>da</strong> celeste, e a sua projeção no<br />

solo, o círculo, seria a projeção do mundo celeste no mundo <strong>da</strong> terra. A arquitetura é imago mundi e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

sua primeira manifestação, a c<strong>as</strong>a, ela edifica mundos sucessivos, se pensarmos em uma escala <strong>de</strong><br />

transcendência.<br />

O Templo <strong>de</strong> Vesta, primitivamente construído com taipa(7) e reedificado por Augusto em concreto<br />

revestido com mármore, é um monóptero, ou seja, tem planta circular com geratriz <strong>de</strong> um só movimento<br />

contínuo. Esta disposição circular <strong>da</strong> planta baixa é remanescente do trullo, pequena construção cilíndrica<br />

termina<strong>da</strong> em cúpula, típica dos povos itálicos, que em sua origem era feita <strong>de</strong> pedr<strong>as</strong> achatad<strong>as</strong>, colocad<strong>as</strong><br />

um<strong>as</strong> sobre <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> com uma certa <strong>de</strong>f<strong>as</strong>agem. Esta mesma técnica <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma cúpula ain<strong>da</strong> é<br />

usa<strong>da</strong> para a construção dos fornos para <strong>as</strong>sar o pão. Mais tar<strong>de</strong>, a pratici<strong>da</strong><strong>de</strong> latina a<strong>da</strong>ptou os trulli às<br />

condições geográfic<strong>as</strong> e eles p<strong>as</strong>saram a ser feitos <strong>de</strong> taipa autoportante, com cobertura cônica vegetal, que<br />

não necessitava <strong>de</strong> um sistema estrutural in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Este tipo <strong>de</strong> aediculum foi utilizado em larga escala<br />

nos campos, on<strong>de</strong> <strong>as</strong> construções arcaic<strong>as</strong> <strong>de</strong> maior significado eram feit<strong>as</strong> em pedra, <strong>de</strong> alvenaria ciclópica,<br />

com cunh<strong>as</strong> e sem argam<strong>as</strong>sa, o que impedia a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> arquitetônica e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>va muito mais<br />

trabalho. A arquitetura urbana do Lácio anterior à fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> <strong>Roma</strong>, tinha partido retangular e utilizava<br />

tijolos, cantaria e ma<strong>de</strong>ira. O partido <strong>da</strong> <strong>Roma</strong> monumental permanece o mesmo, m<strong>as</strong> com cobertur<strong>as</strong><br />

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