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o teísmo e o problema do mal em richard swinburne - FaJe

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conciliar fé e razão. Foi a influência <strong>do</strong> neoplatonismo que abriu o<br />

entendimento de Agostinho sobre a natureza <strong>do</strong> <strong>mal</strong>, como privação <strong>do</strong> ser.<br />

O objetivo de Agostinho, como sab<strong>em</strong>os, era encontrar uma resposta<br />

que superasse o pensamento herético <strong>do</strong>s maniqueus. Em especial a idéia<br />

sustentada por eles de que há <strong>do</strong>is princípios metafísicos fundamentais: um <strong>do</strong><br />

b<strong>em</strong> ou princípio da luz, outro <strong>do</strong> <strong>mal</strong> ou princípio das trevas. A partir de sua<br />

conversão ao cristianismo essa resposta não resolvia ou explicava mais a<br />

orig<strong>em</strong> <strong>do</strong> <strong>mal</strong>, pois sua nova vida o colocava diante da verdade supr<strong>em</strong>a: a<br />

idéia de um Deus bon<strong>do</strong>so e perfeito, cria<strong>do</strong>r de todas as coisas. Isso não lhe<br />

permitia admitir que pudesse estar <strong>em</strong> Deus a orig<strong>em</strong> de coisas imperfeitas,<br />

que deturpass<strong>em</strong> o senti<strong>do</strong> da criação. Mas como resolver então o <strong>probl<strong>em</strong>a</strong><br />

que tão de perto o acompanhara desde a juventude<br />

Agostinho reconhece evident<strong>em</strong>ente a existência <strong>do</strong> <strong>mal</strong> no mun<strong>do</strong>. Ele<br />

tende até a uma visão bastante pessimista da humanidade, seja pela<br />

experiência de sua vida e da história de seu t<strong>em</strong>po, seja pela influência <strong>do</strong><br />

dualismo maniqueu que abraçou por mais de dez anos. Há acontecimentos<br />

maus, situações más, ações más praticadas livr<strong>em</strong>ente pelos homens. O<br />

sofrimento e a morte, a violência e a injustiça, o ódio e a vingança pertenc<strong>em</strong> à<br />

realidade quotidiana. Ao aban<strong>do</strong>nar a explicação maniquéia dessa realidade,<br />

Agostinho foi obriga<strong>do</strong> a confrontar-se de novo com a questão da orig<strong>em</strong> e<br />

natureza <strong>do</strong> <strong>mal</strong>. Não será exagero considerar que a sua foi a primeira tentativa<br />

cristã consistente de tentar responder ao <strong>probl<strong>em</strong>a</strong> já coloca<strong>do</strong> por Epicuro<br />

cerca de trezentos anos antes de Cristo.<br />

1.2.2. A natureza <strong>do</strong> <strong>mal</strong> como privação de ser<br />

Agostinho parte da idéia bíblica da criação, que explica como “creatio ex<br />

nihilo”, a partir de nada. A criação não consiste, portanto, na transformação ou<br />

organização de uma matéria caótica pré-existente, mas <strong>do</strong> surgimento de uma<br />

realidade completamente nova por um ato divino como pura <strong>do</strong>ação <strong>do</strong> ser.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> o que existe é cria<strong>do</strong> por Deus, deriva inteiramente dele.<br />

Ora, o conceito que Agostinho her<strong>do</strong>u tanto <strong>do</strong>s escritos neoplatônicos quanto<br />

das escrituras sagradas dava-lhe a convicção de que Deus era o b<strong>em</strong> supr<strong>em</strong>o<br />

e plenitude da perfeição. Dele só se podiam esperar coisas boas. De fato, o<br />

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