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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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Guerr<strong>as</strong>, não surgiram <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong> espontânea mais sim <strong>de</strong> uma consecução <strong>de</strong> fenômenos. Hobbes<br />

percebeu esta linha <strong>de</strong> pensamento e a manifestou afirmando: “Pois a guerra não consiste apen<strong>as</strong> na<br />

batalha, ou no ato <strong>de</strong> lutar, m<strong>as</strong> naquele lapso <strong>de</strong> tempo durante o qual a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> travar a batalha é<br />

suficientemente reconheci<strong>da</strong>. Portanto a noção <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong>ve ser leva<strong>da</strong> em conta quanto à natureza <strong>da</strong><br />

guerra, do mesmo modo em que à natureza do clima. Porque tal como na natureza do mau tempo não<br />

consiste em dois ou três chuviscos, m<strong>as</strong> numa tendência para chover que dura vários di<strong>as</strong> seguidos, <strong>as</strong>sim<br />

também a natureza <strong>da</strong> guerra não consiste na luta real, m<strong>as</strong> na conheci<strong>da</strong> disposição para tal...” (T. Hobbes.<br />

O Leviatã. Cap. XIII)<br />

A citação hobesiana nos permite i<strong>de</strong>ntificar que fatos do presente <strong>as</strong>sim como teori<strong>as</strong> filosófic<strong>as</strong>,<br />

sempre encontram relação com o p<strong>as</strong>sado. Na mesma proporção, percebemos a interação entre a filosofia e<br />

a história, on<strong>de</strong> muit<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> surgiram como resultado <strong>de</strong> diversos fatos ocorridos. Em contra<br />

parti<strong>da</strong>, uma gama <strong>de</strong> fatos históricos ocorreram em <strong>de</strong>corrência d<strong>as</strong> idéi<strong>as</strong> vigentes, sendo muit<strong>as</strong> vezes<br />

difícil <strong>de</strong>finir a origem <strong>de</strong> certos fenômenos sociais e políticos na humani<strong>da</strong><strong>de</strong>. Pontos estes, também<br />

i<strong>de</strong>ntificados n<strong>as</strong> relações envolvendo Maquin<strong>as</strong> <strong>de</strong> Guerra e <strong>de</strong> Domínio (Ver pág. 4. § 2º).<br />

É justamente <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> relação entre idéi<strong>as</strong> e fatos, é que somos levados a nos remeter<br />

tanto aos fatos, quanto às idéi<strong>as</strong> do p<strong>as</strong>sado. Como exemplo, observemos o que diz Aristóteles quanto a<br />

amiza<strong>de</strong>: “A amiza<strong>de</strong> também parece manter <strong>as</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s unid<strong>as</strong>, dir-se-ia que s legisladores preocupam-se<br />

mais com a amiza<strong>de</strong> do que com a justiça, pois buscam <strong>as</strong>segurar acima <strong>de</strong> tudo a uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, que parece<br />

<strong>as</strong>semelhar-se com a amiza<strong>de</strong>, ao mesmo tempo que repelem o facciosismo que é o maior inimigo d<strong>as</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s”. (Ética a Nicômacos 1155a)<br />

Vemos que o estagirita fala <strong>da</strong> relação entre iguais. Na mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> vemos emergir idéi<strong>as</strong> que<br />

pregam a união <strong>de</strong> povos (KANT, 1988. P<strong>as</strong>sim.). Contudo, po<strong>de</strong>mos perceber nesta exposição que entre<br />

governos autônomos não há igual<strong>da</strong><strong>de</strong>, m<strong>as</strong> sim interesses. E como afirma mais uma vez Aristóteles no seu<br />

livro <strong>da</strong> ética: “D<strong>as</strong> amiza<strong>de</strong>s que se b<strong>as</strong>eiam na superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> surgem divergênci<strong>as</strong>; ca<strong>da</strong> parte espera obter<br />

mais proveito <strong>de</strong>l<strong>as</strong>, porém quando isso acontece, a amiza<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sfaz”(Aristóteles. Ética a Nicômacos<br />

1163a). Surgem juntamente a esta ação medid<strong>as</strong> segregacionist<strong>as</strong>, pois est<strong>as</strong> conduzem homens e governos<br />

a tomar cultur<strong>as</strong> e povos como diferentes, como o Outro.<br />

De fato a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> é plural, possuindo diferentes etni<strong>as</strong>, crenç<strong>as</strong> e cultur<strong>as</strong>. Contudo, ciênci<strong>as</strong><br />

como a Biologia e Antropologia dão <strong>as</strong>sentimentos <strong>de</strong> que somos todos <strong>da</strong> mesma espécie, a Espécie<br />

Humana. Encontrar um ponto que possa estabelecer nos homens o limite <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> cultura e etnia<br />

(se é que há meios <strong>de</strong> estabelecer uma linha limite nestes c<strong>as</strong>os!) po<strong>de</strong>m não ser apen<strong>as</strong> difícil, m<strong>as</strong><br />

provavelmente impossível. Assim como não há meios <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar <strong>as</strong> águ<strong>as</strong> do rio principal e <strong>as</strong> <strong>de</strong> seu<br />

afluente, no momento exato em que se encontram. É por esta razão que <strong>de</strong>vemos prezar pela temperança e<br />

pela mo<strong>de</strong>ração, como <strong>de</strong>fendia o próprio Aristóteles. Somente <strong>as</strong>sim haverá compreensão <strong>da</strong> cultura, <strong>da</strong><br />

religião e d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> diferenciad<strong>as</strong> <strong>de</strong> governo. Ou seja, do Outro. Talvez com esta atitu<strong>de</strong> possamos reduzir<br />

a incidência <strong>de</strong> guerr<strong>as</strong> e <strong>de</strong> conflitos que se repetem <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> até a Contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>; como <strong>as</strong> que<br />

envolveram pers<strong>as</strong> e helenos; atenienses e espartanos; cartagineses e romanos; Oci<strong>de</strong>nte e Oriente; árabes<br />

e israelenses.<br />

Embora a temperança e a mo<strong>de</strong>ração seja um caminho, <strong>de</strong>stacamos que a Paz <strong>de</strong>finitiva talvez<br />

seja um sonho inalcançável. Pois acreditamos que para a existência <strong>de</strong> paz entre os povos, é necessário<br />

abrir mão <strong>de</strong> alguns interesses, <strong>de</strong>ntre eles o po<strong>de</strong>r absoluto. Vemos que o po<strong>de</strong>r na maioria d<strong>as</strong> vezes se<br />

manifesta <strong>de</strong> um interesse particular, como <strong>de</strong>sejar o próprio bem e também o <strong>de</strong> seus iguais. E é tomado <strong>de</strong><br />

bo<strong>as</strong> intenções, que os Homens causam injúria àqueles que não possuem comunhão d<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong>: idéi<strong>as</strong>,<br />

cultura, religião e ancestrali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nest<strong>as</strong> categori<strong>as</strong> i<strong>de</strong>ológic<strong>as</strong> encontramos a origem <strong>da</strong> <strong>de</strong>sconfiança entre<br />

os povos <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>. Surge também uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> indispensável <strong>de</strong> criar exércitos armados. Pois<br />

estes são os únicos meios <strong>de</strong> um povo gozar <strong>de</strong> segurança e liber<strong>da</strong><strong>de</strong>. E para que estes exércitos sejam<br />

eficientes nos seus objetivos, sempre haverá necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> construir engenhoc<strong>as</strong> semelhantes à catapulta<br />

cria<strong>da</strong> por Arquime<strong>de</strong>s, com versões ca<strong>da</strong> vez mais sofisticad<strong>as</strong>. Por tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> razões apresentad<strong>as</strong>,<br />

concluímos que sempre haverá Máquin<strong>as</strong> <strong>de</strong> Domínio, produzindo a interação constante com Máquin<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

Guerra.<br />

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