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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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A DIMENSÃO POLÍTICA DA AMIZADE NA ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES<br />

Soraya Monteiro Deminicis<br />

O estudo <strong>da</strong> ética, em Aristóteles, está a serviço <strong>da</strong> Política. Interessa investigar como é possível conduzir a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos homens ao bem viver. A Ética a Nicômaco é uma reflexão sobre o bem para o homem, esse<br />

bem tomado em seu limite último po<strong>de</strong> ser entendido como a felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, que é o fim para o qual tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

ações ten<strong>de</strong>m.<br />

“Admite-se geralmente que to<strong>da</strong> arte e to<strong>da</strong> investigação, <strong>as</strong>sim como to<strong>da</strong> ação e to<strong>da</strong> escolha,<br />

têm em mira um bem qualquer; e por isso foi dito, com muito acerto, que o bem é aquilo a que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong><br />

cois<strong>as</strong> ten<strong>de</strong>m.“(Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro I)<br />

A felici<strong>da</strong><strong>de</strong> é o bem mais acabado (teleion), o bem último, também chamado <strong>de</strong> bem absoluto<br />

porque ela não é busca<strong>da</strong> com vist<strong>as</strong> em mais na<strong>da</strong>, a não ser nela mesma e por ela mesma. Todos os<br />

ci<strong>da</strong>dãos querem ser felizes, o homem quer ser feliz e para aten<strong>de</strong>r a essa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, um político tem que<br />

ser pru<strong>de</strong>nte por natureza, tem que se valer <strong>da</strong> ética, que é o fio condutor <strong>da</strong> ação virtuosa.<br />

Em A Política, Aristóteles, enten<strong>de</strong> que o bem é o alvo <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong> e em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> artes, e<br />

que o maior <strong>de</strong>les acha-se principalmente na Política, que é a mais eleva<strong>da</strong> d<strong>as</strong> ciênci<strong>as</strong>. Só se é feliz<br />

quando se pratica o bem e este só é possível <strong>de</strong> ser alcançado através <strong>da</strong> virtu<strong>de</strong> e <strong>da</strong> razão. Portanto, o<br />

político precisa ser virtuoso, precisa agir <strong>de</strong> acordo com a reta razão, agir <strong>de</strong> acordo com a justa medi<strong>da</strong>.<br />

A virtu<strong>de</strong> é ti<strong>da</strong> como uma mediania entre o excesso e a falta, ou melhor, é uma justa medi<strong>da</strong>, uma<br />

disposição <strong>de</strong> agir com mediania diante d<strong>as</strong> paixões. A virtu<strong>de</strong>, para Aristóteles, é uma prática, uma razão<br />

prática construí<strong>da</strong> através do hábito. A virtu<strong>de</strong> é a forma mais plena <strong>de</strong> excelência moral, é a excelência <strong>da</strong><br />

alma, por isso não po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>, n<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>, seres em formação.<br />

“ (...) A virtu<strong>de</strong>, é pois, uma disposição <strong>de</strong> caráter relaciona<strong>da</strong> com a escolha e consistente numa<br />

mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> por um princípio racional próprio do homem<br />

dotado <strong>de</strong> sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta; (...)”(Livro<br />

II, 1106 b –1107a)<br />

Sendo a virtu<strong>de</strong> uma excelência <strong>da</strong> alma, é necessário ao político que a conheça, <strong>as</strong>sim como o<br />

médico <strong>de</strong>ve conhecer o corpo, porque o político em seu objetivo <strong>de</strong> tornar o homem bom, possui a alma<br />

como objeto <strong>de</strong> estudo.<br />

“ O homem ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente político também goza a reputação <strong>de</strong> haver estu<strong>da</strong>do a virtu<strong>de</strong> acima <strong>de</strong> tod<strong>as</strong><br />

<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, pois ele <strong>de</strong>seja fazer com que seus conci<strong>da</strong>dãos sejam bons e obedientes às leis. “(Livro I, 1102 a)<br />

Aristóteles compreen<strong>de</strong> a alma como sendo dividi<strong>da</strong> em du<strong>as</strong> partes: uma parte racional e uma<br />

parte irracional. A parte irracional é dupla sendo constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma parte comum a todos os seres vivos, que<br />

é a nutrição e o crescimento, e chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> vegetativa. A outra parte participa do racional, à medi<strong>da</strong> que<br />

po<strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer e seguir a parte que argumenta, como por exemplo, um filho que ouve os conselhos <strong>de</strong> um<br />

pai, é chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> apetitiva ou <strong>de</strong>sejante.<br />

Quanto à parte racional ou argumentativa <strong>da</strong> alma, ela se apresenta sob dois <strong>as</strong>pectos: um no<br />

sentido do exercício do pensamento e o outro no sentido <strong>de</strong> influenciar a obediência através <strong>da</strong><br />

argumentação. Esses dois <strong>as</strong>pectos <strong>de</strong>svelam dois tipos <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s: <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s étic<strong>as</strong> e <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s<br />

intelectuais.<br />

As virtu<strong>de</strong>s étic<strong>as</strong> são, <strong>de</strong>ntre outr<strong>as</strong>: ‘a coragem’, a ‘temperança’, a liberali<strong>da</strong><strong>de</strong>’, a ‘amiza<strong>de</strong>’, a<br />

‘magnificência”, a ‘calma’ etc. Tod<strong>as</strong> el<strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s que se <strong>de</strong>senvolvem no âmbito político, d<strong>as</strong> troc<strong>as</strong> entre os<br />

homens e, principalmente, entre os amigos. E <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s intelectuais são: o conhecimento orientado para a<br />

produção, a disposição para a ação, o conhecimento d<strong>as</strong> caus<strong>as</strong>, a razão intuitiva e a sabedoria.<br />

Nos livros VIII e IX, Aristóteles faz uma reflexão sobre a amiza<strong>de</strong> e sua importância para o homem,<br />

uma vez que a amiza<strong>de</strong> é uma virtu<strong>de</strong> ou participa d<strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s, sendo <strong>de</strong> suma importância para a<br />

humani<strong>da</strong><strong>de</strong> porque faz parte do alcance <strong>da</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, participa do seu estudo.<br />

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