Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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A GUERRA, SUAS ARMAS E SEUS DOMÍNIOS<br />
Alair Figueiredo Duarte - <strong>UERJ</strong>NEA<br />
Na obra História, Políbios(1) documenta a atuação do exército romano n<strong>as</strong> Guerr<strong>as</strong> Púnic<strong>as</strong>(2)<br />
<strong>de</strong>monstrando como uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser uma Máquina <strong>de</strong> Guerra, para se transformar totalmente<br />
em uma Máquina <strong>de</strong> Domínio(3). Nos relatos, também nos surge à possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber alguns<br />
comportamentos tais como a relação entre <strong>Roma</strong> e outr<strong>as</strong> <strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>. Pois há nos escritos<br />
<strong>de</strong> Políbios a presença <strong>da</strong> atuação <strong>de</strong> outros povos em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> combate(4), que não somente os<br />
cartagineses.<br />
Segundo Políbios, no período em que se <strong>de</strong>u a segun<strong>da</strong> Guerra Púnica (218-204 a.C.), existia <strong>de</strong><br />
início um equilíbrio <strong>de</strong> forç<strong>as</strong>, tanto na esfera militar quanto na esfera econômica d<strong>as</strong> <strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s</strong> roman<strong>as</strong> e<br />
cartagines<strong>as</strong>, havendo incerteza às perspectiv<strong>as</strong> futur<strong>as</strong>. Nesta contextuali<strong>da</strong><strong>de</strong> encontrava-se a disputa pelo<br />
domínio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Siracusa além dos territórios <strong>de</strong> Sardo e Sicília (Políbios. História. VIII, 1).<br />
Embora <strong>as</strong> Guerr<strong>as</strong> Púnic<strong>as</strong> tiveram como protagonist<strong>as</strong> romanos e cartagineses, para uma melhor<br />
compreensão dos nossos objetivos, também <strong>de</strong>stacamos feitos <strong>de</strong>sempenhados por povos helênicos, como<br />
os tarantinos(5). Estes tinham sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e região domina<strong>da</strong> por trop<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> há um longo período, e por<br />
esta razão sua liber<strong>da</strong><strong>de</strong> encontrava-se cercea<strong>da</strong>. Este fato levou os tarantinos a aliarem-se aos cartagineses<br />
visando por um fim à dominação romana em seus territórios. Percebemos através <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Políbios que<br />
sem a contribuição <strong>de</strong>ste povo, seria extremamente difícil para forç<strong>as</strong> cartagines<strong>as</strong> tomar aquela ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
subjugo romano. .<br />
Sobre a participação <strong>de</strong> povos helênicos e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes frente à dominação romana no<br />
mediterrâneo, também po<strong>de</strong>mos citar o cerco à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Siracusa (6) <strong>de</strong>stacando a figura <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s(7)<br />
e su<strong>as</strong> invenções. Sobre esta personali<strong>da</strong><strong>de</strong> Políbios narra: “Arquime<strong>de</strong>s havia construído máquin<strong>as</strong> capazes<br />
<strong>de</strong> lançarem projéteis a qualquer distancia. Se o inimigo naveg<strong>as</strong>se longe, Arquime<strong>de</strong>s usava uma máquina<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance; se este aproxim<strong>as</strong>se, empregava uma máquina <strong>de</strong> menor po<strong>de</strong>r, usando sempre a mais<br />
a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> distancia. Dessa forma, colocava o inimigo em dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> e o infundia tal temor, que este<br />
evitava manter o cerco à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> com su<strong>as</strong> naus...”. (História. VIII, 7-8.)<br />
Os inventos <strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s contribuíram para o avanço tecnológico <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> ao longo dos<br />
tempos. Um fato que po<strong>de</strong> ser apreendido quando observamos o discurso dos historiadores e oficiais <strong>da</strong><br />
reserva, d<strong>as</strong> Forç<strong>as</strong> Armad<strong>as</strong> norte-americana: Major General R/1 L. Lamberson, juntamente com o Coronel<br />
R/1 Edward Duff, e o Tenente-Coronel R/1 Cortney Holmberg, que para estruturar projetos militares no<br />
presente, como a criação e utilização <strong>de</strong> arm<strong>as</strong> com l<strong>as</strong>er, usam <strong>da</strong> tecnologia militar do p<strong>as</strong>sado (8).<br />
Segundo estes pesquisadores, neste período Arquime<strong>de</strong>s estava incumbido pelo rei Hierão <strong>de</strong><br />
Siracusa, a criar máquin<strong>as</strong> que pu<strong>de</strong>ssem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> frota do cônsul Claudius Marcellus,<br />
coman<strong>da</strong>nte d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> naquele cerco. Contam também, que além <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> catapulta<br />
documenta<strong>da</strong> por Políbios, Arquime<strong>de</strong>s teria usado outr<strong>as</strong> engenhosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que mostraram eficiência na<br />
missão <strong>de</strong> evitar que trop<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> tom<strong>as</strong>sem a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Utilizando-se <strong>da</strong> topografia, a qual permitia uma posição vantajosa, Arquime<strong>de</strong>s posicionou<br />
espelhos em ângulos a<strong>de</strong>quados para refletir e focalizar a luz solar sobre <strong>as</strong> naus roman<strong>as</strong>. Com isso<br />
conseguiu concentrar energia solar suficiente para iniciar um incêndio sobre os navios inimigos. Contudo,<br />
<strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>stacar que estes artifícios somente retar<strong>da</strong>ram o sucesso d<strong>as</strong> trop<strong>as</strong> roman<strong>as</strong>, que<br />
transp<strong>as</strong>saram pel<strong>as</strong> muralh<strong>as</strong> <strong>de</strong> Siracusa em 212 a.C.<br />
Nestes relatos, temos a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> presenciar a ação <strong>de</strong> forç<strong>as</strong> que ora mostram-se em<br />
posição agressiva, ora em posição <strong>de</strong>fensiva contra a emergente supremacia militar romana. Porém todos os<br />
esforços não conseguiram evitar que <strong>Roma</strong> obtivesse sucesso nos seus objetivos, ao menos naquele<br />
momento. O ambiente <strong>de</strong> animosi<strong>da</strong><strong>de</strong> torna-se o espaço propicio para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong><br />
resistência e <strong>de</strong> dominação. Pois nos fatos apresentados, tarantinos e siracusanos mostram-se como<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ir<strong>as</strong> Máquin<strong>as</strong> <strong>de</strong> Guerra resistindo a Máquina <strong>de</strong> Domínio romana(9).<br />
A submissão através <strong>da</strong> força d<strong>as</strong> arm<strong>as</strong>, tal qual <strong>Roma</strong> <strong>de</strong>monstrou ao fim <strong>da</strong> III Guerr<strong>as</strong> Púnica<br />
em 146 a.C., transformando a antiga ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Fenícia (Cartago) em mais uma <strong>de</strong> su<strong>as</strong> provínci<strong>as</strong>, não é o<br />
único recurso utilizado por Máquin<strong>as</strong> <strong>de</strong> Domínio. Pois percebemos que <strong>as</strong> relações entre est<strong>as</strong> Máquin<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />
Guerra e <strong>de</strong> Domínio, manifestam-se sob diferentes planos. Su<strong>as</strong> engrenagens, tentáculos e garr<strong>as</strong>, circulam<br />
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