o teÃsmo e o problema do mal em richard swinburne - FaJe
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1.2.5. Conclusão: A justificação de Deus diante <strong>do</strong> <strong>mal</strong><br />
Para Agostinho, portanto, a criação é perfeita: há uma ord<strong>em</strong> na<br />
natureza e cada ser cria<strong>do</strong> deve cumprir sua finalidade dentro de um propósito<br />
maior que não pode ser muda<strong>do</strong>. Por isso, aquilo que poderia ser considera<strong>do</strong><br />
ruim na criação, p.ex. um terr<strong>em</strong>oto, é entendi<strong>do</strong> como ruim pela limitação<br />
humana, ao não conseguir perceber a totalidade deste propósito maior.<br />
Com efeito, a imperfeição, ou perfeição limitada das criaturas, não é um<br />
<strong>mal</strong>, ou seja, a privação de algo que lhes compete, mas apenas a condição<br />
necessária para que elas existam como distintas <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r. Neste senti<strong>do</strong>,<br />
para ele, o <strong>mal</strong> natural, enquanto privação efetiva de um b<strong>em</strong> natural, existe<br />
apenas como corrupção da criação, ou seja, como resulta<strong>do</strong> da inversão da<br />
sua ord<strong>em</strong> hierárquica, o que, por sua vez, é conseqüência da corrupção <strong>do</strong><br />
hom<strong>em</strong>, i.e. <strong>do</strong> peca<strong>do</strong> (original). Portanto, o <strong>mal</strong> natural, na medida <strong>em</strong> que é<br />
considera<strong>do</strong> tal, t<strong>em</strong> como orig<strong>em</strong> o <strong>mal</strong> moral.<br />
Quanto ao <strong>mal</strong> moral, este é de inteira responsabilidade <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
função de suas escolhas. Para Agostinho, Deus não interfere no resulta<strong>do</strong> das<br />
escolhas, pois elas são livres. Diante <strong>do</strong>s <strong>mal</strong>es que pod<strong>em</strong> resultar de tais<br />
escolhas, a alternativa que ele apresenta é a ação da graça divina, que redime<br />
e cura tais <strong>mal</strong>es.<br />
T<strong>em</strong>os aqui uma resposta que representa certo otimismo apoia<strong>do</strong> no<br />
cristianismo como fonte de uma afirmação da bondade de toda criação. Isso<br />
opôs Agostinho ao pessimismo maniqueu, que d<strong>em</strong>onizava a matéria e fazia<br />
<strong>do</strong> hom<strong>em</strong> um ser <strong>em</strong> permanente crise por sua dualidade, odian<strong>do</strong> o próprio<br />
corpo, por ser este uma prisão <strong>do</strong> espírito.<br />
De tu<strong>do</strong> o que se expôs até aqui, depreende-se que, para Agostinho, os<br />
<strong>mal</strong>es têm a seguinte explicação: o <strong>mal</strong> físico provém da corrupção <strong>do</strong>s<br />
princípios de operação de bens naturais nos corpos; e o <strong>mal</strong> moral, da<br />
consciente escolha de bens menores e particulares, <strong>em</strong> detrimento de bens<br />
maiores e universais, resultante da corrupção das operações mais excelentes<br />
que o entendimento e a vontade pod<strong>em</strong> realizar: compreender a verdade e<br />
querer o b<strong>em</strong>. Esses <strong>mal</strong>es não possu<strong>em</strong> ser, mas parasitam os entes que<br />
corromp<strong>em</strong>, enquanto privações de bens da natureza ou <strong>do</strong> próprio ato<br />
humano livre.<br />
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