Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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A amiza<strong>de</strong> sempre fez parte <strong>da</strong> história do pensamento antigo, seja por meio <strong>de</strong> historiadores, seja<br />
através <strong>de</strong> poet<strong>as</strong> ou filósofos. Tanto n<strong>as</strong> pequen<strong>as</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s quanto na pólis (comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> política), a<br />
concepção <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> era a mesma: “amigo é o maior <strong>de</strong> todos os bens”. Por natureza, <strong>de</strong>clara Aristóteles,<br />
louva-se os amigos <strong>de</strong> seus semelhantes. A mais genuína forma <strong>de</strong> justiça é um tipo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>. Os homens<br />
bons são capazes <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> ter amigos.<br />
As espécies <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s são <strong>as</strong>sim apresentad<strong>as</strong> por Aristóteles: Há os que amam por utili<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
esses amam em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> algum bem e não por si mesmos. Há também os que amam por prazer, amam<br />
aquilo que acham agradável n<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>. Assim tanto um quanto o outro tipo amam o que é bom e o que<br />
agradável. Esses tipos são consi<strong>de</strong>rados amiza<strong>de</strong>s aci<strong>de</strong>ntais.<br />
A amiza<strong>de</strong> perfeita, acreditava Aristóteles, é a dos homens que são bons e afins n<strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s: “pois<br />
esses <strong>de</strong>sejam igualmente bem um ao outro enquanto bons e são bons em si mesmos. Ora, os que <strong>de</strong>sejam<br />
bem aos seus amigos por eles mesmos são os mais ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente amigos, porque o fazem em razão <strong>da</strong><br />
sua própria natureza e não aci<strong>de</strong>ntalmente.”( Livro VIII, 1156 b)<br />
Amiza<strong>de</strong> supõe convívio porque é uma parceria, e <strong>as</strong>sim como o homem é para si, é para seu<br />
amigo. A amiza<strong>de</strong> dos homens bons cresce com o companheirismo. E <strong>as</strong>sim, <strong>de</strong>termina Aristóteles, os<br />
homens tornam-se melhores porque influenciam uns aos outros, graç<strong>as</strong> às su<strong>as</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Eis como fica<br />
entrelaçado o tema <strong>da</strong> amiza<strong>de</strong> com a convivência política. M<strong>as</strong> a vi<strong>da</strong> na pólis não é constitutiva só para o<br />
homem prático ain<strong>da</strong> que virtuoso, ela é constitutiva também para o filósofo, que é virtuoso, age <strong>de</strong> acordo<br />
com reta razão, m<strong>as</strong> vive a vi<strong>da</strong> contemplativa em busca <strong>da</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Todos os homens <strong>da</strong> pólis vivem em busca <strong>da</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Buscam, à medi<strong>da</strong> que realizam ações<br />
bel<strong>as</strong> porque virtuos<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> também à medi<strong>da</strong> que praticam a amiza<strong>de</strong> (coroamento <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s), um<br />
meio, ou melhor, um alicerce para o bem viver, que é o bem coletivo e não apen<strong>as</strong> o bem individual. Como já<br />
foi dito, a vi<strong>da</strong> prática enquanto vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> excelência moral, segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> reta razão, é capaz <strong>de</strong> promover<br />
felici<strong>da</strong><strong>de</strong> ao ci<strong>da</strong>dão <strong>da</strong> pólis. A felici<strong>da</strong><strong>de</strong> mais perfeita, porém, é alcança<strong>da</strong> apen<strong>as</strong> pelo filósofo, que é o<br />
mais feliz dos homens porque vive em consonância com a vi<strong>da</strong> contemplativa, a existência mais autárquica e<br />
mais livre <strong>de</strong> tod<strong>as</strong>. O filósofo age <strong>de</strong> acordo com <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s intelectuais, ele age <strong>de</strong> acordo com o lógos,<br />
com a sofia, com nous, apesar <strong>de</strong> também ser amigo e ser corajoso, virtu<strong>de</strong>s morais por natureza. O filósofo<br />
é aquele que “ultrap<strong>as</strong>sa” <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s morais para agir <strong>de</strong> acordo com <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s intelectuais, que<br />
representam a mais alta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana, segundo Aristóteles: “(...) o filósofo mesmo quando sozinho, po<strong>de</strong><br />
contemplar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, e tanto melhor o fará quanto mais sábio for. Talvez possa fazê-lo se tiver<br />
colaboradores, m<strong>as</strong> ain<strong>da</strong> <strong>as</strong>sim ele é o mais auto-suficiente <strong>de</strong> todos”( Livro X, 1177 b).<br />
A felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, que é o bem supremo, a mais perfeita virtu<strong>de</strong>, o bem a que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> ações ten<strong>de</strong>m, é<br />
uma forma <strong>de</strong> contemplação, uma vez que está em concordância com a mais alta virtu<strong>de</strong> e esta em<br />
concordância com a sabedoria e a auto-suficiência, quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s alcançad<strong>as</strong> pelo filósofo através <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
contemplativa.<br />
Se, por um lado, a vi<strong>da</strong> do filósofo não tinha como tarefa exercer uma vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> preocupação pública<br />
como é a tarefa do político, a política não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser muito importante para ele, tanto é que cabe a<br />
Aristóteles a problematização e discussão <strong>da</strong> Ética, <strong>as</strong>sunto <strong>de</strong> suma importância para todo o político que<br />
<strong>de</strong>ve ter por fim o bem para o homem e, principalmente o bem para todos, porque era na pólis que o homem<br />
conseguia alcançar sua plenitu<strong>de</strong> humana.<br />
A Política é lugar <strong>de</strong> convivência, é bem comum, é compartilhar com o outro, alcançar o belo e o<br />
justo, é o lugar on<strong>de</strong>: “ca<strong>da</strong> um melhor encontra aquilo <strong>de</strong> que necessita para ser feliz”.( Aristóteles. Política.<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed Ouro, s/d.) Como ci<strong>da</strong>dão <strong>da</strong> pólis e ci<strong>da</strong>dão sumamente virtuoso, po<strong>de</strong>mos dizer que o<br />
filósofo, o homem contemplativo, é também capaz <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, é extremamente capaz <strong>de</strong> viver <strong>de</strong> acordo<br />
com a virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> amiza<strong>de</strong>, por isso ele é um vivente <strong>da</strong> pólis, lugar <strong>de</strong> homens que vivem <strong>de</strong> acordo com o<br />
lógos. Assim, o filósofo age “politicamente”, apesar <strong>de</strong> não governar a polis, uma vez que a Política é uma<br />
forma <strong>de</strong> bem viver, <strong>de</strong> buscar o bem para a coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong> agindo <strong>de</strong> forma pru<strong>de</strong>nte. O que quer dizer que o<br />
filósofo é <strong>de</strong> certa forma político por possuir <strong>as</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s do mesmo: é amigo, corajoso, virtuoso e conhece<br />
a alma humana, ain<strong>da</strong> que ele, o filósofo, viva num outro ‘patamar’ <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, tido por Aristóteles como o<br />
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