118consideram nucleares são a rotatividade nos postos de <strong>trabalho</strong> e a conseqüentedesespecialização dos trabalhadores. Com base na integração de funções,tais práticas contribuíram para que se constituísse uma força de <strong>trabalho</strong>multifuncional, a qual melhor se coaduna com os processos de aprendizado ede mudança. É nesses termos que Aoki faz referência ao atributo da eficiênciadinâmica, que estaria associado às práticas japonesas de organização do <strong>trabalho</strong>.De acordo com esse autor,“A demarcação flexível dos postos de <strong>trabalho</strong> e o sistema de rotaçãode empregos ao nível da oficina podem sacrificar a eficiência estáticadisponível no sistema de especialização em um ambiente estável demercado, porém podem contribuir para a eficiência dinâmica dacoordenação horizontal, estimulando [alentando] os trabalhadores aaprenderem, o que reforçaria a capacidade do grupo de <strong>trabalho</strong>, nonível da oficina, para adaptar-se às mudanças contínuas no mercadoe a outras situações e fazer frente às emergências locais autonomamente”(Aoki, 1990a, p. 47).A esse respeito, Aoki (1990a, p. 23-24) destaca que a rotação favorece queos trabalhadores possam repartir entre si o conhecimento requerido dos diferentespostos de <strong>trabalho</strong> que ocupam. O processo de interação daí derivado permiteque o conhecimento coletivo dos trabalhadores contribua para identificarproblemas no ambiente de <strong>trabalho</strong> e para a sua solução de forma autônoma.Utilizando uma contribuição de Koike, Aoki (1994a, p. 24) recupera a idéia deque assim os trabalhadores do chão-de-fábrica obtêm “habilidades intelectuaispara fazer frente a eventos irregulares”.Estudos realizados no Japão durante os anos 70, tendo por base empíricaas indústrias de aço, ferro, química e automobilística, revelaram que a rotaçãono posto de <strong>trabalho</strong> era uma característica freqüentemente observada nos locaisde <strong>trabalho</strong> (Nakamura e Nitta, 1995, p. 334). Dentre as principais evidências aesse respeito produzidas, destacam-se os seguintes aspectos: (a) a decisãode rotação nos postos de <strong>trabalho</strong> cabia aos supervisores e líderes de grupo,não sendo o resultado de negociação coletiva com os sindicatos, nem de algumaorientação partindo do departamento de pessoal das empresas; as iniciativasde busca da rotatividade pautavam-se pelo exame das expectativas dos membrosdos grupos e não por uma atitude arbitrária da parte dos supervisores; (b) arotação nos postos de <strong>trabalho</strong> contribuía para aumentar a adaptabilidade dostrabalhadores, permitindo que estes se ajustassem, com maior flexibilidade, àsmudanças ocorridas nos locais de <strong>trabalho</strong>; e (c) a rotação nos postos de <strong>trabalho</strong>também favorecia que os trabalhadores tivessem uma compreensão maissatisfatória da maquinaria e dos equipamentos que tinham de usarquotidianamente.
119Em termos de organização do processo de <strong>trabalho</strong>, uma inovação japonesaque permitiu que se avançasse na integração de tarefas foi a linearização doprocesso de fabricação (Coriat, 1994, p. 60-71). Nesse caso, tal inovação consistiuem organizar os diferentes processos produtivos sob a forma de U, procurandoencadeá-los uns aos outros no chão-de-fábrica. Os aspectos mais importantesdessa mudança organizacional estão relacionados com a possibilidade deultrapassagem dos postos de <strong>trabalho</strong>, pois os seus contornos se tornam maisfluidos e flexíveis, viabilizando a integração de suas tarefas. Assim, observa-seuma alteração na própria divisão do <strong>trabalho</strong> no chão-de-fábrica, no sentido deque as tarefas passam a ser permanentemente partilhadas por diferentestrabalhadores.Outra inovação organizacional que encerra implicações relevantes em termosde organização do processo de <strong>trabalho</strong> e de eficiência econômica é o métodode coordenação da produção kanban (Aoki, 1990a, p. 28-35; Coriat, 1994,p. 56-58). Valendo-se de uma lógica de funcionamento semelhante à de umsupermercado, o kanban toma como referência para a produção os pedidos járecebidos pela fábrica, sendo o processo produtivo “puxado” pelo seu estágiofinal. Esse método caracteriza-se por utilizar um fluxo de informações em sentidooposto ao processo real de produção, fazendo com que cada estação de <strong>trabalho</strong>transmita à anterior as instruções de fabricação. A par desses aspectos, o queaqui cabe ressaltar é que o kanban inova, em termos de organização do <strong>trabalho</strong>,ao integrar as funções de programação, de produção e de controle de qualidadena fábrica. Nesse sentido, Coriat (1994, p. 58) avança a proposição de que"Reassociando no interior da oficina tarefas (de execução, deprogramação ou de controle de qualidade...) antes sistematicamenteseparadas pelo taylorismo, o kanban contribui para instauração, nointerior da oficina, da constituição (ou da reconstituição, se nosreferirmos às práticas pré-tayloristas de organização) de uma funçãogeral de fabricação cuja característica central é a de reagregar tarefasque, segundo as recomendações tayloristas, são cuidadosa esistematicamente separadas".Em alguma medida, essa proposição tem como base a própria lógica defuncionamento do kanban, que se fundamenta na minimização de uma série deitens relacionados com panes, defeitos, estoques, demora e papéis (Coriat,1992, p. 84-89). Assim, a minimização da pane significa não permitir o surgimentode estrangulamentos devidos, por exemplo, a paradas dos equipamentos; porsua vez, o controle de qualidade é exercido no próprio local de <strong>trabalho</strong>, com oque se busca minimizar a liberação de peças defeituosas; a minimização deestoques (ou, mais propriamente, o estoque zero) e de demora traduzem o
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