05.11.2012 Views

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Diocleciano, proclamado imperador pelos seus oficiais em 284, e engajado numa guerra civil logo<br />

em segui<strong>da</strong>, permaneceu na mesma posição precária <strong>de</strong> seus pre<strong>de</strong>cessores. Buscando fortalecer sua<br />

posição, dividiu <strong>as</strong> porções do Império com três outros imperadores, promovendo a si e seu colega<br />

Maximiano como filhos <strong>de</strong> Júpiter e Hércules, respectivamente.<br />

Uma elabora<strong>da</strong> explicação teológica subseqüentemente evoluiu para explicar a origem divina e <strong>as</strong><br />

relações entre os quatro monarc<strong>as</strong>. Em Trier, em 291, um orador anônimo i<strong>de</strong>ntificou Diocleciano como o<br />

“Júpiter, não o que nos legou a len<strong>da</strong>, m<strong>as</strong> o visível e presente”, e Maximiano como “Hércules que não era<br />

um estrangeiro, m<strong>as</strong> o imperador” (PL XI.10.5). No palácio <strong>de</strong> Diocleciano <strong>de</strong>man<strong>da</strong>va-se que seus súditos<br />

ador<strong>as</strong>sem-no como se fosse um <strong>de</strong>us – provavelmente prostando-se a ele (c.f. EUTRÓPIO. Compêndio<br />

9.26; AURELIO VICTOR, De Caesaribus. 39). Cunhar-se-ão moed<strong>as</strong> celebrando a proteção <strong>de</strong> IVPPITER<br />

CONSERVATOR AVGVSTORVM, a HERCVLI VICTORI, ao SOLI INVICTO, entre outr<strong>as</strong> moed<strong>as</strong>.<br />

A idéia principal por <strong>de</strong>trás <strong>da</strong> teologia política era a <strong>de</strong> que a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e paz <strong>de</strong>pendiam do culto<br />

universal d<strong>as</strong> <strong>de</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais.<br />

A piet<strong>as</strong> tradicional, então, foi a b<strong>as</strong>e <strong>da</strong> tentativa <strong>de</strong> restituição do Império empreendi<strong>da</strong> por<br />

Diocleciano. Reafirmando a relação correta <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> com su<strong>as</strong> <strong>de</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s protetor<strong>as</strong> não apen<strong>as</strong> para<br />

fortalecer a Tetrarquia e revigorar o sistema legal, como também mostrar a gratidão pelos vinte anos <strong>de</strong><br />

reinado e buscar continuar a seguri<strong>da</strong><strong>de</strong> no futuro.<br />

Nesse contexto insere-se a “Gran<strong>de</strong> Perseguição”, inicia<strong>da</strong> em 303-304, que só terminará<br />

oficialmente em 311, com o chamado “Edito <strong>de</strong> Galério”.<br />

Em meio à perseguição, no ano <strong>de</strong> 305, Diocleciano e seu colega Maximiano abdicam à púrpura,<br />

<strong>as</strong>cen<strong>de</strong>ndo em seus lugares Galério e Constâncio Cloro, respectivamente. No entanto, o novo sistema<br />

<strong>de</strong>senvolvido por Diocleciano entra em colapso após a repentina morte <strong>de</strong> Constâncio no ano seguinte, e a<br />

aclamação <strong>de</strong> Constantino, seu filho, e Maxêncio, filho <strong>de</strong> Maximiano – alijados do novo arranjo político<br />

posterior à abdicação <strong>de</strong> Diocleciano e Maximiano Hercúleo.<br />

A instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> política se manterá até 313, quando restam apen<strong>as</strong> dois imperadores, Constantino,<br />

no Oci<strong>de</strong>nte, e Licínio, no Oriente, situação que terá seu término no ano <strong>de</strong> 324, quando <strong>da</strong> guerra entre os<br />

imperadores, e a vitória <strong>de</strong> Constantino, que se torna o senhor único do Império <strong>Roma</strong>no.<br />

Assim, o representante do po<strong>de</strong>r, na p<strong>as</strong>sagem do III para o IV século, era concebido não apen<strong>as</strong><br />

como o titular legítimo <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> pública, o representante <strong>de</strong> uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> supra-individual que<br />

po<strong>de</strong>ríamos i<strong>de</strong>ntificar como Res publica, ou como o responsável supremo pela <strong>de</strong>fesa do Império, m<strong>as</strong><br />

igualmente como alguém que mantinha uma relação especial com o mundo divino.<br />

Agora nos <strong>de</strong>teremos na análise <strong>da</strong> documentação a ser utiliza<strong>da</strong> nessa apreciação. Nosso corpus<br />

documental obe<strong>de</strong>ceu aos seguintes critérios: (1) a contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> entre o autor e o fato narrado. O que<br />

excluiu históri<strong>as</strong> eclesiástic<strong>as</strong> posteriores (como <strong>as</strong> <strong>de</strong> Sozomeno, e Sócrates), breviários (Eutrópio, Aurélio<br />

Victor). E (2) à narração <strong>de</strong> uma hierofania.<br />

Desse modo, afiguram-se três relatos <strong>de</strong> manifestações do sagrado na vi<strong>da</strong> do imperador em<br />

questão, dos quais dois (o <strong>de</strong> Eusébio <strong>de</strong> Cesaréia, e o <strong>de</strong> Lactâncio) se referem à mesma manifestação,<br />

qual seja, a aparição <strong>de</strong> um sinal sagrado a Constantino às vésper<strong>as</strong> <strong>da</strong> batalha contra Maxêncio (para a qual<br />

concor<strong>da</strong>mos a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 312), e um (autor Anônimo) refere-se à aparição <strong>de</strong> Apolo a Constantino.<br />

Em primeiro lugar, estabeleceremos preâmbulo sobre os autores dos textos, a seguir<br />

reproduziremos os relatos, por fim, traçaremos noss<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações acerca <strong>da</strong> teologia política <strong>de</strong><br />

Constantino<br />

Sobre a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Lactâncio todos seus comentadores serão unânimes na seguinte constatação:<br />

pouco sabemos sobre ele. A nossa principal fonte que se refere a sua vi<strong>da</strong> é o De uiris illustribus, <strong>de</strong><br />

Jerônimo (340-2 – 420), composto entre 392-3. A octogésima biografia é a <strong>de</strong> “Firmiano, conhecido também<br />

como Lactâncio”.<br />

Atribui-se a <strong>da</strong>ta n<strong>as</strong>cimento <strong>de</strong> Lactâncio à déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 250, e sua morte, a cerca <strong>de</strong> 320-5, seu<br />

local <strong>de</strong> n<strong>as</strong>cimento varia <strong>de</strong> Fírmio, na Itália, ou ao Norte <strong>da</strong> África, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> partiu para a Ásia Menor a<br />

mando <strong>de</strong> Diocleciano. Os únicos <strong>da</strong>dos concretos <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> são o emprego <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> retórica latina<br />

na corte <strong>de</strong> Nicomédia, durante o reinado <strong>de</strong> Diocleciano (284-305), on<strong>de</strong> possivelmente se converteu ao<br />

cristianismo, e conheceu Constantino. O outro <strong>da</strong>do concreto é que foi tutor <strong>de</strong> Crispo, filho <strong>de</strong> Constantino,<br />

em Trier, tendo morrido antes <strong>da</strong> morte <strong>de</strong>ste (ocorri<strong>da</strong> em 326).<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!