Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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a ampliação do consumo. Devemos lembrar que Rostovtzeff e seus seguidores foram chamados <strong>de</strong><br />
Mo<strong>de</strong>rnist<strong>as</strong> e a teoria <strong>de</strong> Weber foi <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> Primitivista.<br />
Moses Finley estruturou o mo<strong>de</strong>lo primitivo <strong>de</strong>finindo a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> romana como um centro <strong>de</strong> consumo,<br />
on<strong>de</strong> não havia espaço para a existência <strong>de</strong> um mercado único, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> inúmeros pequenos mercados<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, relacionados com <strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido não só às dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> transportes, que<br />
se tornavam obstáculos ao <strong>de</strong>senvolvimento do comércio à média e longa-distância. Além disso, o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
compra <strong>da</strong> plebe urbana era <strong>de</strong>m<strong>as</strong>iado esc<strong>as</strong>so.<br />
Não nos cabe aqui optar por um mo<strong>de</strong>lo em <strong>de</strong>trimento do outro. Nosso objetivo é tão somente<br />
apresentar <strong>as</strong> principais teori<strong>as</strong> a respeito <strong>da</strong> discussão em torno do tema relativo a questões econômic<strong>as</strong> na<br />
Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto, <strong>de</strong>vemos ressaltar o que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Keith Hopkins (1981: 36).: “O predomínio do<br />
imposto acrescido <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> estabeleci<strong>da</strong> sobre <strong>as</strong> troc<strong>as</strong> comerciais sublinha a opinião comum <strong>de</strong> que no<br />
mundo romano a relação entre o campo e a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> era em gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong> uma relação <strong>de</strong> exploração. As<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s eram centro <strong>de</strong> consumo que absorviam a maior parte tanto do produto dos seus próprios habitantes<br />
como dos exce<strong>de</strong>ntes agrícol<strong>as</strong>”<br />
Em princípios do século III, apesar <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r político na Itália central, <strong>Roma</strong> tinha uma economia<br />
simples, qu<strong>as</strong>e <strong>de</strong> subsistência. A infraestrutura era pequena e não havia instituições como um exército<br />
profissional ou uma burocracia permanente que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ssem <strong>da</strong> existência regular <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes. A<br />
cunhagem <strong>de</strong> moe<strong>da</strong> era qu<strong>as</strong>e inexistente ou inútil e o comércio provavelmente b<strong>as</strong>tante reduzido. As<br />
principais preocupações do Estado estavam voltad<strong>as</strong> para a conquista d<strong>as</strong> tribos que habitavam <strong>as</strong><br />
montanh<strong>as</strong> e a rivali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre aristocrat<strong>as</strong> e os <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> recursos alheios. Todos estes fatores nos<br />
levam a crer que a economia romana <strong>de</strong>ste período estava domina<strong>da</strong> por um grupo <strong>de</strong> pequenos<br />
proprietários rurais livres, auto-suficientes, ou seja, por camponeses que possuíam e cultivavam su<strong>as</strong><br />
própri<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>. (HOPKINS, 1981: 34).<br />
Portanto, a economia romana <strong>de</strong>ste período era fixa<strong>da</strong> sobre os alicerces <strong>da</strong> agricultura. O romano<br />
b<strong>as</strong>eava sua vi<strong>da</strong> no solo, construía <strong>as</strong> al<strong>de</strong>i<strong>as</strong> em função dos agricultores e produtos d<strong>as</strong> redon<strong>de</strong>z<strong>as</strong> e o<br />
Estado atuava no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e expandir su<strong>as</strong> posses.(DURANT, 1999:61). A gran<strong>de</strong> força <strong>de</strong><br />
trabalho voltava-se para a produção <strong>de</strong> alimentos cuja maior parte era consumi<strong>da</strong> pelos próprios produtores.<br />
O <strong>as</strong>pecto auto-suficiente era o elemento mais importante <strong>da</strong> economia romana. Além disso, é provável que<br />
os camponeses produzissem a maior parte do seu próprio alimento reduzindo <strong>as</strong>sim a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
intercambio entre eles.(HOPKINS, 1981: 29).<br />
Um dos fatores responsáveis pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> agricultura romana residiu em sua localização<br />
geográfica. A posição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>-estado na bacia mediterrânica é um fato que <strong>de</strong>ve ser levado em<br />
consi<strong>de</strong>ração quando mencionamos a expansão do comércio.(GIORDANI, 1968: 125).<br />
A evi<strong>de</strong>ncia do valor <strong>de</strong>st<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para a vi<strong>da</strong> social romana po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> através dos<br />
<strong>as</strong>suntos sagrados. Na religião romana dos primeiros séculos, os <strong>de</strong>uses que protegiam a agricultura eram<br />
tão importantes quantos os <strong>de</strong>uses correspon<strong>de</strong>ntes que protegiam o gado, o que mostra ter a agricultura,<br />
constituído a b<strong>as</strong>e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> econômica em <strong>Roma</strong>.(ROSTOVTZEFF, 1983: 29).<br />
Todos estes fatores reforçam a perspectiva <strong>de</strong> que em <strong>Roma</strong>, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> era um gran<strong>de</strong> centro<br />
consumidor d<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> produzid<strong>as</strong> pelo campo. Assim, po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r que a conquista <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> e mais<br />
férteis terr<strong>as</strong>, bem como <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> técnic<strong>as</strong> agrícol<strong>as</strong> mais <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> – como o tratado do cartaginês<br />
Magão – contribuiu <strong>de</strong> maneira consi<strong>de</strong>rável para a afirmação <strong>de</strong>sta situação bem como para o<br />
enriquecimento <strong>da</strong> elite forma<strong>da</strong> pelos produtores rurais.<br />
Por outro lado não po<strong>de</strong>mos esquecer que a indústria romana alcançou, neste período, consi<strong>de</strong>rável<br />
<strong>de</strong>senvolvimento. A metalurgia b<strong>as</strong>ea<strong>da</strong> principalmente na extração do ferro e <strong>de</strong> metais preciosos que<br />
atendiam a gran<strong>de</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares e monetári<strong>as</strong>. A indústria mineradora foi o único setor <strong>da</strong><br />
economia antiga que <strong>de</strong>u lugar a uma exploração do tipo pré-industrial, em gran<strong>de</strong> escala, com a existência<br />
<strong>de</strong> instalações técnic<strong>as</strong> muito <strong>de</strong>senvolvid<strong>as</strong> e integrad<strong>as</strong>, uma forte concentração <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra duramente<br />
explora<strong>da</strong> e recursos financeiros consi<strong>de</strong>ráveis. (NICOLET, 1982: 71).<br />
É preciso ressaltar, contudo que a participação do setor industrial na economia romana <strong>de</strong>senvolveu-se<br />
a partir <strong>de</strong> sua expansão política através <strong>da</strong> península itálica. Em Salerno, Sulmona e outr<strong>as</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s a<br />
indústria <strong>de</strong> ferro era alimenta<strong>da</strong> pelo mineral extraído d<strong>as</strong> min<strong>as</strong> <strong>da</strong> região <strong>de</strong> Elba. A Campänia produzia<br />
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