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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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trinta anos, eram liberad<strong>as</strong> <strong>da</strong> tutela paterna, m<strong>as</strong> estavam submetid<strong>as</strong> ao pontifex maximus, o único<br />

indivíduo do sexo m<strong>as</strong>culino com permissão para transitar no templo. As Vestais tinham a função <strong>de</strong> zelar<br />

pela manutenção do fogo eterno, protetor <strong>da</strong> sobrevivência <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que, como <strong>as</strong> virgens Vestais, era<br />

inconspurcável.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que o fenômeno religioso coloca em oposição o sagrado e o profano, escolhendo<br />

como sagrado aquilo que é diferente do que o cerca, <strong>as</strong> Vestais, que <strong>de</strong>senvolviam ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

aparentemente doméstic<strong>as</strong>, não tinham o cândido significado d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong>, geração em potencial, que na<br />

vi<strong>da</strong> doméstica faziam o pão, nem o d<strong>as</strong> matron<strong>as</strong>, geração consuma<strong>da</strong>, responsáveis pelo calor e pela<br />

proteção na c<strong>as</strong>a, corpo <strong>da</strong> família. No que concerne aos comuns atributos <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> feminina, <strong>as</strong> Vestais<br />

eram revestid<strong>as</strong> <strong>de</strong> “tabu”, exercendo o sacro f<strong>as</strong>cínio do interdito, e, para tal, lhes era conferido um caráter<br />

<strong>de</strong> incolumi<strong>da</strong><strong>de</strong>, usualmente dita c<strong>as</strong>ti<strong>da</strong><strong>de</strong>, que é conseqüência <strong>da</strong> ambivalência mítica entre hiero e<br />

cratofania. Se eram mulheres com privilégios cívicos, que utrap<strong>as</strong>savam o limiar dos apanágios m<strong>as</strong>culinos, e<br />

a quem era facultado observar a vi<strong>da</strong> pública, sempre elegantemente paramentad<strong>as</strong>, o fogo que el<strong>as</strong><br />

manipulavam não seria o reservado fogo acalentador, que remeteria a um regaço materno, m<strong>as</strong> o mítico<br />

veículo <strong>de</strong> sublimação e renovação <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, próprio aos rituais agrícol<strong>as</strong>, que repetiam a<br />

<strong>de</strong>struição e a regeneração <strong>da</strong> natureza, e a consciência <strong>de</strong>sta oposição. Se eram matron<strong>as</strong>, o eram <strong>da</strong> terra,<br />

protagonista <strong>da</strong> criação e, como tal, do <strong>de</strong>vir dos elementos e <strong>de</strong> to<strong>da</strong> história. O fogo d<strong>as</strong> Vestais era,<br />

portanto, o prolongamento ígneo <strong>da</strong> luz. Quanto ao mola salsa, pão sagrado reservado aos banquetes em<br />

honra a Júpiter e às principais divin<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Estado, os Di consenti, seria antes poção sagra<strong>da</strong> do que<br />

alimento.<br />

É no domínio <strong>da</strong> ontologia que se distinguem a situação profana e a instância do sagrado, e <strong>as</strong><br />

manifestações do insólito, do extraordinário, do unheimlich, do diferente, fazem parte do conjunto <strong>de</strong><br />

hierofani<strong>as</strong> e cratofani<strong>as</strong> que integram a representação <strong>da</strong> hierofania primordial. É este fenômeno original que<br />

consagra um espaço, singularizando-o e excetuando-o do espaço profano que o circun<strong>da</strong>, e é o espaço<br />

sagrado <strong>de</strong>marcado que garante a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> hierofania que o consagrou. O Templo <strong>de</strong> Vesta estava no<br />

coração do mais sacro e originário lugar <strong>de</strong> <strong>Roma</strong>, o pomerium <strong>de</strong> Rômulo, que é uma alegoria do jardim<br />

cercado, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que abriga a c<strong>as</strong>a, o corpo e os pensamento humanos. O pomerium foi, na instância<br />

ôntica, o centro do alicerce político institucional <strong>da</strong> civit<strong>as</strong>, que exerceu a influência teórico-i<strong>de</strong>ológica mais<br />

duradoura que se conheceu, ultrap<strong>as</strong>sando a esfera mediterrânica para fun<strong>da</strong>r, segundo o mo<strong>de</strong>lo romano, a<br />

tradição em que se b<strong>as</strong>eia o hemisfério oci<strong>de</strong>ntal e instituir um conceito <strong>de</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> que significa ain<strong>da</strong><br />

hoje a coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> civiliza<strong>da</strong>.<br />

O templo <strong>de</strong> Vesta, com diâmetro <strong>de</strong> 15 metros, como visto em 2006.<br />

NOTAS:<br />

(1) SCHEID, J. An Introduction to <strong>Roma</strong>n Religion, Edinburgh: Edinburgh University Press, 2003:17. Segundo<br />

o conceito <strong>de</strong> orthopraxis, o advento <strong>da</strong> sacraliad<strong>de</strong> se dá pela correta execução dos rituais.<br />

(2) VASARI, Giogio. Le vite <strong>de</strong>’ più eccellenti pittori scultori ed architetti. Torino, G. B. Paravia & C., 1821.<br />

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