Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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ESCOLAS DE ROMANIDADE: A EXPERIÊNCIA SERTORIANA<br />
Vanessa Vieira <strong>de</strong> Lima - UNIRIO<br />
O que é <strong>Roma</strong>nização?<br />
A romanização, em linh<strong>as</strong> gerais, efetuava-se quando do contato <strong>de</strong> vários códigos culturais<br />
distintos. Alguns autores, <strong>de</strong>ntre eles Norma Musco Men<strong>de</strong>s, a i<strong>de</strong>ntificam como a “cultura do imperialismo”<br />
romano. Caracteriza-se, <strong>de</strong>sta forma, em um longo e heterogêneo processo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça, que engloba <strong>as</strong><br />
idéi<strong>as</strong> <strong>de</strong> controle social e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, além d<strong>as</strong> mu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong> sócio-econômic<strong>as</strong> e troc<strong>as</strong> culturais.<br />
Mu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong> est<strong>as</strong> que estão centrad<strong>as</strong> na concepção <strong>de</strong> negociação e sincretismo, evi<strong>de</strong>nciando um<br />
processo bilateral, o qual envolve variados elementos, tanto romanos quanto nativos. Note-se que este<br />
fenômeno foi acompanhado, em certa medi<strong>da</strong>, <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> resistência diversos, como, por exemplo, a<br />
própria Revolta <strong>de</strong> Sertório.<br />
Assim, a romanização trazia consigo tanto o pilar <strong>da</strong> ética civilizatória, quanto o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> “ser<br />
romano”. Isto significava a invenção <strong>de</strong> tradições e nov<strong>as</strong> imagens por parte <strong>da</strong> política imperialista, gerando<br />
um sentimento <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, fortalecendo, consequentemente, a idéia <strong>de</strong> Imperium Sine Fine ou<br />
protetorado mundial. Observa-se, no entanto, que não se percebe uma interrupção <strong>da</strong> cultura material nativa,<br />
estando ela, <strong>as</strong>sim como os romanos, sujeitos a troc<strong>as</strong>, resguar<strong>da</strong>ndo-se a alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>.( MENDES, N. M. ,<br />
2001: 311-330) Ressalto que é justamente sobre essa dinâmica está centra<strong>da</strong> a escola <strong>de</strong> romani<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />
questão.<br />
O sentimento <strong>de</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> pretendido contava com mecanismos que o express<strong>as</strong>sem, os quais<br />
po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados n<strong>as</strong> ampl<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> roman<strong>as</strong>, n<strong>as</strong> moed<strong>as</strong> que começaram a circular com maior vigor<br />
durante a dominação, nos costumes nos mais diversos níveis, n<strong>as</strong> alianç<strong>as</strong> polític<strong>as</strong>, na vi<strong>da</strong> religiosa, na<br />
organização administrativa, na organização dos espaços físicos – repletos <strong>de</strong> instituições roman<strong>as</strong> –, entre<br />
outros, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>les convergia para o espaço urbano, que tentava direcionar a vi<strong>da</strong> publica e<br />
priva<strong>da</strong> sob os mol<strong>de</strong>s do “ser romano”. Tal direcionamento é percebido em nosso objeto <strong>de</strong> estudo, uma vez<br />
que a “escola”, segundo Plutarco, é construí<strong>da</strong> em um agrupamento urbano, Huesca.<br />
O porquê <strong>da</strong> Conjuração <strong>de</strong> Sertório<br />
A Conjuração <strong>de</strong> Sertório é vislumbra<strong>da</strong> como um processo que nos permite inferir como o contato<br />
entre romanos e nativos auxiliou na conquista <strong>de</strong> uma d<strong>as</strong> provínci<strong>as</strong> mais romanizad<strong>as</strong> <strong>de</strong> todo o Império.<br />
Logo, tal conjuração, ocorri<strong>da</strong> na Hispania, retrata um quadro conjuntural composto pel<strong>as</strong><br />
intervenções polític<strong>as</strong> e econômic<strong>as</strong> na Península Ibérica, bem como <strong>as</strong> negociações i<strong>de</strong>ológic<strong>as</strong> e<br />
<strong>de</strong>staca<strong>da</strong>mente o intercâmbio cultural existente entre os romanos e os povos nativos em meio a Guerra Civil.<br />
<strong>Roma</strong> e Hispania no <strong>de</strong>correr <strong>da</strong> Guerra Civil<br />
A compreensão do contexto <strong>da</strong> época, tanto em <strong>Roma</strong> quanto na Hispania, traz a luz sobre <strong>as</strong><br />
posições <strong>as</strong>sumid<strong>as</strong> por Sertório.<br />
Os últimos anos <strong>da</strong> República, <strong>de</strong> acordo com Alföldy, po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados como momentos <strong>de</strong><br />
crise política e social(ALÖFLDY, Géza.1989. p.: 82.).<br />
Os conflitos <strong>de</strong>clarados são p<strong>as</strong>síveis <strong>de</strong> serem divididos em quatro tipos: <strong>as</strong> lut<strong>as</strong> dos escravos, <strong>as</strong><br />
resistênci<strong>as</strong> dos habitantes d<strong>as</strong> provínci<strong>as</strong> contra o domínio romano, a luta dos itálicos contra <strong>Roma</strong> e os<br />
conflitos políticos entre os próprios ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> urbes(i<strong>de</strong>m).<br />
O embate geral culminou na Guerra Civil, apresentando lapsos <strong>de</strong> profun<strong>da</strong> periculosi<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />
<strong>Roma</strong>, como, por exemplo, a Revolta <strong>de</strong> Spartacus e a Guerra contra Sertório na Hispania.<br />
Posto isso, centremos noss<strong>as</strong> análises n<strong>as</strong> divergênci<strong>as</strong> existentes ente Mário e Sula. Note-se que<br />
Mario se tornou partidário do grupo popular, sendo, então, a favor <strong>de</strong> reform<strong>as</strong> que viriam a beneficiar <strong>as</strong><br />
m<strong>as</strong>s<strong>as</strong>. Sula, por sua vez, era partidário dos optimates, oferecendo resistência a tais reform<strong>as</strong> em <strong>de</strong>fesa<br />
d<strong>as</strong> oligarqui<strong>as</strong>. Observamos que Sula e <strong>as</strong> oligarqui<strong>as</strong> intuíam a concentração do po<strong>de</strong>r n<strong>as</strong> mãos do<br />
Senado e a limitação <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> legislativa na Assembléia do Povo.<br />
Assim, o que se segue é uma gran<strong>de</strong> disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, repleta <strong>de</strong> tomad<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> ora a favor <strong>de</strong><br />
Mario ora <strong>de</strong> Sula. O mais relevante em meio a este contexto, contudo, foi a divisão <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> entre os