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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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conseguir o voto <strong>de</strong> uma <strong>as</strong>sembléia e persuadir um tribunal. Com a retórica e a formação literária que lhe<br />

servia <strong>de</strong> b<strong>as</strong>e, <strong>Roma</strong> logo <strong>de</strong>scobria todos os <strong>as</strong>pectos <strong>da</strong> cultura grega.<br />

Não <strong>de</strong>morou muito para a conquista latina sobre os helenos ren<strong>de</strong>r escravos docentes fruto d<strong>as</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s tomad<strong>as</strong>. Além <strong>da</strong> educação no seio familiar, surgia a agora um ensino público grego ministrado em<br />

escol<strong>as</strong>. Em busca <strong>de</strong> uma formação grega completa, os jovens romanos não se contentarão com os<br />

professores <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> ou os atraído até lá, m<strong>as</strong> irão completar sua educação na Héla<strong>de</strong>. Data <strong>de</strong> 119-118, a<br />

aceitação <strong>de</strong> jovens romanos n<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> efébic<strong>as</strong> <strong>de</strong> Aten<strong>as</strong> e <strong>de</strong> Rho<strong>de</strong>s. Os jovens romanos se<br />

submeterão, também, aos mesmos estudos que os jovens helenos, em aca<strong>de</strong>mi<strong>as</strong> filosófic<strong>as</strong> e escol<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

retórica. Cícero foi um <strong>de</strong> seus alunos.<br />

Abrem-se escol<strong>as</strong> latin<strong>as</strong> ao estilo d<strong>as</strong> helênic<strong>as</strong>. Mesmo havendo escol<strong>as</strong> em que se ensinavam <strong>as</strong><br />

disciplin<strong>as</strong> greg<strong>as</strong>, uma série <strong>de</strong> escol<strong>as</strong> primári<strong>as</strong> (durante os séculos VII-VI), secundári<strong>as</strong> (século III) e<br />

superiores (século I) latin<strong>as</strong> surgiram. Os ensinos primários e secundários seguiam aos mol<strong>de</strong>s gregos:<br />

tabulet<strong>as</strong> <strong>de</strong> marfim, silabários, ensino d<strong>as</strong> letr<strong>as</strong> por obr<strong>as</strong> clássic<strong>as</strong>, em específico a poesia latina, on<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staca-se Lívio Andrônico, primeiro mestre grego em <strong>Roma</strong> e que traduziu a Odisséia para o latim.<br />

Vagarosamente os professores <strong>de</strong> gramática latina foram surgindo, tal qual os Grammatistés helenos. Nos<br />

tempos <strong>de</strong> Augusto, são adotados escritores como Horácio, Terêncio e Virgílio e era honroso citar o último<br />

como um heleno citaria Homero – <strong>de</strong> cor. O ensino superior ganhou força e forma com a retórica sendo a<br />

primeira escola aberta em 93 a.C. Ain<strong>da</strong> pres<strong>as</strong> <strong>as</strong> raízes greg<strong>as</strong>, o estudo <strong>da</strong> oratória ganhou força com a<br />

obra empreendi<strong>da</strong> por Cícero, no sentido <strong>de</strong> tornar possível o estudo <strong>de</strong> sua arte em latim. Seus discursos<br />

eram mo<strong>de</strong>los pelos quais jovens latinos po<strong>de</strong>riam estu<strong>da</strong>r e imitar. Manuais como De Inventione e Partitur<strong>as</strong><br />

Oratóri<strong>as</strong>, ou tratados como De Oratore, Brutus ou Orator revelam trabalhos <strong>de</strong> maior utili<strong>da</strong><strong>de</strong> para os<br />

romanos sem a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r <strong>as</strong> obr<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> átic<strong>as</strong>.<br />

Também a Filosofia e a ciência permaneceram como remanescentes greg<strong>as</strong>. Não houve escola<br />

romana para a filosofia. Marrou <strong>as</strong>sinala que houve uma filosofia romana, <strong>de</strong> domínio pitagórico e epicúreo,<br />

autores que escreveram em latim <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Cícero. M<strong>as</strong> ain<strong>da</strong> sim, esses autores estu<strong>da</strong>ram e<br />

permaneceram fiéis <strong>as</strong> raízes greg<strong>as</strong>. No c<strong>as</strong>o dos estudos matemáticos, <strong>de</strong>senvolveu-se (mais uma vez pela<br />

pratici<strong>da</strong><strong>de</strong>) a arquitetura e agrimensura. Somente o ensino <strong>da</strong> medicina acaba sendo naturalizado em <strong>Roma</strong><br />

(MARROU, 1990, p. 390).<br />

Mesmo com tod<strong>as</strong> est<strong>as</strong> distânci<strong>as</strong>, o fato é que um romano culto versará em latim e em grego. A<br />

recíproca, no entanto não é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira. Enquanto os latinos viam no estudo <strong>de</strong> uma segun<strong>da</strong> língua, um meio<br />

<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e aperfeiçoar seu próprio idioma, os gregos não esforçaram-se para apren<strong>de</strong>r latim, se não por<br />

uma pequena elite, ou aqueles que <strong>de</strong>stinavam-se a ingressar no exercito ou estu<strong>da</strong>r o Direito.<br />

Mesmo com tant<strong>as</strong> especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s e aproximações, tanto a educação helênica como a romana<br />

acabaram por p<strong>as</strong>sar por um mesmo momento <strong>de</strong> crise. Na transição do Período Clássico para o Helenístico,<br />

o sistema educacional grego p<strong>as</strong>sava por uma crise <strong>de</strong> valores. Com o advento e aumento do ensino <strong>da</strong><br />

sofística, especialmente em Aten<strong>as</strong>, temos uma proliferação <strong>de</strong> professores que ofereciam aul<strong>as</strong> cobrad<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

retórica e oratória, além <strong>de</strong> tratarem sobre os mais diversos <strong>as</strong>suntos. Era a busca pela excelência no bem<br />

falar e na forma como convencer os seus iguais. Analogamente, temos um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização<br />

dos esportes menos custosos, o que acabou por criar uma cisão em valores e prátic<strong>as</strong> antes tid<strong>as</strong> como<br />

pertencentes a um seio <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ática, os Kaloi Kagathoi, belos e “bem-n<strong>as</strong>cidos”. A mu<strong>da</strong>nça do eixo<br />

educacional ateniense teria se <strong>da</strong>do quando o mo<strong>de</strong>lo harmônico <strong>de</strong> justa medi<strong>da</strong>, ou seja, do equilíbrio entre<br />

físico e psíquico, não mais fosse central.<br />

Em <strong>Roma</strong>, o embate <strong>da</strong>va-se entre a educação tradicional, no seio familiar e a educação nova. De<br />

um lado, estavam os educadores que seguiam o mos maiorum, e do outro, aqueles que <strong>as</strong>similavam e que<br />

procuravam tudo o que havia <strong>de</strong> bom na cultura grega, como é o c<strong>as</strong>o dos Cipiões que <strong>de</strong>fendiam a<br />

complementação d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> (CIRIBELLI, 2006, p.223). Mesmo ain<strong>da</strong> volta<strong>da</strong> para uma virtu<strong>de</strong>, para a<br />

criação <strong>de</strong> homens públicos e honrados, ela não mais <strong>de</strong>tinha seu caráter primitivo.<br />

Terêncio, em uma <strong>de</strong> su<strong>as</strong> comédi<strong>as</strong>, Os Irmãos, atenta para esta reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, tal qual fez<br />

Aristófanes, quando escreveu As Nuvens. Os dois autores buscam trazer ao palco o choque do que seria o<br />

tradicional e o novo. Ressalta uma postura conservadora dos dois autores: o p<strong>as</strong>sado é melhor que o<br />

presente e o presente ain<strong>da</strong> é melhor que o futuro. Neste sentido, a educação tradicional, dos ginásios e<br />

palestr<strong>as</strong>, d<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> esportiv<strong>as</strong> e discussões seriam a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira (e melhor) educação (no c<strong>as</strong>o grego). Já

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