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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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para livrar a mente dos homens <strong>de</strong> qualquer vestígio <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> feminina proveniente <strong>de</strong> su<strong>as</strong> infância,<br />

que pu<strong>de</strong>ssem manter inconscientemente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seus primeiros anos vividos no interior do gineceu<br />

(KEULS, 1993, p.179).<br />

N<strong>as</strong> cen<strong>as</strong> em que ocorre uma negociação entre homens e mulheres remetid<strong>as</strong> ao universo <strong>da</strong><br />

prostituição po<strong>de</strong>mos sempre observar mulheres jovens, e, portanto, <strong>de</strong>sejáveis. Nesses momentos, os<br />

papéis parecem se inverter e os homens têm que se fazer <strong>de</strong>sejáveis para <strong>as</strong> mulheres que po<strong>de</strong>m inclusive<br />

recusá-los. As figur<strong>as</strong> 4 e 5(4) nos mostram algo nesse sentido.<br />

Figura 4 Figura 5<br />

N<strong>as</strong> figur<strong>as</strong> 4 e 5 po<strong>de</strong>mos ver <strong>as</strong> du<strong>as</strong> faces exteriores <strong>de</strong> uma kýlix <strong>de</strong> figur<strong>as</strong> vermelh<strong>as</strong> <strong>de</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> 500-450 a.C., atribuí<strong>da</strong> a Makron. Na figura 4 vemos a face A, on<strong>de</strong> du<strong>as</strong> mulheres hetaíriai (uma <strong>de</strong>l<strong>as</strong><br />

senta<strong>da</strong>) são abor<strong>da</strong>d<strong>as</strong> por um jovem rapaz (sem barba) e um homem adulto (barba) que trazem uma sacola<br />

<strong>de</strong> dinheiro na mão esquer<strong>da</strong> e uma flor na mão direita ca<strong>da</strong> um. Na figura 5 vemos a face B, on<strong>de</strong> vemos<br />

outros dois homens adultos (barba) apoiados em um cajado ca<strong>da</strong> um e sem <strong>as</strong> sacol<strong>as</strong> <strong>de</strong> dinheiro, tendo<br />

que se valer <strong>de</strong> outros meios para persuadir <strong>as</strong> mulheres. O <strong>da</strong> direita parece bem sucedido ao esten<strong>de</strong>r sua<br />

mão direita segurando uma flor e a mulher diante <strong>de</strong>le sorri e segura um ramo, o outro não parece ter tanta<br />

sorte.<br />

Segundo Sian Lewis, a imagética que traz representações d<strong>as</strong> cortesãs com sacol<strong>as</strong> <strong>de</strong> dinheiro,<br />

longe <strong>de</strong> ser algo <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>nte, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado algo positivo para ess<strong>as</strong> mulheres (LEWIS, 2002, p.197).<br />

As cen<strong>as</strong> que encontramos nesses v<strong>as</strong>os não remetem a simples transações <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> dinheiro por sexo,<br />

m<strong>as</strong> imagens <strong>de</strong> negociação. A temática gira em torno <strong>da</strong> concordância ou não <strong>da</strong> mulher. A partir <strong>de</strong> tal<br />

perspectiva, o v<strong>as</strong>o po<strong>de</strong> ser entendido como uma representação do po<strong>de</strong>r exercido pel<strong>as</strong> cortesãs, captando<br />

o momento em que ele se manifesta <strong>de</strong> forma mais clara.<br />

Por outro lado, se observarmos a ótica falo-narcísica que predominava na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ateniense,<br />

po<strong>de</strong>mos chegar a nov<strong>as</strong> conclusões. Na kýlix representa<strong>da</strong> n<strong>as</strong> figur<strong>as</strong> 4 e 5 está presente o aulós, o que<br />

atribui um status superior às mulheres em cena(5), e, conseqüentemente, maior valor ao êxito em conquistál<strong>as</strong>.<br />

A intervenção do dinheiro – explícita n<strong>as</strong> figur<strong>as</strong> 4 e 5 – na busca pelo gozo po<strong>de</strong> ser compreendi<strong>da</strong><br />

como o exercício brutal do po<strong>de</strong>r sobre os corpos reduzidos ao estado <strong>de</strong> objetos. Essa prática po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como um dos traços pertinentes à virili<strong>da</strong><strong>de</strong>, que, na agonística socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ateniense, só po<strong>de</strong>ria<br />

ser concebi<strong>da</strong> num <strong>as</strong>pecto relacional a partir do reconhecimento pelos outros ci<strong>da</strong>dãos (BOURDIEU, 2003,<br />

pp.26-67). Desta forma, aqueles que pu<strong>de</strong>ssem pagar por ess<strong>as</strong> mulheres teriam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serem<br />

reconhecidos como melhores e mais aptos a exercer o po<strong>de</strong>r perante seus iguais.<br />

Lissarrague cl<strong>as</strong>sifica <strong>as</strong> cortesãs como simples acessórios contribuindo para o bom<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do banquete (LISSARRAGUE, 1990, P.257). Contudo, está claro que a partir do contato<br />

sexual estabelecido entre <strong>as</strong> hetaírai e os jovens atenienses inevitavelmente surgiam diversos tipos <strong>de</strong><br />

relações. Segundo Clau<strong>de</strong> Calame, po<strong>de</strong>ria haver fortes laços <strong>de</strong> philía entre uma hetaíra e alguns <strong>de</strong> seus<br />

clientes (CALAME, 2002, pp.128-9).<br />

Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar como um bom exemplo <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> entre cortesã e ci<strong>da</strong>dão, em<br />

O Banquete <strong>de</strong> Platão, a p<strong>as</strong>sagem on<strong>de</strong> Sócrates <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> sua posição acerca <strong>de</strong> Eros a partir do que ouviu<br />

<strong>de</strong> uma mulher chama<strong>da</strong> Diotima (claramente uma hetaíra), que, segundo ele, era [...] sobremodo entendi<strong>da</strong><br />

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