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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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ao trabalho árduo, frugali<strong>da</strong><strong>de</strong>, austeri<strong>da</strong><strong>de</strong>. A educação esportiva, que em Aten<strong>as</strong> vai sendo vagarosamente<br />

<strong>de</strong>smilitariza<strong>da</strong> (embora não perca essa finali<strong>da</strong><strong>de</strong> primeira), em <strong>Roma</strong> jamais <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser objetivo: os jovens<br />

eram sol<strong>da</strong>dos-lavradores, aprendiam o lançamento do <strong>da</strong>rdo, esgrima, manejo <strong>da</strong> espa<strong>da</strong> e <strong>de</strong> arm<strong>as</strong><br />

divers<strong>as</strong>, volteio, esporear cavalos, luta, nado em rios cau<strong>da</strong>losos e torrentes, além <strong>de</strong> resistência a<br />

temperatur<strong>as</strong> extrem<strong>as</strong>. Plutarco, em sua obra Vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Catão, ilustra bem a rotina <strong>da</strong> educação <strong>de</strong> um jovem<br />

romano: Depois que sua mulher lhe <strong>de</strong>u um filho, não havia negócio urgente, nem mesmo para o Estado, que<br />

não <strong>de</strong>ix<strong>as</strong>se, para ir à c<strong>as</strong>a na hora em que sua mulher lavava e trocava seu filho, pois ela o alimentava com<br />

seu próprio leite (...). Quando seu filho atingiu a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> razão, e <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, ele mesmo<br />

ensinou-lhe <strong>as</strong> letr<strong>as</strong>, enquanto que um escravo chamado Quilon, homem honesto e bom gramático<br />

ensinava-lhe outr<strong>as</strong> matéri<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> como ele mesmo diz, não queria que um escravo discutisse com seu filho<br />

nem que lhe pux<strong>as</strong>se a orelha, quando acontecia não apren<strong>de</strong>r prontamente o que lhe ensinava, não<br />

querendo que seu filho se torn<strong>as</strong>se <strong>de</strong>vedor a um escravo por uma tão bela e tão gran<strong>de</strong> coisa como a ele<br />

por ter lhe ensinado <strong>as</strong> letr<strong>as</strong>. Em vista disso, ensinou-lhe a gramática, <strong>as</strong> leis, a esgrima, não somente a<br />

atirar o <strong>da</strong>rdo, brincar com a espa<strong>da</strong>, girar, esporear os cavalos e manejar tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> arm<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> também<br />

combater a golpes <strong>de</strong> punho, suportar o frio e o calor, p<strong>as</strong>sar a nado a correnteza <strong>de</strong> um rio impetuoso e<br />

inflexível. (PLUTARCO, Vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Catão, XX-68.)<br />

Não há esporte no sentido grego do termo. O treinamento não implica a idéia <strong>de</strong> concorrência.<br />

Mesmo quando os ludi tornam-se cerimôni<strong>as</strong> mais oficiais, solenes, não havia o i<strong>de</strong>al competitivo tão<br />

marcado e nem o que os helenos chamam <strong>de</strong> agonismo – a competição saudável, m<strong>as</strong> que visa sempre a<br />

vitória. Enquanto os alicerces d<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> esportiv<strong>as</strong> greg<strong>as</strong> encontram-se no atletismo puro, nos ginásios e<br />

palestr<strong>as</strong>, a juventu<strong>de</strong> romana preferirá o circo e o anfiteatro. Já a equitação aparece n<strong>as</strong> du<strong>as</strong> <strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s</strong><br />

como elemento <strong>de</strong> uma elite.<br />

Um dos traços que permaneceu marca<strong>da</strong>mente helênico foi o atletismo. A prática esportiva<br />

conservou-se atrela<strong>da</strong> essencialmente a pai<strong>de</strong>ía ática. Os exercícios gímnicos integraram-se na vi<strong>da</strong> romana<br />

sob a categoria <strong>de</strong> higiene, não sob esporte, a título <strong>de</strong> acessório <strong>da</strong> técnica dos banhos <strong>de</strong> vapor (MARROU,<br />

1990, p. 385). Arquitetonicamente a “palestra” romana é uma <strong>de</strong>pendência d<strong>as</strong> term<strong>as</strong>, hipertrofiad<strong>as</strong> com<br />

relação <strong>as</strong> instalações esportiv<strong>as</strong>, se a compararmos com o mo<strong>de</strong>lo grego.<br />

Diante <strong>da</strong> ginástica grega, os romanos reagiram como “Bárbaros”. Chocavam-se com o nú - aceito<br />

como signo <strong>de</strong> civilização pelos helenos - (SENNETT, 1997, p. 40) e com a pe<strong>de</strong>r<strong>as</strong>tia, interpretando como<br />

vergonha e não honra. Arte e <strong>da</strong>nça são relegad<strong>as</strong> ao espetáculo e não como um prazer para amadores,<br />

sendo posteriormente abandonad<strong>as</strong> ou negligenciad<strong>as</strong> pela educação latina.<br />

Com relação a área propriamente intelectual, não havia na educação antiga romana, uma<br />

preocupação com a parte intelectiva. O jovem romano apren<strong>de</strong> unicamente o que <strong>de</strong>ve saber um bom<br />

proprietário campesino e antes <strong>de</strong> tudo, agronomia. Era necessário que soubesse valorizar seu patrimônio,<br />

administrar bem os escravos, saber cultivar a terra, aconselhar o feitor e o inten<strong>de</strong>nte. Esse mesmo jovem<br />

tinha tido contato com obr<strong>as</strong> como a <strong>de</strong> Varrão (Sobre a Agricultura) e <strong>de</strong> Catão (De Agricultura). A<br />

aristocracia romana soube, como ninguém, aproveitar tudo mais que fosse útil d<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> e até <strong>de</strong><br />

outr<strong>as</strong> <strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s</strong> para seu bem próprio e melhoria <strong>da</strong> produção. Aprendiam medicina não no mesmo<br />

objetivo do i<strong>de</strong>al humano grego <strong>de</strong> sabedoria, mais para cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> seus escravos e melhorar sua produção,<br />

aprendiam pel<strong>as</strong> aplicações prátic<strong>as</strong> no cotidiano e não pelo mero saber teórico, como a cultura grega tanto<br />

propagava.<br />

M<strong>as</strong> <strong>Roma</strong> jamais permaneceu imune ao contágio do helenismo. O contato já advinha, ain<strong>da</strong> que<br />

<strong>de</strong> forma indireta dos etruscos e já <strong>de</strong> longa <strong>da</strong>ta. M<strong>as</strong> é a partir dos séculos V e IV a.C que vemos a<br />

influência grega aumentar na plebe romana, sendo notória em to<strong>da</strong> parte: na arte, na vi<strong>da</strong> religiosa, e<br />

estrutura arquitetônica. Com a conquista <strong>da</strong> Magna Grécia e <strong>de</strong>pois com uma série <strong>de</strong> guerr<strong>as</strong> do oriente que<br />

culminariam com a anexação <strong>da</strong> Macedônia (168) e posteriormente <strong>de</strong> boa parte do território helênico (146),<br />

<strong>Roma</strong> acaba se tornando um Império que ca<strong>da</strong> vez mais bilíngüe, su<strong>as</strong> provínci<strong>as</strong> em gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong> falam o<br />

grego e o latim. Tão logo <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es culturais greg<strong>as</strong> começavam a <strong>as</strong>sentar na cultura romana, os latinos<br />

<strong>de</strong>scobriram imediatamente o senso prático do que aquela civilização po<strong>de</strong>ria contribuir: A retórica e a<br />

filosofia representam a contribuição grega para uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que o falar bem em público era <strong>de</strong> suma<br />

importância. Durante todo o século II, <strong>Roma</strong> outorgava à palavra um lugar tão relevante como na Aten<strong>as</strong> do V<br />

século a.C, a Aten<strong>as</strong> dos sofist<strong>as</strong>. Em <strong>Roma</strong>, o homem político <strong>de</strong>via saber conquistar o favor <strong>da</strong> multidão,

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