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Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ

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ROMA E O ORIENTE: A ATUAÇÃO ROMANA NA PALESTINA DURANTE A REBELIÃO MACABÉIA<br />

Jorwan Gama <strong>da</strong> Costa Junior - UNIRIO<br />

Introdução:<br />

A Rebelião Macabéia marca a aproximação entre ju<strong>de</strong>us e romanos, concretiza<strong>da</strong> após o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> um tratado <strong>de</strong> aliança entre estes povos. Esta revolta é concomitante ao período <strong>de</strong><br />

expansão imperialista que ocorria em <strong>Roma</strong>. Assim, este trabalho visa analisar como ocorreu esta<br />

aproximação, e principalmente <strong>as</strong> ações roman<strong>as</strong> neste processo.<br />

Para tal análise, apresentaremos os conceitos <strong>de</strong> imperialismo romano e romanização, para <strong>de</strong>pois<br />

apresentarmos <strong>as</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s vivid<strong>as</strong> por <strong>Roma</strong> e pelos ju<strong>de</strong>us durante a aproximação entre os povos aqui<br />

estu<strong>da</strong>dos. Por fim, então, po<strong>de</strong>mos analisar os relatos contidos no I Macabeus, nossa fonte <strong>de</strong> estudo.<br />

Durante a Rebelião Macabéia, <strong>Roma</strong> p<strong>as</strong>sa por seu período <strong>de</strong> expansão imperialista, <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong><br />

imperialist<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m ser vist<strong>as</strong> como um exercício <strong>de</strong> soberania <strong>de</strong> um povo sobre outro povo<br />

(MENDES, 2004). O exercício pleno <strong>de</strong>sta soberania só seria possível após um bem sucedido processo <strong>de</strong><br />

romanização. No c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Judéia, <strong>Roma</strong> só inicia este processo muitos anos <strong>de</strong>pois do estabelecimento do<br />

tratado <strong>de</strong> aliança.<br />

Segundo Norma Men<strong>de</strong>s, a romanização <strong>de</strong>ve ser vista como um processo <strong>de</strong> interação cultural<br />

que leva a uma dupla troca entre <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> envolvid<strong>as</strong>, causando uma série <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong> sócio-econômic<strong>as</strong><br />

que visam instituir a hegemonia romana na região conquista<strong>da</strong>. Contudo, <strong>as</strong> potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais não são<br />

suplantad<strong>as</strong>, gerando o que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> “experiênci<strong>as</strong> divergentes” (SAID, 1995. pg. 64).<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber, então, que <strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> imperialist<strong>as</strong> roman<strong>as</strong> estão intimamente ligad<strong>as</strong> ao<br />

processo <strong>de</strong> romanização, amb<strong>as</strong> fazendo parte <strong>de</strong> todo um processo <strong>de</strong> conquista e dominação <strong>de</strong> um<br />

território.<br />

Esta aproximação <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> <strong>da</strong> região do povo ju<strong>de</strong>u é apen<strong>as</strong> o primeiro p<strong>as</strong>so para o processo <strong>de</strong><br />

conquista e romanização <strong>da</strong> região. Processo este que sofreu inúmeros reveses ao tentar subjugar um povo<br />

que já tinha um sentimento <strong>de</strong> pertencimento <strong>de</strong> grupo, fortalecido ain<strong>da</strong> mais após a dita rebelião.<br />

Po<strong>de</strong>mos então ver o que acontecia com ju<strong>de</strong>us e com os romanos durante sua aproximação.<br />

<strong>Roma</strong> e a Judéia no século II a.C.:<br />

Ao relatarmos a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos ju<strong>de</strong>us, apresentaremos acontecimentos que culminaram na<br />

<strong>de</strong>flagração <strong>da</strong> Rebelião Macabéia. O objetivo não é analisar <strong>as</strong> caus<strong>as</strong> <strong>da</strong> revolução, m<strong>as</strong> <strong>da</strong>r um panorama<br />

geral <strong>da</strong> Palestina, em especial <strong>da</strong> Judéia, na época do estabelecimento do tratado com os romanos.<br />

Vista como o processo que permitiu a retoma<strong>da</strong> do controle <strong>da</strong> Judéia pelos ju<strong>de</strong>us, a Rebelião<br />

Macabéia ocorre quando ju<strong>de</strong>us juntam-se em torno <strong>de</strong> Jud<strong>as</strong> Macabeus para livrar a Judéia do domínio<br />

selêuci<strong>da</strong>. Os acontecimentos são posteriores <strong>as</strong> batalh<strong>as</strong> entre Antíoco IV Epífanes, governante <strong>da</strong> Síria,<br />

contra Ptolomeu VI Filométor do Egito. Seria apen<strong>as</strong> mais uma d<strong>as</strong> muit<strong>as</strong> batalh<strong>as</strong> entre egípcios e<br />

selêucid<strong>as</strong>, c<strong>as</strong>o após sua <strong>de</strong>rrota, Antioco IV, não resolvesse intervir n<strong>as</strong> prátic<strong>as</strong> do povo ju<strong>de</strong>u, como a<br />

circuncisão (MOMIGLIANO, 1975).<br />

O <strong>de</strong>scontentamento ju<strong>de</strong>u quanto a administração <strong>de</strong> Jerusalém existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>as</strong> mu<strong>da</strong>nç<strong>as</strong><br />

infligid<strong>as</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> por Antíoco III. Com este governante selêuci<strong>da</strong>, os ju<strong>de</strong>us p<strong>as</strong>sam por uma helenização<br />

que cria leis que vão <strong>de</strong> encontro aos ensinamentos <strong>da</strong> Torah. Quando então Antíoco IV resolve tratar<br />

Jerusalém como um pólis e não mais como uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>-Templo, os ju<strong>de</strong>us revoltam-se e buscam retomar o<br />

controle administrativo <strong>de</strong> sua terra.(SILVA, 2006).<br />

Seja como um movimento com justificativa religiosa, ou com objetivos <strong>de</strong> tirar o controle <strong>de</strong><br />

Jerusalém d<strong>as</strong> mãos <strong>da</strong> elite local alia<strong>da</strong> aos selêucid<strong>as</strong>, a Revolta Macabéia po<strong>de</strong> ser vista como um<br />

movimento que rapi<strong>da</strong>mente teve seu foco na in<strong>de</strong>pendência dos Ju<strong>de</strong>us e <strong>de</strong> to<strong>da</strong> Judéia. Entretanto, a<br />

in<strong>de</strong>pendência só seria possível com um forte aliado, e este seria <strong>Roma</strong>, que p<strong>as</strong>sava por uma grave crise<br />

interna durante os acontecimentos na Judéia.<br />

Durante os dois últimos séculos <strong>da</strong> república, os romanos sofrem com intens<strong>as</strong> movimentações e<br />

conflitos sociais, que ocorrem <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong> sua cl<strong>as</strong>se dirigente. Já no início do século II a.C. <strong>Roma</strong> era o<br />

centro <strong>de</strong> um império mundial, e o crescimento em po<strong>de</strong>r foi acompanhado do crescimento d<strong>as</strong> tensões<br />

sociais ca<strong>da</strong> vez mais diversificad<strong>as</strong> e que po<strong>de</strong>m ser vist<strong>as</strong> nos embates entre senhores e escravos,<br />

romanos e itálicos ou entre oligarquia e novos ricos.<br />

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