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Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

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experimenta, somado ao êxtase do uso, a paranóia, o que determina a escolha delugares fechados e isolados. A esse respeito perguntamos a um dos entrevistados:“se a ‘nóia’ é tão ruim, por que continuava tendo vontade de usar?”. Ele respondejustificando: “A paranóia é ruim sim, mas, pior ainda é ficar sem sentir nada. Vale opreço de sentir a “nóia”, compensada pelo prazer do primeiro tiro” (Entrevistado 22).O crack é uma droga que entrou no mercado de consumo, especialmente,porque a princípio parecia ser mais barata 27 . Contudo, a necessidade de repetir asdoses em espaços cada vez mais curtos fez com que pessoas da classe médiapenhorassem todos os seus bens nas “bocas-de-fumo”. O crack também se insereno grupo de usuários misturado com a maconha, conhecido como “mesclado”.A “fissura” ocasionada pela falta do crack e da merla é avassaladora,considerando a rapidez de seu efeito e a necessidade de repor as doses. Alémdisso, ocorre uma drástica redução do humor e da energia, causada pela depleçãoda dopamina em nível sináptico. Além do prazer indescritível, comparado aoorgasmo, tais drogas provocam um estado de excitação, hiperatividade, insônia.Após longas horas de uso intenso e repetitivo, o usuário experimenta sensaçõesmuito desagradáveis, como cansaço e intensa depressão. O craving porestimulantes diminui de 1 a 4 horas e depois é substituído por um forte desejo dedormir (FIGLIE et al, 2004).Questionamo-nos, diversas vezes, ao longo desta pesquisa: “de que ordemé o prazer, que leva sujeitos a trocarem roupas, calçados, carros, relacionamentos,família, trabalho em busca de tal sensação?” O que ocorre no circuito pulsionaldesses sujeitos que se tornam “escravos” de determinada experiência sensível?Existe um saber em cada usuário a respeito da destruição, do arruinamentoe da derrota causada, especificamente pelo crack, contudo não é pela via daconscientização e da sensibilização que esses sujeitos conseguirão lidar com a forçaimperativa do desejo. O depoimento a seguir de um jovem que está internado emclínica de recuperação indica alguns sinais desse processo: “Eu ainda vivo com ocrack impregnado na minha mente, no meu corpo. Eu sou o meu maior risco. Fiqueium mês limpo. Depois, o fisiológico falou mais alto. Sempre fala”. 28 . Nesse sentido,27 Era a droga usava pelas classes menos favorecidas nos Estados Unidos.28 Relato obtido da matéria no Jornal do Comércio – Especial Epidemia do Tráfico. Publicada em 18/06/2007.59

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