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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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O TEMPLO DE VESTA E A IDÉIA ROMANA DE CENTRO DO MUNDO<br />

Patricia Vivian von Benkö Horvat - UNIRIO<br />

A arquitetura é uma “prática ética” que realiza form<strong>as</strong> apropriad<strong>as</strong> a uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> situação<br />

cultural. Com a expressão “prática ética”, <strong>de</strong>notamos uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> prática, inseri<strong>da</strong> em um ethos, um<br />

sistema <strong>de</strong> valores, crenç<strong>as</strong> e hábitos em <strong>de</strong>terminado lugar e tempo, que constitui a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> um grupo<br />

humano. Enquanto forma, a arquitetura é um fato estético autônomo, que <strong>de</strong>ve ser compreendido e julgado<br />

por si mesmo; enquanto prática ética, é um fato histórico que <strong>de</strong>ve ser compreendido e julgado por meio <strong>da</strong><br />

sua recondução aos elementos que lhe <strong>de</strong>ram origem (CROCE, 1910:43).<br />

A história e a crítica <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> arquitetura, ao abor<strong>da</strong>rem uma edificação, procuram compreen<strong>de</strong>r<br />

como este fato plástico tridimensional comunica significados que remetem ao universo cognitivo e às<br />

tradições culturais do ambiente em que se localiza, e o fazem consi<strong>de</strong>rando que em ca<strong>da</strong> arquitetura existe<br />

uma forma, uma função e uma técnica. Por forma, enten<strong>de</strong>mos a <strong>de</strong>limitação física do espaço através <strong>de</strong> um<br />

traçado rítmico e <strong>de</strong> uma superfície com textura e cor; por função, enten<strong>de</strong>mos o propósito, a organização do<br />

espaço para uso, o estilo e <strong>as</strong> conotações do p<strong>as</strong>sado e, como técnica, enten<strong>de</strong>mos a estrutura, os materiais<br />

e os sistem<strong>as</strong> construtivos.<br />

Discorreremos sobre o Templo <strong>de</strong> Vesta, no Forum romanum, com uma abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> história <strong>da</strong><br />

arte e <strong>da</strong> arquitetura, pontuando o traçado circular <strong>da</strong> sua planta como o topos <strong>da</strong> idéia romana <strong>de</strong> centro do<br />

mundo.<br />

Em torno do ano 1000 AC, os povoados do Quirinal e do Esquilino entraram em um acordo para<br />

estabelecer um campo neutro <strong>de</strong> convívio fora d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> elevações. Foi drenado o charco entre o Capitólio e<br />

o Palatino, e ali foi estabelecido o campo d<strong>as</strong> transações cívic<strong>as</strong> comuns e <strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong> edificações.<br />

Assenta<strong>da</strong> <strong>Roma</strong> entre os dois montes, o Forum romanum veio a se tornar a praça central do po<strong>de</strong>r, <strong>da</strong><br />

epifania direta <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses e <strong>de</strong>us<strong>as</strong> e o locus <strong>da</strong> religião romana como orthopraxis(1). Este espaço era<br />

reservado a oeste às mais importantes ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s polític<strong>as</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, e a leste, a um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

construções <strong>de</strong>dicad<strong>as</strong> às divin<strong>da</strong><strong>de</strong>s e ao seu culto. Dentre ess<strong>as</strong> construções estavam a Curia, o local<br />

tradicional e sagrado <strong>de</strong> reuniões do Senado; a Rostra, tribuna <strong>da</strong> qual o orador falava ao povo romano; os<br />

templos e <strong>as</strong> moradi<strong>as</strong> <strong>de</strong> habitantes proeminentes: os seres divinos. Era no Forum romanum que ocorria a<br />

censura, quando se estabelecia o or<strong>de</strong>namento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>finindo o status <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão na<br />

hierarquia <strong>da</strong> urbs e, portanto, <strong>de</strong>terminando <strong>as</strong> diretrizes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos ci<strong>da</strong>dãos e do <strong>de</strong>vir <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. O<br />

Forum romanum era, então, o centro do po<strong>de</strong>r público e o núcleo político e religioso <strong>de</strong> <strong>Roma</strong>, cujo eixo era o<br />

Templo <strong>de</strong> Vesta.<br />

Temos como postulado que a Arquitetura é a realização material do “<strong>de</strong>senho”, enten<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>de</strong>senho como o projeto, o traçado que representa graficamente uma idéia e a intenção <strong>de</strong> sua realização.<br />

Segundo V<strong>as</strong>ari, o <strong>de</strong>senho é a expressão visível do conceito formado no espírito e à arquitetura caberia<br />

exteriorizar e materializar, recorrendo a procedimentos técnicos, o <strong>de</strong>senho produzido no espírito(2). Aqui se<br />

situa a interseção entre a arquitetura como construção no mundo <strong>da</strong> materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> concreta e o universo<br />

imaginário com tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> su<strong>as</strong> implicações, o problema fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> relação entre o âmbito d<strong>as</strong> form<strong>as</strong><br />

sensíveis do mundo fenomênico e o patamar lingüístico <strong>da</strong> semantici<strong>da</strong><strong>de</strong>. É no topos imagético, on<strong>de</strong> se<br />

po<strong>de</strong> circunscrever o imaterial e a materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> sensível, que se situa, por sua pregnância simbólica, a <strong>as</strong>sim<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> arquitetura religiosa, ou seja, os edifícios <strong>de</strong>stinados à habitação e/ou reverência às divin<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

O conteúdo espiritual <strong>de</strong> uma cultura tem no mito e na religião a sua expressão mais espontânea e o que<br />

permite a compreensão e a atualização dos seus significados é o estudo d<strong>as</strong> matrizes <strong>da</strong> imaginação, que<br />

atuam como motivação, propósito e mo<strong>de</strong>lo para <strong>as</strong> ações. Em <strong>Roma</strong> o <strong>as</strong>pecto semântico <strong>da</strong> arquitetura,<br />

além <strong>de</strong> remeter às conotações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> ao triunfo, têm forte a<strong>de</strong>rência à transcendência<br />

religiosa.<br />

Os templos, geralmente retangulares, começaram a ser construidos em larga escala após o século<br />

VI AC. No final <strong>da</strong> República, eram templos espaçosos, que freqüentemente abrigavam mais <strong>de</strong> um <strong>de</strong>us,<br />

habitando ca<strong>da</strong> um sua própria cela, em seu estilobato, sobre uma plataforma, na parte posterior do podium,<br />

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