Roma e as sociedades - Núcleo de Estudos da Antiguidade - UERJ
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COLÔNIA ARA CLAUDIA AGRIPPINENSI: INTERAÇÕES NA GERMÂNIA INFERIOR<br />
Otto C. Barreto Neto – UNIRIO<br />
Tenho como objetivo trabalhar com o conceito <strong>de</strong> colonização na antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> especificamente no<br />
c<strong>as</strong>o <strong>da</strong> Germânia Inferior e sua capital Colônia Ara Claudia Agrippinensi. É preciso em uma primeira análise<br />
esclarecer os traços coloniais <strong>de</strong> um imperialismo romano para <strong>de</strong>pois focarmos um estudo <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o.<br />
Inevitável a observação <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> romanização no processo colonial romano, pretendo não aprofun<strong>da</strong>r<br />
esta discussão, m<strong>as</strong> ilustrar com relações culturais ocorrid<strong>as</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que exponho aqui.<br />
Colonização <strong>Roma</strong>na<br />
O conceito <strong>de</strong> colônia usado nos tempos mo<strong>de</strong>rnos difere-se do significado na antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> romana.<br />
Na mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> criamos a imagem, para esse termo, <strong>de</strong> uma extensa área qu<strong>as</strong>e sempre pouco<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte diretamente <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> metrópole. Dessa visão, o que se <strong>as</strong>semelha é a<br />
idéia <strong>de</strong> conquista realmente efetiva por <strong>Roma</strong>, porém <strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> são mais abrangentes. Ao conquistar o<br />
território e estabelecer fronteir<strong>as</strong>, <strong>Roma</strong> iniciava um processo <strong>de</strong> oficialização <strong>da</strong> região e conce<strong>de</strong>ndo a ela<br />
algum status. O primeiro ato recebido pela nova colônia era o ato oficial <strong>de</strong> Estado, procedimento que<br />
regularizava a nova situação do território e seus habitantes. Junto com a burocratização vinha o processo <strong>de</strong><br />
colonização e povoamento, quando não era possível efetivar um contingente populacional, a região<br />
permanecia sob controle público como domínio estatal, servindo <strong>de</strong> outr<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong>. <strong>Roma</strong> não concedia a<br />
nenhuma área em seus domínios o privilégio do ócio, se não era possível formar uma estrutura social<br />
<strong>de</strong>seja<strong>da</strong>, implantava-se ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s agrícol<strong>as</strong> e pecuária, gerando algum tipo <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
proporcionando lucro para o Estado romano como para os arren<strong>da</strong>tários. Este mecanismo nos remete a idéia<br />
do ager publicus.<br />
A colonização romana fazia-se <strong>de</strong> du<strong>as</strong> form<strong>as</strong>: a primeira era o sistema <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> viritae,<br />
romanos, <strong>de</strong> forma individual, recebiam parcel<strong>as</strong> <strong>de</strong> terra e permaneciam sob a jurisdição <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> com<br />
administração direta <strong>da</strong> mesma. A segun<strong>da</strong> forma era, tecnicamente, a colonização em si. Os colonos<br />
recebiam <strong>da</strong> mesma maneira lotes <strong>de</strong> terra, m<strong>as</strong> organizavam-se logo no início em comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, constituindo<br />
seus próprios centros cívicos e com a permissão <strong>de</strong> tomarem su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões em relação à<br />
administração <strong>da</strong> colônia. Geralmente esse tipo <strong>de</strong> colonização <strong>da</strong>va-se em territórios muito hostis, on<strong>de</strong> os<br />
conflitos pediam respost<strong>as</strong> rápid<strong>as</strong> tanto na administração como na organização <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa. Esperar <strong>de</strong>cisões<br />
vind<strong>as</strong> <strong>de</strong> tão longe era qu<strong>as</strong>e impossível em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> ataques.<br />
A construção <strong>de</strong> um centro urbano <strong>de</strong>pendia, acima <strong>de</strong> tudo, d<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> militares<br />
predominantes. As colôni<strong>as</strong> tinham funções diferentes, e por isso cl<strong>as</strong>sificações também. Nos tempos <strong>da</strong><br />
república romana <strong>as</strong> colôni<strong>as</strong> eram <strong>de</strong> dois tipos, uma primeira chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> colôni<strong>as</strong> latin<strong>as</strong>, coloniae latinae ,<br />
composta por habitantes que não possuíam ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia romana. E a outra chama<strong>da</strong> colônia dos ci<strong>da</strong>dãos,<br />
colonia civius romanorum, povoa<strong>da</strong> por aqueles que possuíam ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia romana. As colôni<strong>as</strong> latin<strong>as</strong> eram<br />
mais úteis a <strong>Roma</strong> até <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> 2° Guerra Púnica, el<strong>as</strong> tinham posições militares estratégic<strong>as</strong> e não exigiam<br />
uma administração próxima, o que tirava dos ombros <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> por <strong>de</strong>cisões que seriam<br />
post<strong>as</strong> em prática em lugares tão distantes. Poupava tempo e dinheiro estabelecer colôni<strong>as</strong> latin<strong>as</strong> em locais<br />
conflituosos, era mais viável “construir” um corpo social romano na região para prover um <strong>de</strong>senvolvimento<br />
mais seguro e não tão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos cofres públicos. As colôni<strong>as</strong> dos ci<strong>da</strong>dãos exigiam <strong>de</strong> <strong>Roma</strong> um<br />
esforço administrativo e burocrático muito maior que <strong>as</strong> colôni<strong>as</strong> latin<strong>as</strong>, ain<strong>da</strong> criava um problema <strong>de</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e interação <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Era difícil para a aristocracia romana aceitar um ci<strong>da</strong>dão<br />
romano com todo os direitos por lei residindo tão distante, até que ponto um ci<strong>da</strong>dão romano po<strong>de</strong>ria residir<br />
longinquamente do centro e ain<strong>da</strong> <strong>as</strong>sim ter todos os privilégios que um aristocrata local? Não é difícil<br />
avaliarmos o porquê <strong>Roma</strong> optou por construir um número muito maior <strong>de</strong> colôni<strong>as</strong> latin<strong>as</strong> do que <strong>de</strong><br />
ci<strong>da</strong>dãos.<br />
Para erguer uma colônia era preciso um corpo <strong>de</strong> comissão para tomar <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões necessári<strong>as</strong> no<br />
local. Esses comissários foram escolhidos <strong>de</strong> diferentes maneir<strong>as</strong> em diferentes circunstânci<strong>as</strong> na história <strong>de</strong><br />
<strong>Roma</strong>. Na república o Senado os escolhia, no Império pelo imperador, m<strong>as</strong> ain<strong>da</strong> no período pós Guerra<br />
Social com Sulla, houve um espaço <strong>de</strong> tempo em que essa comissão era forma<strong>da</strong> por escolhidos <strong>de</strong> uma<br />
Assembléia Tribal (comitia tributa). Os comissários arbitravam n<strong>as</strong> questões entre colonos e colonos e<br />
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