25.08.2015 Views

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

droga parece possibilitar um retorno às experiências que fazem marca no registrosensorial do sujeito. Convém ressaltar, ainda, que a referência freqüente àadrenalina que o uso proporciona, remete, exatamente, ao sentido de prazer vividono corpo, corroborando com nossa hipótese de tratar-se de uma circulação pulsionalvivida no curto circuito.Outro aspecto interessante é a busca pelo prazer inicial, ou seja, um retornoàs primeiras experiências que obteve com a droga. Com o passar do tempo, nãoconseguiam mais atingir tais efeitos, em virtude da adaptação do corpo ao tóxico;esta é a razão de procurarem substâncias com o poder intoxicante maior. Mesmoassim, os discursos demonstram um alto grau de insaciedade, dizem “usar, usar enão se satisfazem”, pois, de fato, não se trata do instinto, que quando satisfeitodeixa de demandar, mas da pulsão que permanece solicitando, através doimperativo: “tem que usar!”. Uma pulsão desenfreada que busca realização no curtocircuito, como trabalharemos adiante.Em se tratando de um entrevistado, que ingressou no uso de drogas já navida adulta, por exemplo, notamos que a instalação da dependência se dá de formagalopante, expressada pelo discurso: “Como pude viver sem isso por tanto tempo?”(Entrevistado 22). Temos a impressão de que a dependência pela droga precede ouso propriamente dito, ou seja, é como se algo sempre estivesse ali, esperandoapenas a “primeira dose” para se constituir como dependência. Ora, o que podeestar em questão fortemente na toxicomania é essa busca irrefreável de umasensação “a mais”, não alcançada em estado de consciência normal, porém, decerta forma, sempre desejável. Os entrevistados relatam não conseguirem pensarem nada; quando a vontade vem, eles se direcionam, imediatamente, para tal objetoe não há espaço para pensar, e conseqüentemente, não se abre um espaço de falapara poder manejar com essa força avassaladora. A intensidade, na procura peladroga, tem mais a ver com a experiência de prazer em si, e, por essa razão,defendemos que a “clínica da toxicomania” deve ser compreendida a partir do pontode vista econômico.O prazer no encontro com a droga é da ordem do não-dito, tanto pelaausência de processos representativos quanto pelo silêncio-tabu quenormalmente cerca este prazer. O profissional que trabalha com a questãoda droga deve primeiramente poder reconhecê-lo e escutá-lo (GURFINKEL,1995, p. 80).100

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!