102sobre os resultados da utilização conjunta de tais práticas em termos dodesempenho das firmas.Quanto aos impactos dos programas de treinamento, os resultados de umdos <strong>trabalho</strong>s compilados por Kling (1995, p. 30) são muito sugestivos. Tal estudofoi realizado com base em uma amostra de 155 firmas industriais, tendo sidoanalisados os impactos de programas de treinamento formal. Nesse sentido,constatou-se que aquelas firmas que desenvolveram, após 1983, um programade treinamento de sua força de <strong>trabalho</strong> evidenciaram, em média, um aumento19% superior na produtividade, nos três anos seguintes, do que aquelas firmasque não o fizeram.No que se refere às políticas de remuneração contidas nas novas práticasde emprego, Kling (1995, p. 30) apresenta resultados de algumas pesquisassobre participação nos lucros e crescimento da produtividade. De acordo com aevidência por ele resumida de uma resenha de 26 estudos, 57% destesapresentaram uma correlação positiva e significativa entre a participação noslucros e o crescimento da produtividade; por outro lado, um outro estudo com112 firmas industriais sobre uma variante de participação nos resultados, opagamento de bônus em face dos ganhos de produtividade, evidenciou que astaxas de defeitos e de downtime dos equipamentos se reduziram em 23% apóssua adoção.Por sua vez, no que diz respeito à relação entre participação dostrabalhadores nas decisões no local de <strong>trabalho</strong> e aspectos atinentes àperformance das firmas, os resultados dos <strong>trabalho</strong>s compilados por Kling (1995,p. 32) são também expressivos. Dessa forma, dos 29 estudos por ele analisados,a participação dos trabalhadores — envolvendo círculos de qualidade, <strong>trabalho</strong>em equipe e conselhos de <strong>trabalho</strong> — evidenciou, em 14 deles, resultadospositivos sobre a produtividade; dois apresentaram resultados negativos; e os13 restantes mostraram-se inconclusivos. Segundo relata Kling (1995, p. 32),os resultados das pesquisas também estariam a sugerir que os efeitos daparticipação no local de <strong>trabalho</strong> são mais significativos e de maior duraçãoquando envolvem decisões atinentes ao chão-de-fábrica e de natureza maissubstantiva, o mesmo não acontecendo quando se tratam de arranjos deorientação mais consultiva e informativa, como os círculos de controle de qualidade(CCQ).Nesses termos, um exemplo interessante dos efeitos da descentralizaçãona tomada de decisões sobre a melhoria na performance é o de um estudosobre a reorganização do <strong>trabalho</strong> com o uso de máquinas-ferramenta com CNC(Kling, 1995, p. 32). Nesse estudo de caso realizado em 1991, envolvendo umaamostra de 550 firmas industriais, foi demonstrado que o tempo de fabricação(machining time) por unidade de produto se reduziu sensivelmente quando os
103trabalhadores do chão-de-fábrica passaram a elaborar os programas de controlepor eles utilizados. Assim, a transferência de responsabilidades mostrou umarelação positiva com o aumento da produtividade.Como se chamou atenção anteriormente, o <strong>trabalho</strong> de Kling (1995) destacaa importância de que as novas práticas de emprego sejam incorporadas de umaforma sistêmica por parte das firmas, para que destas se obtenham metas maissignificativas em termos de aumento da produtividade e da <strong>competitividade</strong>. Tendopor referência essa premissa, Kling (1995, p. 32-35) recolheu evidências depesquisas sobre a adoção de work systems em alguns ramos industriais nosEstados Unidos. Por exemplo, em um estudo sobre novas práticas de empregona indústria do aço norte-americana, constatou-se que eram reduzidos os efeitospositivos sobre a produtividade de iniciativas isoladas quando se comparavamambientes com ou sem inovações em termos de treinamento, remuneração eparticipação nas decisões. Nessa indústria, consistentemente com o acimasugerido, os resultados mais substantivos referentes ao crescimento daprodutividade foram obtidos quando da utilização das novas práticas como umconjunto coerente e complementar de iniciativas; nesses termos, uma pesquisaevidenciou que um sistema de compromisso entre firmas e trabalhadores estavarelacionado a um tempo de <strong>trabalho</strong> por tonelada de aço 12% inferior, em média,ao de um sistema convencional de controle da força de <strong>trabalho</strong>. Por sua vez,conforme outro estudo, práticas de emprego não convencionais na indústria decomponentes norte-americana estavam relacionadas, em média, com 75%menos horas de <strong>trabalho</strong> perdidas (scrap), 42% menos defeitos por trabalhadore produtividade 17% mais elevada. 5Essa compreensão de que a adoção das novas práticas de emprego requerum desenvolvimento conjunto também transparece no <strong>trabalho</strong> de Marsden (1996,p. 43; 44). Assim, ao revisitar um estudo publicado em 1992, baseado nas 1.000maiores companhias do ranking da Fortune, Marsden constatou que um grandenúmero de firmas que haviam incorporado alguma prática derivada da TQM eramtambém usuárias de formas de envolvimento dos trabalhadores, o que lhe sugeriuque as firmas vinham adotando um conjunto coerente de iniciativas (ainda que5Esta linha de análise, argüindo que o impacto das mudanças nas práticas de emprego sobrea performance está condicionado por um tratamento orgânico (ou sistêmico) das novasformas de organização e gestão do <strong>trabalho</strong>, é também desenvolvida por Macduffie (1995).Ainda que seu estudo não trate especificamente da indústria norte-americana, os resultadosde sua pesquisa, realizada em 1989-90, com base em 62 plantas da indústria automobilísticalocalizadas em diversos países — das quais, 18 nos EUA —, vão no sentido deconfirmar a hipótese de que esse tipo de tratamento das novas práticas de emprego temresultados mais substanciais sobre a performance.
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