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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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gladiadores livres ou escravos, e/ou <strong>as</strong> fer<strong>as</strong>. Ambos estavam separados dos espectadores <strong>da</strong><br />

arquibanca<strong>da</strong>/cavea por um muro <strong>de</strong> proteção elevado/podium.<br />

A partir <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição do espaço geométrico po<strong>de</strong>mos tecer uma aproximação com os habitantes<br />

<strong>de</strong>sta região e <strong>de</strong>finir <strong>as</strong> su<strong>as</strong> relações sociais seguindo os indícios <strong>da</strong> palavra MUNUS grafa<strong>da</strong> na pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pompéia. A fr<strong>as</strong>e munus te vejo tem a função <strong>de</strong> ancoragem(5) que consiste em apontar o sentido mais<br />

próximo <strong>da</strong> mensagem diante <strong>da</strong> polissemia que o termo munus <strong>de</strong>tém. Esse tanto po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como<br />

local <strong>de</strong> apresentação quanto po<strong>de</strong> estar relacionado ao serviço prestado pelo magistrado responsável pelo<br />

espetáculo – munerator.<br />

O interessante <strong>de</strong>ste termo está no fato do seu plural munera ter transp<strong>as</strong>sado o tempo e estar<br />

presença na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> através <strong>da</strong> palavra remunerar/remuneração. Em <strong>Roma</strong> a função <strong>de</strong> financiar os<br />

jogos cabia ao imperador, nos municípios e regiões <strong>de</strong> província romana cabiam aos magistrados locais a<br />

obrigação <strong>de</strong> organizar, e financiar os munera.<br />

O serviço prestado recebia acentuad<strong>as</strong> crític<strong>as</strong> <strong>de</strong> Juvenal, Sátir<strong>as</strong> VI e <strong>de</strong> Sêneca na Cart<strong>as</strong> a<br />

Lucílio 86 <strong>de</strong>vido a violência do espetáculo. Segundo J. Carcopino era difícil compreen<strong>de</strong>r como o munus,<br />

festa <strong>de</strong> caráter sagrado e celebra<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em homenagem a um morto <strong>de</strong> prestígio, tinha se<br />

transformado em atos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gola, luta sangrenta entre homens a quem entregavam arm<strong>as</strong> para matar e<br />

serem mortos diante <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> espectadores ( Carcopino,19,281).<br />

Po<strong>de</strong>mos apreen<strong>de</strong>r o anfiteatro como um espaço relacional, pois o jogo tornara-se para os<br />

magistrados como um po<strong>de</strong>roso instrumento <strong>de</strong> pressão política e ao mesmo tempo um mecanismo <strong>de</strong><br />

controle social. Consi<strong>de</strong>ramos que o espaço relacional do anfiteatro reproduziu a estrutura hierárquica que<br />

<strong>Roma</strong> estabelecia com <strong>as</strong> provínci<strong>as</strong> do Império <strong>Roma</strong>no. Entre os homens <strong>de</strong> igual prestígio, <strong>de</strong> status e <strong>de</strong><br />

riqueza mantinham contato, cuja relação era <strong>as</strong>senta<strong>da</strong> na lei <strong>da</strong> reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> hospitali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> aju<strong>da</strong><br />

mútua, ou seja, relação simétrica visando a formação <strong>de</strong> alianç<strong>as</strong> polític<strong>as</strong>.<br />

A relação <strong>de</strong>finia-se como <strong>as</strong>simétrica entre os magistrados e seus subordinados na categoria <strong>de</strong><br />

clientes e escravos. Essa relação pautava-se na distribuição <strong>de</strong> recursos monetários, em forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa no<br />

tribunal e auxílio aos clientes em troca <strong>de</strong> votos. A ação <strong>de</strong> auxílio aos <strong>de</strong>spossuídos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia romana e<br />

a alimentação dos escravos em troca <strong>de</strong> serviço.<br />

Os três segmentos sociais, embora distintos, significavam a força política do magistrado. Segundo,<br />

Quinto Cícero era preciso conquistar amigos <strong>de</strong> diferentes segmentos sociais, visando garantir o apoio <strong>de</strong><br />

homens ilustres por sua função e pelo prestígio <strong>de</strong>legado pelo nome <strong>de</strong> família, tal atributo traz ao candi<strong>da</strong>to<br />

um suplemento <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração (Cícero,Contra Pison,55).<br />

Como po<strong>de</strong>mos observar o conselho ofertado indica o quanto era necessário manter contatos com<br />

indivíduos <strong>de</strong> prestígios ao qual acreditamos que em Pompéia não seria diferente <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> em época <strong>de</strong><br />

eleição para os cargos <strong>da</strong> magistratura.<br />

O pesquisador Norbert Rouland em seu livro <strong>Roma</strong>, <strong>de</strong>mocracia impossível? reforça a relação<br />

<strong>as</strong>simétrica para com os indivíduos <strong>de</strong> condição social <strong>de</strong> poucos recursos, ao afirmar que os clientes <strong>de</strong><br />

condição mais mo<strong>de</strong>sta estavam em <strong>de</strong>svantagem pelo fato <strong>de</strong> não terem lugar no sufrágio centurial, se<br />

fosse <strong>de</strong>sonesto e rico tornava-se o melhor dos clientes, m<strong>as</strong> sendo honesto e pobre tinham por função<br />

apen<strong>as</strong> reforçar a figura do candi<strong>da</strong>to ao acompanhá-lo em cortejo até ao Fórum <strong>Roma</strong>no<br />

(N.Rouland,1997:459).<br />

O mecanismo <strong>de</strong> apoio público a candi<strong>da</strong>tura <strong>de</strong> algum magistrado está expresso nest<strong>as</strong> inscrições<br />

feit<strong>as</strong> nos muros <strong>de</strong> Pompéia e acrescentamos a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do grafite Munus, te vejo em to<strong>da</strong> parte estar<br />

indicando a presença ativa <strong>de</strong> algum canditado como Gaius Cuspius Pans<strong>as</strong> que em disputa ao edilato<br />

buscava apoio político <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> diferente status social. Esta possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> tem por reforço N. Rouland<br />

ao citar Cícero que aconselhava ao irmão transitar por to<strong>da</strong> Itália, tais como nos municípios, n<strong>as</strong> colôni<strong>as</strong> e<br />

n<strong>as</strong> prefeitura ou qualquer locali<strong>da</strong><strong>de</strong> na qual possa contar com o apoio <strong>de</strong> alguém; relembra ain<strong>da</strong> que se<br />

<strong>de</strong>ve procurar e i<strong>de</strong>ntificar em ca<strong>da</strong> região, aqueles que po<strong>de</strong>m atuar como seus agentes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

(N.Rouland,1997:464). Diante <strong>de</strong>ste fato po<strong>de</strong>mos afirmar que <strong>as</strong> figur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Saturnino e dos ouríveres<br />

estavam na categoria <strong>de</strong> agentes propagadores <strong>de</strong> apoio político à candi<strong>da</strong>tura <strong>de</strong> Gaius Cuspius Pansa,<br />

vejamos a inscrição:<br />

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