94a incorporação do progresso técnico e a valorização dos recursos humanos,com possíveis reflexos positivos sobre o crescimento da produtividade e do nívelde bem-estar da população (Fajnzylber, 1988; Sengenberger; Wilkinson, 1995).Diferentemente, o processo de globalização pode também ser um estímulo àadoção de ajustes estruturais de caráter estritamente defensivo, nos quais seprivilegiam as vantagens competitivas decorrentes de um menor nível do custodo <strong>trabalho</strong> obtido através da desregulamentação, da revogação da legislaçãosocial de proteção ao <strong>trabalho</strong> e da redução dos salários reais.Mas quais são, em suma, os novos elementos contidos nas práticas deemprego observadas nos Estados Unidos? Em que medida representam rupturacom as práticas de emprego que estavam presentes no regime de acumulaçãofordista? Como contribuem para a eficiência produtiva? O que será feito a seguiré uma tentativa de sintetizar as principais tendências observadas na economianorte-americana ao longo das décadas de 80 e 90. Pela importância inegáveldessa nação, a partir do seu estudo podem-se extrair ensinamentos relevantesem termos de estratégias para a obtenção da eficiência produtiva associadas àspráticas de emprego, cujos desdobramentos, no que se refere à <strong>competitividade</strong>e à equidade social, são também da maior relevância.Inicialmente, cabe destacar que as práticas de emprego nos EUA, desde ofinal da década de 70, estiveram sob o contexto adverso de uma políticaeconômica de orientação conservadora, o que criou um ambiente desfavorávelpara iniciativas mais ousadas ao longo de toda a década de 80. Nesses termos,é sintomático que a pesquisa sobre a <strong>competitividade</strong> da indústria norte-americanaelaborada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) tenha identificadouma conduta empresarial orientada para aspectos mais de curto prazo na buscade maiores retornos econômicos (Dertouzos; Lester; Solow, 1990). Tal condutaimplicou, de modo geral, sérias limitações às políticas de valorização dos recursoshumanos, bem como debilitou a possibilidade de se estabelecerem relaçõesmais cooperativas entre firmas e trabalhadores.Outro aspecto relevante refere-se ao fato de que, por motivos claros, aeconomia norte-americana é aquela que possui elementos mais fortementearraigados do modelo taylorista de organização e de gestão do <strong>trabalho</strong> (Gordon,1990). Em face desse aspecto, depreende-se que os obstáculos aodesenvolvimento de novas práticas de emprego encontram aí um reforço adicional.De acordo com a pesquisa desenvolvida pelo MIT,“(...) o sistema de produção em massa nos Estados Unidos era tãobem-sucedido que poucos questionavam suas suposições básicas.Entre essas suposições-chave estava a simplificação das tarefasatravés da divisão e redivisão do <strong>trabalho</strong> que partia [broke] cada umadelas em seus menores elementos. Nas firmas organizadas de acordo
com a lógica da produção em massa, os trabalhadores são tratadoscomo partes substituíveis. Por definir os postos de <strong>trabalho</strong>estreitamente e fazer cada um deles de fácil aprendizado, a indústriaamericana perseguia a flexibilidade através da intercambialidade dostrabalhadores com qualificações [skills] e experiência limitadas aoinvés do cultivo de trabalhadores multiqualificados. Os empregadospoderiam ser contratados e demitidos com a expansão e a retraçãodo ciclo de negócios sem muita perda de eficiência. O resultado foium estreitamento progressivo da responsabilidade do trabalhador e atendência para a administração tratar os trabalhadores como um custoa ser controlado, não como um ativo a ser desenvolvido” (Dertouzos;Lester; Solow, 1990, p. 83).Não obstante esses aspectos limitadores, uma série de pesquisas sugeremque estão ocorrendo mudanças nas práticas de emprego, nos Estados Unidos,cuja profundidade, abrangência e durabilidade se encontram em discussão(Kochan; Katz; Mckersie, 1989; Cappelli; Rogovsky, 1994; Osterman, 1994a;1994b; Bassi, 1995; Kling, 1995; Macduffie, 1995; Parks, 1995; Weinstein;Kochan, 1995; Castro, 1996; Marsden, 1996). Nesse sentido, uma vez mais,conforme é relatado no estudo da <strong>competitividade</strong> da indústria norte-americanaelaborado pelo MIT,“Firmas em indústrias tão diferentes quanto as de computadores eequipamentos de escritório, automóveis, aço e aeroespacial têmintroduzido políticas inovativas de recursos humanos que promovemparticipação, <strong>trabalho</strong> em equipe, confiança, flexibilidade, segurançano emprego e uma repartição do risco econômico. As companhias,ao adotarem as novas políticas, incluem algumas nas quais ossindicatos têm uma importante expressão [voice]. Um elemento-chaveda reviravolta bem sucedida da Ford foi sua decisão de envolver maisos empregados nos negócios da companhia e repartir mais informaçãocom os trabalhadores e os líderes sindicais. Em paralelo, a companhianegociava novos acordos com a United Auto Workers, que introduziramparticipação nos lucros e provisões para segurança noemprego, protegendo os postos de <strong>trabalho</strong> e rendas dos trabalhadoresseniors afetados pela mudança tecnológica, fechamento de plantas,decisões para ter o <strong>trabalho</strong> realizado em outro lugar e outras açõesde reestruturação da corporação” (Dertouzos; Lester; Solow, 1990, p.125).Segundo o estudo de Osterman (1994a), vem se desenvolvendo, nosEstados Unidos, a compreensão de que novas formas de organização do <strong>trabalho</strong>e de gestão da força de <strong>trabalho</strong> são potencialmente indutoras do crescimento95
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