Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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AS MOEDAS DE SAFO ROMANAS: ENTRE A EDUCAÇÂO E A POLÌTICA<br />
José Roberto <strong>de</strong> Paiva Gomes – NEA/<strong>UERJ</strong><br />
Introdução<br />
Procuramos analisar a relação simbólica existente entre o anverso e o reverso <strong>de</strong> uma moe<strong>da</strong> –<br />
mais especificamente um <strong>de</strong>nário <strong>de</strong> bronze do II séc. DC – <strong>de</strong>dicado a uma personagem chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Julia<br />
Procula em cujo reverso encontramos a poetisa Safo. Procuramos estabelecer uma relação entre amb<strong>as</strong> às<br />
personagens. M<strong>as</strong>, para isso, <strong>de</strong>vemos enten<strong>de</strong>r qual o papel <strong>da</strong> numismática para o mundo romano e<br />
porque <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> sua produção enquanto artefato fiduciário (econômico) e simbólico.<br />
A moe<strong>da</strong> romana como signo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
De acordo com Daniel J. Taylor (1), a História <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> é indubitavelmente estampa<strong>da</strong> em su<strong>as</strong><br />
moed<strong>as</strong>. A economia romana, para o autor, estava b<strong>as</strong>ea<strong>da</strong> n<strong>as</strong> relações <strong>de</strong> troca, cujo valor era <strong>de</strong>terminado<br />
pelo gado. Tal relação geraria a palavra latina pecunia, isto é, dinheiro que, por sua vez, <strong>de</strong>riva <strong>da</strong> palavra<br />
pecus ao qual se refere a ovelha ou ao gado em geral. Na sua vertente mítica, dinheiro <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> um epíteto<br />
latino – moneta – atributo <strong>da</strong> <strong>de</strong>usa romana Juno, cujo templo no Capitólio <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> será o primeiro a cunhar<br />
moed<strong>as</strong>, provavelmente com caráter votivo. As primeir<strong>as</strong> moed<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> eram cunhad<strong>as</strong> em bronze ru<strong>de</strong><br />
(aes ru<strong>de</strong>) e que por volta <strong>de</strong> 289 a C <strong>de</strong> acordo com a tradição se tornaram aes gravam, ou seja, moed<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />
bronze pesad<strong>as</strong> com peso e símbolos <strong>de</strong>finidos pelo Estado sob a supervisão <strong>de</strong> três funcionários, que<br />
p<strong>as</strong>saram a ser conheci<strong>da</strong> como monetales <strong>de</strong> tresviri (2) (cujo simbolo estan<strong>da</strong>rte era composta por um<br />
conjunto <strong>de</strong> equinos).<br />
Com o avanço romano para o sul, os romanos tiveram contato com <strong>as</strong> moed<strong>as</strong> <strong>de</strong> prata<br />
provenientes d<strong>as</strong> colôni<strong>as</strong> greg<strong>as</strong>. Este contato estabeleceu a cunhagem <strong>de</strong> moed<strong>as</strong> com o mo<strong>de</strong>lo dos<br />
monetales <strong>de</strong> tresviri em prata exclusivamente para a região (por volta <strong>de</strong> 269). Essa cunhagem marca o<br />
início <strong>da</strong> expansão romana para a Magna Grécia. Durante <strong>as</strong> Guerr<strong>as</strong> púnic<strong>as</strong>, <strong>as</strong> moed<strong>as</strong> <strong>de</strong> prata se<br />
<strong>de</strong>svalorizaram pela esc<strong>as</strong>sez do metal. As moed<strong>as</strong> também expressariam a vocação militar e expansionista<br />
<strong>de</strong> <strong>Roma</strong> ao trocar a legen<strong>da</strong> <strong>de</strong> su<strong>as</strong> cunhagens <strong>de</strong> <strong>Roma</strong>no para <strong>Roma</strong>.. A <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> frente a<br />
Hanibal traz uma nova transformação n<strong>as</strong> norm<strong>as</strong> <strong>de</strong> cunhagem em ouro, prata ou bronze e <strong>as</strong> moed<strong>as</strong><br />
ressurgiram a partir <strong>da</strong> escala do <strong>de</strong>nário <strong>de</strong> prata. N<strong>as</strong> moed<strong>as</strong> <strong>de</strong> bronze <strong>as</strong> <strong>de</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s mais comuns foram<br />
Janus, Mércurio e Apolo. N<strong>as</strong> moed<strong>as</strong> <strong>de</strong> prata cunhad<strong>as</strong> pelos monetales <strong>de</strong> tresviri <strong>Roma</strong> e a Vitória foram<br />
personificad<strong>as</strong> e carruagens contendo du<strong>as</strong> <strong>de</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s e quatro cavalos figurava como símbolos.<br />
A moe<strong>da</strong> e o po<strong>de</strong>r pessoal: o c<strong>as</strong>o Julia Procula e <strong>de</strong> Flavia Nicomachus<br />
Além d<strong>as</strong> <strong>de</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s e símbolos que consagram a vitória romana, os monetales <strong>de</strong> tresviri<br />
começaram a cunhar moed<strong>as</strong> com a marca dos magistrados, seus símbolos, monogram<strong>as</strong> nomes<br />
abreviados, por ao redor 150 A.C., nomes cheios que excluía palavra ROMA. Essa forma particular <strong>de</strong><br />
cunhagem se perpetuou. Os monetales <strong>de</strong> tresviri começaram a <strong>de</strong>screver inci<strong>de</strong>ntes históricos que<br />
envolvem os seus antep<strong>as</strong>sados e os serviços feitos por eles. Essa pratica se torna mais visível durante <strong>as</strong><br />
guerr<strong>as</strong> cívis e moed<strong>as</strong> com situações históric<strong>as</strong> eram forjad<strong>as</strong> e tinham um conteúdo simbólico muito forte,<br />
principalmente essa confecção está alia<strong>da</strong> ou subordina<strong>da</strong> a generais po<strong>de</strong>rosos como Sulla, Pompeu ou<br />
Julius Caesar que usam moed<strong>as</strong> como instrumentos <strong>de</strong> propagan<strong>da</strong> política. Essa propagan<strong>da</strong> substituiu a<br />
len<strong>da</strong> cívica e <strong>de</strong>sígnios patrióticos n<strong>as</strong> moed<strong>as</strong> do mesmo modo que os sol<strong>da</strong>dos juraram submissão para os<br />
generais em vez <strong>de</strong> <strong>Roma</strong>. Em 44 A.C., César colocou seu retrato auto-retrato em um <strong>de</strong>nario <strong>de</strong> prata (3).<br />
Essa moe<strong>da</strong> estabelece um prece<strong>de</strong>nte novo que se torna à norma no Império <strong>Roma</strong>no, quebrando com o<br />
padrão numismático antigo <strong>de</strong> enaltecer <strong>Roma</strong>.<br />
Usar moe<strong>da</strong> para fazer propagan<strong>da</strong> ou enaltecimento pessoal é uma pratica comum <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong><br />
Augusto, que com o estabelecimento <strong>da</strong> Pax <strong>Roma</strong>na, permitiu <strong>as</strong> provínci<strong>as</strong> e outr<strong>as</strong> regiões do Império que<br />
pu<strong>de</strong>ssem cunhar moed<strong>as</strong>. As moed<strong>as</strong> em bronze enfatizavam o po<strong>de</strong>r entre o povo e os militares, tendo em<br />
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