25.08.2015 Views

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

Isabela Arteiro_dissert.pdf - Unicap

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Pensar a toxicomania como um funcionamento regido, exclusivamente, peloprincípio do prazer, à primeira vista, coloca-nos diante da ausência darepresentação, ou seja, o não-pensamento leva o sujeito estritamente ao ato.Todavia, Aulagnier (1985) nos alerta para o cuidado que devemos ter com relação àpolaridade prazer – realidade, já que entre tais extremidades existem variações quenão podem ser desconsideradas. Em consonância com tal pensamento, Gurfinkel(1995, p. 93) nos propõe alguns questionamentos: “até que ponto a descargaadictiva é apenas uma forma de descarga de excitação que se opõe à atividaderepresentativa, ou até que ponto a droga é um instrumento na criação de neorealidade”?Na tentativa de encontrar respostas para seus questionamentos, o autorrecorre à concepção de que o prazer, a princípio, é uma necessidade humana, antesde se tornar um “a mais”, visto que existe um prazer mínimo, cuja realização é acondição da vida. Além disso, considera que o princípio do prazer não implica naausência da atividade de representação, no sentido que o prazer não é apenas um“luxo”, como foi dito, há um prazer mínimo necessário à sobrevivência. Contudo, anosso ver, mesmo sabendo que a busca pelo prazer é intrínseca à condiçãohumana, o que nos parece específico na toxicomania é a fixação em um únicoobjeto, não diluindo para outras vias de obtenção de satisfação, e, além disso, aimpossibilidade de sair do funcionamento regido pelo processo primário e avançarpara um plano representacional, denunciado pelo tipo de discurso que apresentamos toxicômanos: mais imagéticos e de apresentação, de descrição da sensação doque de representação do vivido.A satisfação proporcionada pela droga coincide com a concepção da Lustapresentada por Hanns (1999), uma vez que o prazer está na fronteira entre adisposição (vontade) e o prazer antecipatório – as sensações que começam abrotar. O estado de “tensão prazerosa” em Lust salienta a sensação a partir de umórgão do corpo, visando à atividade e não o objeto. Tal compreensão nos conduz àidéia de que a dependência da droga tem mais a ver com a sensação e os efeitosque ela produz do que com o objeto em si. É, sobretudo, nisso que reside aoriginalidade dessa articulação. Noutras palavras, o toxicômano se liga à experiênciasensorial que obtém através dos efeitos do objeto-droga. Conforme observa Chaves& Rocha (2007, p. 08):101

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!