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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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XIX. Ele disse, porém, que duvidou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si qual a importância que esta aparição po<strong>de</strong>ria ter. E enquanto<br />

ele continuou a pon<strong>de</strong>rar e pensar sobre esta questão, a noite subitamente chegou; então em seu sono o<br />

Cristo <strong>de</strong> Deus apareceu a ele com o mesmo sinal que ele havia visto nos céus, e or<strong>de</strong>nou-lhe que fosse feita<br />

uma cópia <strong>da</strong>quele sinal que ele vira nos céus, e que o us<strong>as</strong>se como uma proteção em todos os confrontos<br />

com os inimigos. (O grifo é nosso)<br />

Anônimo, Panegíricos Latinos, VII (VI) 21, 4-7<br />

XXI. 4. Pois imagino viste, Constantino, a teu protetor Apolo, acompanhado <strong>da</strong> Vitória, oferecer-te coro<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

louro d<strong>as</strong> quais ca<strong>da</strong> uma te traz o presságio <strong>de</strong> trinta anos. Este é, com efeito, o número d<strong>as</strong> gerações<br />

human<strong>as</strong> que <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> form<strong>as</strong> te <strong>de</strong>vem, e que prolongarão tua vi<strong>da</strong> para além <strong>da</strong> velhice <strong>de</strong> Nestor. 5. E,<br />

em ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, por que digo “creio”? Tu viste ao <strong>de</strong>us e te reconheceste sob <strong>as</strong> form<strong>as</strong> <strong>da</strong>quele a quem os<br />

cantos divinos dos poet<strong>as</strong> predisseram estava <strong>de</strong>stinado o império <strong>de</strong> todo o mundo. 6. Estimo que este reino<br />

chegou agora, posto que és tu, imperador, igual a ele, jovem, alegre, salutar e belíssimo. 7. Com razão, pois,<br />

tendo honrado tu estes augustos templos com oferend<strong>as</strong> tão ric<strong>as</strong> que eles não se precipitam já <strong>as</strong> antig<strong>as</strong><br />

oferend<strong>as</strong> e que todos os templos parecem já chamar-te com seus votos, em especial o <strong>de</strong> nosso Apolo,<br />

cuj<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> ar<strong>de</strong>ntes c<strong>as</strong>tigam os perjúrios que tu, mais que ninguém, <strong>de</strong>ves <strong>de</strong>testar. (O grifo é nosso)<br />

Como falado no início <strong>de</strong> nossa comunicação, hierofania seria “a manifestação <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

que não pertence ao nosso mundo – em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo “natural”<br />

(ELIADE: 1999, 17), no excertos supracitados apresentam dois momentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Constantino, no<br />

primeiro, representado pelo Panegírico, temos a manifestação <strong>de</strong> Apolo a Constantino após su<strong>as</strong> campanh<strong>as</strong><br />

na Gália, em fins <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 300; no segundo, temos a aparição <strong>de</strong> um sinal sagrado a Constantino, e a<br />

aparição <strong>de</strong> Jesus Cristo ao Imperador (no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Eusébio). P<strong>as</strong>semos inicialmente os relatos cristãos.<br />

Nesse c<strong>as</strong>o, há dois relatos acerca <strong>da</strong> mesma hierofania, em Lactâncio – aparição <strong>de</strong> um<br />

cristograma em seu sonho, o qual foi gravado nos escudos dos sol<strong>da</strong>dos –, em Eusébio, a aparição <strong>de</strong> uma<br />

cruz <strong>de</strong> luz no céu circun<strong>da</strong><strong>da</strong> pela fr<strong>as</strong>e “Nesse símbolo triunfe”, segui<strong>da</strong> <strong>de</strong> um sonho no qual Cristo<br />

aparece ao imperador or<strong>de</strong>nando-lhe que fizesse um troféu <strong>de</strong> guerra igual àquele sinal.<br />

Esse é um dos pontos principais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Constantino, e os relatos evoluem com o p<strong>as</strong>sar do<br />

tempo, se no início (na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 310), Lactâncio só fala <strong>de</strong> um sinal que apareceu em sonho a Constantino,<br />

e foi gravado nos escudos; relato que foi totalmente omitido por Eusébio <strong>de</strong> sua História Eclesiástica<br />

(composta n<strong>as</strong> décad<strong>as</strong> <strong>de</strong> 310-320), a qual é contemporânea a esse relato <strong>de</strong> Lactâncio. Posteriormente há<br />

to<strong>da</strong> uma narrativa sobre o aparecimento <strong>de</strong>sse símbolo a Constantino, e ain<strong>da</strong> com a aparição <strong>de</strong> Cristo em<br />

sonhos, ou na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> – como num dos relatos <strong>de</strong> Sózomeno, o qual não trabalharemos pel<strong>as</strong> escolh<strong>as</strong><br />

apresentad<strong>as</strong> anteriormente.<br />

O relato que se tornou dominante acerca <strong>de</strong> Constantino, foi o que pela primeira vez apareceu na<br />

“Vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Constantino”, escrita por Eusébio após a morte do imperador, como uma biografia lau<strong>da</strong>tória ao<br />

falecido imperador. Se na “História Eclesiástica” não há hierofania, Deus não envia sinal a Constantino, na<br />

“Vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Constantino”, o sagrado se manifesta com o envio <strong>de</strong> um sinal a Constantino, além disso, Cristo<br />

or<strong>de</strong>na-lhe, em sonho, que seja feito um troféu <strong>de</strong> guerra, e mais à frente o imperador chama sacerdotes<br />

cristãos para lhe ensinar sobre a doutrina cristã. Perceptível a diferença entre ambos os relatos <strong>de</strong> Eusébio, a<br />

justificativa para essa diferença repousa no seguinte fato: “o vitorioso imperador tempos <strong>de</strong>pois relatou o<br />

acontecimento para o escritor <strong>de</strong>ssa história, quando foi honrado com sua companhia, e confirmou seu relato<br />

sob juramento, quem po<strong>de</strong>ria hesitar em acreditar na narração, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o testemunho posterior estabelece<br />

sua veraci<strong>da</strong><strong>de</strong>?” (VC I, XXVIIII).<br />

Isso significa que Eusébio só cerca <strong>de</strong> cinco, ou mais anos <strong>de</strong>pois, soube <strong>de</strong>ssa aparição através<br />

<strong>de</strong> Constantino, m<strong>as</strong> sua “História Eclesiástica”, não narra inclusive a morte <strong>de</strong> Licínio, ocorri<strong>da</strong> doze anos<br />

<strong>de</strong>pois <strong>da</strong> batalha? Relato que aparece em um livro acrescido numa possível edição revista, haja vista que há<br />

na própria “História Eclesiástica” prov<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma revisão, como mostra o seguinte acréscimo: “Maxêncio caiu<br />

em <strong>Roma</strong> ao impacto <strong>de</strong> Constantino, enquanto o outro, sobrevivendo muito pouco tempo no Oriente,<br />

sucumbiu n<strong>as</strong> mãos <strong>de</strong> Licínio, que então ain<strong>da</strong> não estava transtornado” (HE. IX, IX, 1)<br />

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