Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Creonte, o tirano tebano ressemantizado, representa <strong>as</strong> mais cruéis figur<strong>as</strong> que compuseram e<br />
compõem o quadro político latino-americano. É <strong>de</strong>le a figura do homem terrível, <strong>de</strong>inós, o monstro<br />
incompreensível e <strong>de</strong>snorteante, senhor <strong>de</strong> tudo e todos, m<strong>as</strong> incapaz <strong>de</strong> governar a si mesmo (VERNANT e<br />
VIDAL-NAQUET, 1977: 19). Em distintos tempos e sistem<strong>as</strong>, po<strong>de</strong>-se pensar em como a razão m<strong>as</strong>culina<br />
<strong>de</strong>senvolve seu papel; em nome <strong>de</strong> um sistema alheio aos indivíduos, mortes, enganos e mentir<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m ser<br />
colecionados como ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s oficiais <strong>da</strong>d<strong>as</strong> ao povo como sua história, na busca <strong>de</strong> um “bem-estar”<br />
promovedor do abafamento <strong>de</strong> relatos que po<strong>de</strong>m emergir e <strong>de</strong>struir uma or<strong>de</strong>m b<strong>as</strong>ea<strong>da</strong> na ilusão do po<strong>de</strong>r.<br />
Os lenços brancos que não acenam à paz, <strong>as</strong>sim como a toga virginal <strong>de</strong> Antígona, é a resistência<br />
a contextos no quais os gritos não se escutam, <strong>as</strong> vozes se calam pela impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> existência <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>da</strong> opressão, e <strong>as</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>s são apagad<strong>as</strong>. Há uma feri<strong>da</strong>, há uma lacuna. Há urgência <strong>de</strong> diálogo entre o<br />
que se enten<strong>de</strong> por lei, or<strong>de</strong>m, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, razão, memória e, sobretudo, amor.<br />
NOTAS:<br />
(1) Termo grego usado para <strong>de</strong>signar o erro que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual, originado por algo<br />
externo diretamente ligado à função física do olho, errar o alvo.<br />
(2) As louc<strong>as</strong> <strong>de</strong> Praça <strong>de</strong> Maio (a tradução dos textos é <strong>de</strong> minha autoria).<br />
(3) No presente estudo, trabalharemos com <strong>as</strong> Madres <strong>da</strong> “Asociación Madres <strong>de</strong> Plaza <strong>de</strong> Mayo”. Sobre este<br />
tema, é importante ressaltar que há du<strong>as</strong> linh<strong>as</strong>: uma composta pel<strong>as</strong> Madres <strong>de</strong>ssa <strong>as</strong>sociação e outra<br />
chama<strong>da</strong> “Línea Fun<strong>da</strong>dora”. Embora amb<strong>as</strong> tenham uma história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> importante para se contar, a opção<br />
feita é motiva<strong>da</strong> pela posição política <strong>de</strong> enfretamento que el<strong>as</strong> representam.<br />
(4) “Alerta, alerta que caminha, milicos <strong>as</strong>s<strong>as</strong>sinos por América Latina, alerta que caminha, aparição com vi<strong>da</strong><br />
e c<strong>as</strong>tigo aos culpados”.<br />
(5) O termo empregado pel<strong>as</strong> Madres ao que foi feito com ess<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> é “apropriação”, o que confere um<br />
caráter <strong>de</strong> ilegali<strong>da</strong><strong>de</strong> e contravenção ao ato. Sobre este tema, é importante ressaltar o trabalho<br />
<strong>de</strong>sempenhado pel<strong>as</strong> Abuel<strong>as</strong> <strong>de</strong> Plaza <strong>de</strong> Mayo, um movimento formado pel<strong>as</strong> avós que tentam reencontrar<br />
os netos seqüestrados durante a ditadura.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
BOYER, Alain-Michel. Éléments <strong>de</strong> littérature comparée. Vol. II (Mythes) et Vol III (Formes et genres). Paris:<br />
Hachette, 1996.<br />
DEVOTO, Fernando; MADERO, Marta (org.). Historia <strong>de</strong> la Vi<strong>da</strong> Priva<strong>da</strong> en la Argentina. Buenos Aires:<br />
Taurus, 1999.<br />
DODDS, E. R. Os gregos e o irracional. Tradução Leonor Santos <strong>de</strong> Carvalho. Lisboa: Gradiva, 1988.<br />
Donghi, Tulio Halperín. Historia Contemporánea <strong>de</strong> América Latina. Madrid: Alianza Editorial, 13ª edição,<br />
1993.<br />
FOUCAULT, Michel. A or<strong>de</strong>m do discurso. Tradução <strong>de</strong> Laura Fraga <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> Sampaio. São Paulo:<br />
Edições Loyola, 8a edição, 2002.<br />
_________. História <strong>da</strong> loucura. São Paulo: Perspectiva, 1978.<br />
FREUD, Sigmund. Obr<strong>as</strong> Complet<strong>as</strong>. Tradução Luis Lopez Ballesteros y <strong>de</strong> Torre. Madrid: Editorial Biblioteca<br />
Nueva Madrid, 4ª edição, 1981.<br />
GONZÁLEZ DE TOBÍA, Ana Maria (ed.). Ética y estética. De Grecia a la mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong>d. La Plata: Universi<strong>da</strong>d<br />
<strong>de</strong> La Plata / Centro <strong>de</strong> Estudios <strong>de</strong> Lengu<strong>as</strong> Clásic<strong>as</strong>, 2004.<br />
GRAMSCI, Antonio. Qua<strong>de</strong>rni di Cárcere. <strong>Roma</strong>: Instituto Gramsci, 1978.<br />
HEGEL,G.W.F. Fenomenologia do espírito. Tradução Paulo Meneses. Petrópolis: Vozes, 1992.<br />
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo:<br />
Companhia d<strong>as</strong> Letr<strong>as</strong>, 1995.<br />
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Br<strong>as</strong>il. São Paulo: Companhia d<strong>as</strong> Letr<strong>as</strong>, 26ª edição, 1995.<br />
HUYSSEN, Andre<strong>as</strong>. Seduzidos pela Memória: Arquitetura, Monumentos, Mídia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Aeroplano,<br />
2000.<br />
JAY, Martin. Songs of Experience. Berkeley: The University of California Press, 2005.<br />
KRISTEVA, Julia. Sol negro, <strong>de</strong>pressão e melancolia. Tradução <strong>de</strong> Carlota Gomes. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora<br />
Rocco, 2a edição, 1996.<br />
72