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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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Não tão diferentemente dos gregos, os romanos possuíam uma educação que também visava a<br />

aprendizagem <strong>de</strong> um bem, a saber: a virtu<strong>de</strong> romana. Essa virtu<strong>de</strong> era a moral <strong>da</strong> urbs, à qual permaneciam<br />

fiéis, um sentimento arcaísta. <strong>Roma</strong> jamais se libertara completamente dos i<strong>de</strong>ais coletivos que consagram o<br />

individuo a coisa pública, nem renunciou a eles, mesmo quando a a<strong>da</strong>ptação dos costumes fazia <strong>de</strong>les se<br />

distanciar.<br />

Os historiadores <strong>da</strong> educação antiga – como H.I. Marrou, em História <strong>da</strong> Educação na Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

e M. A. Galino, em Historia <strong>de</strong> la Educación: E<strong>da</strong><strong>de</strong>s Antigua y Media - <strong>as</strong>sinalam dois gran<strong>de</strong>s momentos na<br />

história <strong>da</strong> instrução em <strong>Roma</strong>: no primeiro, relativo ao período entre <strong>as</strong> origens <strong>da</strong> civilização romana e<br />

meados do século III - II a.C., oc<strong>as</strong>ião em que teriam sido forjad<strong>as</strong> <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> peculiares aos romanos,<br />

com uma educação eminentemente familiar e tendo o pai romano como mestre, por excelência, <strong>de</strong> seus<br />

filhos; e num segundo momento, iniciado com o processo <strong>de</strong> helenização <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> e esten<strong>de</strong>ndo-se, com<br />

algum<strong>as</strong> mu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong>, até a crise do Império (IV d.C.), aon<strong>de</strong> já teríamos um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> educação similar ao<br />

concebido pelos gregos.<br />

Segundo Maril<strong>da</strong> Ciribelli, a palavra para educação, no latim, vem <strong>de</strong> educare (criar). Para os<br />

romanos significava escolher, levar os jovens a <strong>as</strong>sumir <strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> su<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões, a construção <strong>de</strong><br />

um homem no seu <strong>de</strong>vir. Seu sentido era o <strong>de</strong> escutar com atenção o outro e respeitá-lo em sua<br />

individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> (CIRIBELLI, 2006, p. 218).<br />

A educação romana, em sua origem, é típica e essencialmente camponesa. Pelos fins do século VI<br />

a.C., encontramos <strong>Roma</strong> e a cultura romana dominad<strong>as</strong> por uma aristocracia <strong>de</strong> campesinos, <strong>de</strong><br />

proprietários rurais: uma cl<strong>as</strong>se social muito diversa <strong>da</strong> elite guerreira d<strong>as</strong> obra <strong>de</strong> Homero. O latim se<br />

apresenta como língua dos campônios, muit<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, no sentido mais tar<strong>de</strong> alargado, eram <strong>de</strong> origem <strong>de</strong><br />

termos técnicos <strong>da</strong> agricultura.<br />

Era uma iniciação num modo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> tradicional, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> no respeito ao costume ancestral -<br />

mos maiorum - e no objetivo <strong>de</strong> fazer to<strong>da</strong> a juventu<strong>de</strong> respeitá-lo como i<strong>de</strong>al, norma <strong>de</strong> to<strong>da</strong> ação e <strong>de</strong> todo<br />

pensamento (MARROU, 1990, p.360). O quadro on<strong>de</strong> essa educação era instrumentabiliza<strong>da</strong> era na família.<br />

Aos olhos dos romanos, a família é o meio natural em que <strong>de</strong>ve crescer e formar-se a criança.<br />

Contudo, a oposição entre <strong>as</strong> du<strong>as</strong> pe<strong>da</strong>gogi<strong>as</strong> aparece já nos primeiros anos: em <strong>Roma</strong> não é um<br />

escravo, m<strong>as</strong> a própria mãe quem educa seu filho nos primeiros anos. Entre os helenos (em especial os<br />

atenienses) o convívio materno muit<strong>as</strong> vezes não era consi<strong>de</strong>rado educação, na medi<strong>da</strong> que para eles, a<br />

instrução <strong>de</strong> fato começava quando o menino dirigia-se para os ginásios e permanecia em maior convívio<br />

com o pai e seu iguais. (CAMBIANO, 1994, p.82).<br />

A partir dos sete anos, em <strong>Roma</strong>, a criança p<strong>as</strong>saria a acompanhar o pai que era consi<strong>de</strong>rado o<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro educador, seja até o interior <strong>da</strong> Cúria, on<strong>de</strong> com ele <strong>as</strong>sistia mesmo <strong>as</strong> sessões secret<strong>as</strong> do<br />

Senado, seja participando dos festins adultos, não ao lado <strong>de</strong> um amante mais velho (como na pe<strong>de</strong>r<strong>as</strong>tia),<br />

m<strong>as</strong> sempre <strong>da</strong> figura paterna. O paterfamili<strong>as</strong> romano <strong>de</strong>dicava-se a preencher este papel <strong>de</strong> educador com<br />

um alto empenho. A educação familiar viria a terminar aos <strong>de</strong>zesseis anos, quando o adolescente<br />

abandonava a toga bor<strong>da</strong><strong>da</strong> púrpura e outr<strong>as</strong> insígni<strong>as</strong> infantis para vestir a toga viril e então participar do<br />

aprendizado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pública – o tirocinium fori - do qual estava apto. Já não era mais o pai na maioria dos<br />

c<strong>as</strong>os quem se encarregava <strong>de</strong>sta instrução, m<strong>as</strong> um velho amigo <strong>da</strong> família, conhecedor <strong>de</strong> política e que<br />

fosse honrado na urbs. Este aprendizado durava mais ou menos um ano e no fin<strong>da</strong>r <strong>de</strong>ste, o jovem alistav<strong>as</strong>e<br />

no exército. Mesmo <strong>as</strong>sim, o aprendizado político ain<strong>da</strong> perdura seja seguindo a figura do pai ou,<br />

novamente, a <strong>de</strong> um amigo.<br />

O fim <strong>de</strong>ste processo educacional, além <strong>da</strong> participação pública na vi<strong>da</strong> romana que tanto era<br />

valoriza<strong>da</strong>, era a moral. Era incultar-lhes um sistema <strong>de</strong> valores éticos, transformá-lo em um homem apto a<br />

realizar <strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s própri<strong>as</strong> do ci<strong>da</strong>dão romano, uma vez que o conteúdo do que lhe era ensinado tinha por<br />

propósito prepará-lo para a vi<strong>da</strong> adulta (LIMA, 2007, p.39).<br />

O i<strong>de</strong>al romano era o <strong>da</strong> honra, do <strong>de</strong>votamento a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Inspira<strong>da</strong> em heróis, a diferença<br />

entre gregos e latinos era que a instrução moral <strong>de</strong> um jovem romano era alimenta<strong>da</strong> por uma escolha <strong>de</strong><br />

exemplos oferecidos à sua admiração, m<strong>as</strong> eram tirados todos <strong>da</strong> História e não <strong>de</strong> uma poesia heróica e<br />

mítica. Esses exemplos eram apresentados e revividos. Para além, o jovem nobre romano não era educado<br />

somente na história nacional, m<strong>as</strong> na tradição <strong>de</strong> sua própria família, uma espécie <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> a qual estes<br />

jovens <strong>de</strong>veriam reproduzir e que vinham <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus ancestrais. Exortava-se <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s campesin<strong>as</strong>: amor

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