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Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

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corresponde à teorização freudiana a respeito do pré-prazer ou “prazer de órgão”,exposto no capítulo anterior. Reforçando o que já foi dito, compreendemos que oprazer de órgão diz respeito ao prazer imediato a partir de uma zona onde há tensãoe descarga, cuja satisfação deve ser obtida com imediaticidade. Trata-se de umprazer direto, irrestrito, que não passa por um processo de adiamento ou elaboraçãode suas representações. Os depoimentos colhidos das entrevistas corroboram ahipótese de Gurfinkel, senão vejamos:É como se eu sentisse uma pressão na cabeça, tipo um esmagamento e,também, um pensamento fixo, que fica a todo instante dizendo que eu tenhoque agir. Fica falando assim: ‘Vai, usa, que se fôda’. E, junto com isso, ummal-estar. É como uma bola que vai enchendo e parece que vai estourar.Antes do tratamento, a bola parece que era menor, enchia um pouco e jáestourava, mas depois fica mais tempo. E foi nesse momento queescureceu minha visão e eu tive que ir usar. No momento que estou meaproximando, a ansiedade aumenta e a angústia também, mas quando dá aprimeira fumada, aquela fumaça entra e você segura e é puro prazer.Segurar a fumaça é como aquele prazer antes do orgasmo, você ficasentido e de repente vem o gozo. A sensação do crack parece muito comgozo, a diferença é que não satisfaz, você fica querendo outra e outrapedra, não consegue parar. Depois que usa, aquela pressão na cabeçaalivia. Aí vem muita angústia, também. Eu sentia que meu rosto estavadesfigurado, uma angústia que você faz até careta. No final, eu já nemsegurava a fumaça muito tempo, pois eu pensava assim: “Se eu segurar pormuito tempo vai fazer mais mal e conseqüentemente, vou ter menos tempopara usar. Como quero usar muito ainda, vou tentar me preservar 48 (Relatode paciente, grifo nosso).“A sensação do crack parece muito com gozo, a diferença é que nãosatisfaz, você fica querendo outra e outra pedra, não consegue parar”! Tal discursomerece destaque, pois oferece um importante sinalizador a nossas articulaçõesseguintes. Sabemos, a partir de Freud, que a tendência do sujeito é encontrar,dentre outras coisas, o alívio por meio de uma ação motora que reduza o nível deestimulação; porém, na toxicomania o alívio só é possível quando o sujeito se vêdiante da oportunidade de potencializar seu corpo com o tóxico, ou seja, asubstância proporciona alívio e bem estar e leva o corpo do usuário para níveis deexcitação ainda maiores, dado o forte estímulo proporcionado pelo efeito químico.Podemos comparar tal funcionamento ao das “excitações preliminares”, como Freud(1905) nos apresenta nos Três Ensaios para uma teoria da Sexualidade:48 Não se trata de um discurso coletado nas entrevistas, mas fora explicitado por um paciente da clínica onde apesquisadora trabalhou.103

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