o teÃsmo e o problema do mal em richard swinburne - FaJe
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Para resolver este novo <strong>probl<strong>em</strong>a</strong>, Agostinho introduz uma consideração<br />
que mantém certa analogia com concepções estóicas e neoplatônicas. É<br />
preciso cont<strong>em</strong>plar o universo como um to<strong>do</strong> no qual as diversas realidades se<br />
relacionam segun<strong>do</strong> um princípio hierárquico, servin<strong>do</strong> cada uma delas de<br />
degrau para alcançar o nível superior e assim realizar a ord<strong>em</strong> perfeita. O<br />
<strong>probl<strong>em</strong>a</strong> é que o hom<strong>em</strong>, enquanto movi<strong>do</strong> por suas paixões, não alcança a<br />
compreensão desse to<strong>do</strong>, da criação no seu conjunto. Com efeito, prisioneiros<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sensível, somos propensos a ver as coisas apenas no seu valor<br />
material, ignoran<strong>do</strong> que o mun<strong>do</strong> sensível é apenas uma parte <strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, Agostinho relativiza o <strong>mal</strong> natural. Não se trata de algo<br />
que, por si mesmo, torne necessariamente o hom<strong>em</strong> infeliz. Ele pode aceitar<br />
com serenidade estas situações de carência, s<strong>em</strong> perder a paz e a esperança,<br />
na medida <strong>em</strong> que compreende que a verdadeira felicidade <strong>do</strong> ser humano não<br />
está na posse <strong>do</strong>s bens materiais, mas <strong>em</strong> agir livr<strong>em</strong>ente de acor<strong>do</strong> com a<br />
ord<strong>em</strong> racional e assim realizar-se na adesão à verdade e ao b<strong>em</strong>.<br />
Portanto, mesmo carente de bens materiais, o hom<strong>em</strong> pode alcançar a<br />
paz. Antes, as provações da vida e as privações de bens sensíveis pod<strong>em</strong> ser<br />
ocasião para a conversão aos bens verdadeiros. As situações de sofrimento a<br />
que somos submeti<strong>do</strong>s adquir<strong>em</strong> um caráter medicinal no plano da providência<br />
divina, enquanto pod<strong>em</strong> ser vividas positivamente como processo de<br />
purificação <strong>do</strong> desejo e <strong>do</strong> amor, que se orienta progressivamente para os bens<br />
<strong>do</strong> espírito. Esta visão de conjunto mostra que mesmo os limites das criaturas<br />
concorr<strong>em</strong> no plano divino para o b<strong>em</strong> <strong>do</strong>s seres humanos. Neste contexto,<br />
Agostinho radicaliza a sua posição apelan<strong>do</strong> para a concepção cristã da<br />
salvação, ou seja, para a promessa de uma eternidade feliz na comunhão com<br />
Deus, s<strong>em</strong> comparação com os <strong>mal</strong>es desta vida.<br />
Em última análise, portanto, o <strong>mal</strong> natural é imputa<strong>do</strong> inteiramente à<br />
desord<strong>em</strong> moral <strong>do</strong> ser humano, seja quan<strong>do</strong> o provoca diretamente por suas<br />
ações desordenadas, seja enquanto não compreende que a perda de bens<br />
sensíveis não o afeta no seu ser verdadeiro e, por conseguinte, não o impede<br />
de viver <strong>em</strong> paz.<br />
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