Não, começou ir acontecendo a recaída, primeiro foi a separação do meucasamento, depois que eu me separei, eu comecei a trabalhar numa outra cidade,de Maringá fui pra Franca vender couro, né? Aí lá eu comecei a parar de ir na igreja,parar de freqüentar igreja, né? Comecei a sair pra balada, sair pra noite, então, umacoisa que eu não fazia há muito anos, aí eu já comecei ir e de repente eu tavabebendo demais, de repente eu tava cheirando pó..., e, quando eu fui ver, eu tavafumando pedra, né. Até depois que eu caia uns 15, 20 dias..., eu parava e tentavame reerguer, entendeu? Eu acha que eu conseguia, aí fica 15, 20 dias sem usardroga de novo e quando acontecia era aquele... monte, então eu tentava mereerguer e não conseguia. Aí de uns dois anos pra cá eu caí mesmo na droga, perdium casamento, 6 meses de casado, perdi um emprego, quer dizer, quando eu vi queperdi tudo, tudo materialmente, não minha vida, que eu vi realmente que euprecisava me tratar. Eu já tava sem esperança, eu queria me matar, eu queriaacabar com minha vida... Eu tinha perdido tudo, materialmente falando, entãonaquela época, meu valor era esse, quer dizer, bem material, quando eu vi que tinhaperdido tudo isso, a mulher que eu amava, a minha empresa, carro, perdi tudo... Aíeu vi que precisava realmente de tratamento. Foi uma coisa que pra “mim” me tratareu tinha que perder tudo, senão..., eu ia continuar do jeito que eu tava.Com a tua experiência, o que você acha que faz alguém ser dependentequímico?O que faz alguém ser dependente químico. É difícil a gente falar o que faz, mas euacho que o que fez eu ser dependente assim... Começou numa curiosidade, mas euacho que dentro de mim já havia uma coisa, uma doença, dentro de mim eu já sentiafalta de muitas coisas e eu pensei que preenchia com as drogas, né? Falta, falta deamor que eu senti, eu senti falta de carinho, eu senti falta da presença do meu pai.Não quero dizer que seja esse o motivo, mas..., às vezes, eu fico pensando, seráque não foi esse o motivo, sabe, a ausência foi grande, né, e eu fui buscar na ruaisso, o carinho do meu pai. A minha mãe é uma pessoa que me ama demais, só queela não sabe fazer carinho, hoje eu sei viver com isso, naquele tempo ela não sabiafazer carinho, ela dava um presente, fazia alguma coisa pra mim, entendeu?Naquele tempo eu queria carinho, né, eu queria um abraço, um beijo, naquele tempoera isso que eu queria, “cê” entendeu? Eu sinto que faltava muitas coisas para mim,assim, no meu coração, sabe? Não era bens materiais, às vezes, um carinho valia235
mais do que tudo que ela tinha feito por mim. Então, pra mim, eu sentia muita faltade carinho, não tinha carinho. Mas hoje eu sei viver sem isso...Você consegue identificar coisas na sua infância, na sua adolescência quevocê fazia, antes do uso de drogas, para tentar suprir isso, pra tentar dar contadisso?Coisas que eu fazia? Meu pai me largou quando eu tinha 1 ano de idade, separouda gente, minha mãe teve que ser nosso..., nosso braço direito é minha mãe.Morava eu, minha mãe, minha avó e duas irmãs. Então, quer dizer, ela saia paratrabalhar, ela trabalhava na faculdade, uma faculdade de direito aqui em Prudente,aí..., ela saia para trabalhar, quer dizer, eu ficava em casa, então, as coisas que euprocurava era amizade na rua, é... , brincar com meus amigos, a coisa que mais mepreenchia era brincar na rua, não ficava dentro de casa, procurava me divertir narua..., brincar com meus amigos, é..., eu procurava nos meus amigos para preencherisso.Que tipo de brincadeira?Que nós brincávamos? Ah, eu cheguei brincar de quase tudo, até de amarelinha,esconde-esconde, salvo, nós brincávamos. Nós brincávamos de roubar pão, tinha ospadeiros, em Prudente, que eles entregavam, de carroça, o pão na casa dos outros,aí, a gente começou roubar “esses pão” pra gente comer e dar risada do que agente fez, às vezes era quebrar telefone, orelhão. Fazia sempre alguma coisa, nósacabávamos fazendo...Já existiam algumas brincadeiras que te davam adrenalina, né?Dava. Quebrar, tacar alguma coisa na varanda, mexer com as pessoas e saircorrendo, dava essa sensação de..., de algo diferente, de algo errado, de algo que...,preenchia também. Tinha a sensação de correr, a mulher gritar com a gente, quererpegar a gente, a sensação de medo, né? É a sensação que a droga dá também,sensação de coisa boa, mas ao mesmo tempo a sensação de medo também..., deacontecer alguma coisa errada.E agora, como é se ver sem droga, novamente?É..., viver sem droga, eu tô vendo que é fácil, né, mais difícil são minhas atitudes, émeu jeito de ser..., tem muitas coisas que eu tenho que mudar, eu tô aqui há 9meses e hoje eu cheguei a conclusão que tem muita coisa na minha vida pra mudar,236
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