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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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levar ao regresso ao infinito, à contradição performativa e ao raciocínio circular. Enesi<strong>de</strong>mo <strong>de</strong> Cnossos e<br />

Agripa, a quem se atribui a criação dos principais tropos céticos sistematizados por Sexto em H.P. com<br />

certeza sabiam disso e talvez tenham aprendido com os sofist<strong>as</strong>. Sexto valorizará imensamente esta<br />

estratégia erística, recomen<strong>da</strong>ndo seu uso no <strong>de</strong>bate contra os dogmáticos.<br />

(8) Autentici<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong>tação e questões conceituais são apen<strong>as</strong> alguns dos diversos problem<strong>as</strong> <strong>de</strong>ste diálogo.<br />

Por isso a referência a ele aqui é ilustrativa e serve para <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> à argumentação.<br />

(9) Para Foucault o “conhece-te a ti” será inerente ao “cui<strong>da</strong>-te <strong>de</strong> ti”. Cito: “Digamos esquematicamente:<br />

durante todo este período que chamamos <strong>de</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> e segundo mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s que foram bem diferentes,<br />

a questão filosófica do “como ter acesso à ver<strong>da</strong><strong>de</strong>” e a prática <strong>de</strong> espirituali<strong>da</strong><strong>de</strong> (<strong>as</strong> transformações<br />

necessári<strong>as</strong> no ser mesmo do sujeito que permitirão o acesso à ver<strong>da</strong><strong>de</strong>) são du<strong>as</strong> questões, dois tem<strong>as</strong> que<br />

jamais estiveram separados. Não estiveram separados também para Sócrates e Platão: a epiméleia heautôu<br />

(cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> si) <strong>de</strong>signa precisamente o conjunto d<strong>as</strong> condições <strong>de</strong> espirituali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o conjunto d<strong>as</strong><br />

transformações <strong>de</strong> si que constituem a condição necessária para que se possa ter acesso à ver<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Portanto (...) para os pitagóricos, para Platão, para os estóicos, os cínicos, os epicurist<strong>as</strong>, os neoplatônicos,<br />

etc. (...) como ter acesso à ver<strong>da</strong><strong>de</strong> (...) e quais são <strong>as</strong> transformações no ser mesmo do sujeito (...) são du<strong>as</strong><br />

questões que jamais estiveram separad<strong>as</strong>.” FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito, págs. 20 e 21.<br />

São Paulo: Martins Fontes, 2004.<br />

(10) Esta noção remonta <strong>de</strong> muit<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong> à noção <strong>de</strong> alma <strong>de</strong> Heráclito. Com ele a psiché <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />

um órgão físico relacionado ao “alento”. Thimós e noós responsáveis respectivamente por “movimento” e<br />

“entendimento” (com o perdão <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> aprofun<strong>da</strong>mento nos termos), também órgãos físicos, se tornarão à<br />

partir <strong>de</strong> Heráclito atributos <strong>de</strong> uma psiché anespacial, imaterial, comum a todos e <strong>de</strong> lógos <strong>de</strong>senvolvente.<br />

Para mais ver: SNELL, Bruno. A Cultura Grega e <strong>as</strong> Origens do Pensamento Europeu. Coleção <strong>Estudos</strong>;<br />

Editora Perspectiva, São Paulo: 2001.<br />

(11) Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> os membros d<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> não eram tão tolerantes <strong>as</strong>sim uns com os outros. Esta “disputa <strong>de</strong><br />

mercado dos modos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>” foi algum<strong>as</strong> vezes inspiradora <strong>de</strong> sátir<strong>as</strong> e ironi<strong>as</strong> como <strong>as</strong> feit<strong>as</strong> por Luciano no<br />

final do séc. II.<br />

(12) Há uma confusão em torno <strong>de</strong> no que implicaria o ceticismo epistemológico. Alguns imaginavam que os<br />

Pirrônicos duvi<strong>da</strong>vam d<strong>as</strong> apreensões sensíveis, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgiram <strong>as</strong> lend<strong>as</strong> <strong>de</strong> que Pirro tinha que ser<br />

constantemente socorrido do perigo por seus discípulos. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> o pirronismo dá total <strong>as</strong>sentimento às<br />

percepções sensíveis, trata-se <strong>de</strong> uma doutrina sensualista m<strong>as</strong> que, ao contrário do cirenaísmo ou do<br />

ceticismo acadêmico, não rejeita que haja uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> além, simplesmente recusa afirmar ou negar<br />

qualquer coisa a esse respeito por fazer parte <strong>da</strong> esfera do inapreensível. O sensualismo pirrônico não vê<br />

como exclu<strong>de</strong>ntes du<strong>as</strong> percepções totalmente diferentes do mesmo objeto, isso pelo contrário só faz reforçar<br />

a eqüipolência <strong>de</strong> percepções opost<strong>as</strong> <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se conclui que não é possível a<strong>de</strong>rir a uma percepção em<br />

<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outra a não ser que se recorra ao estabelecimento <strong>de</strong> um critério qualquer para tal, como<br />

faziam os Estóicos com relação às phant<strong>as</strong>ia. Aos Céticos, Sexto recomen<strong>da</strong> que induzam os Estóicos ao<br />

regresso ao infinito e ao raciocínio circular ao questionar qual o critério do critério e <strong>as</strong>sim sucessivamente.<br />

Sobre o consentimento às percepções sensíveis cito d<strong>as</strong> H.P. <strong>de</strong> Sexto o capítulo VIII do livro I: “Nós<br />

seguimos a mesma linha ao respon<strong>de</strong>r à questão “Tem o cético uma regra doutrinal?” Para tal se alguém<br />

<strong>de</strong>fine “regra doutrinal” como “a<strong>de</strong>são a um número <strong>de</strong> dogm<strong>as</strong> que são inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes entre si e d<strong>as</strong><br />

aparênci<strong>as</strong>” e <strong>de</strong>fine “dogma” como “<strong>as</strong>sentimento a proposições sobre cois<strong>as</strong> não evi<strong>de</strong>ntes” <strong>da</strong>í nós<br />

<strong>de</strong>vemos dizer que não tem regra doutrinal. M<strong>as</strong> se <strong>de</strong>fine-se “regra doutrinal” como procedimento ao qual,<br />

<strong>de</strong> acordo com <strong>as</strong> aparênci<strong>as</strong>, segue-se uma certa linha <strong>de</strong> raciocínio, on<strong>de</strong> raciocínio indica a maneira pela<br />

qual é possível viver corretamente ( a palavra corretamente sendo toma<strong>da</strong>, não como se referindo somente à<br />

virtu<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> num sentido mais amplo) e ten<strong>de</strong>ndo a capacitar a suspensão do juízo”, então dizemos que ele<br />

tem uma regra doutrinal. Nós seguimos uma linha <strong>de</strong> raciocínio que, <strong>de</strong> acordo com <strong>as</strong> aparênci<strong>as</strong>, nos leva a<br />

viver corretamente <strong>de</strong> acordo com os costumes <strong>de</strong> nosso país e su<strong>as</strong> leis e instituições, e com nossos<br />

próprios sentimentos instintivos”. (Tradução nossa).<br />

(13) Porchat chegará a mesma conclusão por caminho diferente: “Seja como for, inúmeros outros textos <strong>de</strong><br />

Sexto Empírico são absolutamente <strong>de</strong>cisivos no sentido <strong>de</strong> mostrar-nos que a epoché, tal como preconiza<strong>da</strong><br />

pelo ceticismo grego (<strong>de</strong>ste excluindo-se, por certo, a filosofia probabilista <strong>da</strong> Nova Aca<strong>de</strong>mia), punha em<br />

xeque a exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong> do mundo, em geral. Contra os filósofos que, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o caráter a<strong>de</strong>quado e<br />

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